Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou a criação da Comissão de Saúde e Espiritualidade, que terá a missão de estudar como a prática da fé pode influenciar positivamente a saúde dos pacientes (Foto: Ilustrativa)
Em um país onde a fé é parte viva da cultura e da identidade do povo, a medicina começa a voltar seu olhar com mais atenção para a espiritualidade. O Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou a criação da Comissão de Saúde e Espiritualidade, que terá a missão de estudar como a prática da fé pode influenciar positivamente a saúde dos pacientes — tanto na prevenção de doenças quanto na recuperação clínica.
A Comissão foi criada em março, mas o assunto teve pouca repercussão na mídia, principalmente se considerando que a maior parte da população brasileira é cristã. A comissão será formada por pesquisadores, médicos e estudiosos com publicações na área, que irão avaliar evidências científicas já existentes e propor novos estudos.
A decisão marca um importante passo dentro da comunidade médica brasileira, que passa a reconhecer, com mais seriedade, algo que milhões de brasileiros já sabem pela vivência: a fé pode transformar o curso de uma enfermidade.
Segundo a médica Rosylane Rocha, conselheira do CFM e coordenadora da nova comissão, a proposta não é tratar a espiritualidade como substituta dos tratamentos convencionais, mas compreendê-la como uma aliada no cuidado com o ser humano de forma integral.
“A gente sabe que a própria OMS já reconhece o papel da espiritualidade dentro do conceito ampliado de saúde, que inclui o bem-estar físico, mental, social e espiritual. A ideia é entender, com base na literatura científica, como a fé pode atuar na recuperação e na prevenção de doenças, para orientar melhor os médicos sobre isso”, afirmou Rosylane em entrevista à Rádio Nacional.
A presença da espiritualidade nos cuidados em saúde não é nova. Diversos estudos internacionais apontam que pessoas com fé ativa tendem a lidar melhor com momentos de dor, enfrentar doenças com mais resiliência e até apresentar recuperação mais rápida. O médico e neuropsicólogo Jordan Grafman, da Universidade Northwestern (EUA), afirmou recentemente em artigo publicado na revista Nature que compreender os mecanismos cerebrais relacionados à espiritualidade é essencial para entender a mente humana — e pode ajudar a tratar condições como a dor crônica e o vício.
No Brasil, o pneumologista Blancard Torres, professor da Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro *Doença, Fé e Esperança*, também defende que a espiritualidade tem impacto direto na saúde, influenciando a liberação de neurotransmissores e ajudando a equilibrar o funcionamento do organismo. Ele reforça que essa prática deve ser constante: “A espiritualidade não age de forma mágica ou repentina. É preciso cultivá-la no dia a dia. Se você tem fé, vai reagir de forma diferente diante das dificuldades.”
A proposta da nova comissão é justamente reunir esse conhecimento, muitas vezes disperso, e consolidá-lo sob uma base técnica e científica que permita orientar os médicos de todo o país. Para o segundo semestre deste ano, já está previsto um fórum com pesquisadores e especialistas para aprofundar o debate.
Em um Brasil majoritariamente cristão, onde a fé é alimento diário para milhões de pessoas, esse movimento do CFM representa uma abertura para algo maior: reconhecer que o ser humano é corpo, mente e espírito — e que cuidar da saúde também passa por olhar para o invisível, onde mora a esperança.
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