Pode parecer exagero, mas os fatos desenham um Brasil em semianomia. Explicando melhor, não é que haja vácuo de poder absoluto, desordem plena, como previsto, a rigor, na compreensão sociológica do termo. Mas, a disputa radicalizada pelo controle do Estado, potencializada pela crise econômica e sanitária, pela excessiva judicialização da política e politização do Judiciário, tem causado muita instabilidade institucional, choque de autoridade, quebra de hierarquia, abusos, mando e desmando. A sociedade fica sem saber em quem acreditar e seguir.

FALSO

Sempre obtusa, a extrema direita acredita piamente que a prisão de Lula zera o processo eleitoral, coloca todos os presidenciáveis praticamente no mesmo nível e aí fica mais fácil manobrar em favor do candidato do golpismo em melhor condição de disputa. Não é bem assim. As pesquisas demonstram que mesmo inabilitado, preso ou morto, Lula é decisivo na corrida presidencial. Quem ele apoiar tem tudo para vencer. O ex-presidente revela uma capacidade de transferência de voto de até 40%. Índice nunca registrado.

ANTI POVO

Apesar de, como era esperado, o Superior Tribunal de Justiça ter negado o pedido de habeas corpus preventivo, em todo o Nordeste e em boa parte do Norte e Centro-Oeste Lula chega a ter até três vezes mais preferência de intenção de votos do que qualquer outro presidenciável. Alckmin continua inexpressivo e Bolsonaro tem aprovação pífia. Entre os resultados das pesquisas e as decisões de Moro, TRF4 e agora STJ, a comprovação do caráter oligárquico e aristocrático da Justiça brasileira.

PELA DEMOCRACIA

Uma tomada de posição baseada na Constituição, a fim de barrar o casuísmo da prisão em segunda instância, inventado pelos defensores do Estado policialesco justamente para fortalecer o golpismo e facilitar a perseguição política a Lula, melhoraria um pouco a imagem, hoje bastante desgastada, do Supremo Tribunal Federal perante a nação. Muito mais do que omisso, o STF tem sido conivente com arranjos golpistas que sacrificam a democracia e ferem o Estado de direito.

ABUSIVA

Liberal, antipetista radical, o jornalista Reinaldo Azevedo desmascara a farsa da ação da PF na casa de Jaques Wagner e denuncia a atuação cada vez mais abusiva e politizada do Ministério Público. Ele lembra que a obra da Arena Fonte Nova custou R$ 680 milhões e o MP acusa o ex-governador de ter recebido propina de R$ 450 milhões. São 66% do valor total. Os fatos, por si só, desmoralizam a operação.

À ALTURA

Quem cumpre a Constituição não precisa ter medo da Comissão da Verdade. Foi a resposta, vale destacar, à altura, do advogado Antônio Carlos Almeida Castro, Kakay, ao comandante do Exército. General Eduardo Villas Boas afirmou, equivocadamente, que "os militares precisam ter a garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade".