Vitorio Sorotiuk, que preside a Representação Central Ucraniano-Brasileira, não esconde a decepção com a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) relacionada à investida das tropas russas ao território ucraniano.
Segundo ele, o presidente brasileiro insultou publicamente o mandatário ucraniano Volodimir Zelensky e desrespeitou o país do leste europeu ao recusar um convite de visita antes da invasão, já que esteve na Rússia em uma agenda com o presidente Vladimir Putin.
O encontro com o russo ocorreu no dia 16 de fevereiro, uma semana antes do início do conflito armado. Com o auxílio de um tradutor, Bolsonaro disse ser "solidário à Rússia" sem citar a tensão às vésperas do conflito armado, seguindo orientação do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Antes de chegar a Moscou, diplomatas norte-americanos tentaram pressionar o governo a cancelar a visita.
Em entrevista ao UOL, Sorotiuk criticou a recusa de Bolsonaro de fazer uma visita também à Ucrânia, em convite informado por Zelensky em uma reunião virtual com mais de 30 representantes de entidades ucranianas espalhadas pelo mundo, ocorrida em dezembro de 2021.
A mensagem foi repassada pela Representação Central Ucraniano-Brasileira em carta protocolada no dia 30 de janeiro e encaminhada diretamente à Presidência da República.
Nesta reunião ele [Zelensky] nos informou que já fez um convite para que Vossa Excelência visitasse a Ucrânia (...). Que Vossa Excelência aproveite a viagem a Moscou para também visitar o presidente Volodimir Zelensky em Kiev (...). Gostaríamos de expressar que o conflito na fronteira da Ucrânia com a Rússia é também assunto do
Brasil"Trecho de carta da Representação Ucraniano-Brasileira a Bolsonaro
"Milhares de brasileiros (...) têm suas vidas afetadas (...) temendo pela vida de seus ancestrais e parentes", complementou, citando a ligação entre os dois países, já que há mais de 600 mil descendentes de ucranianos no Brasil, segundo a entidade.
Não houve resposta ao convite. Em entrevista coletiva de imprensa no dia 27 de fevereiro em São Paulo, Bolsonaro zombou do passado de comediante de Zelensky em meio ao conflito. "O povo [ucraniano] confiou num comediante o destino de uma nação. Ele [Zelensky] tem que ter equilíbrio para tratar dessa situação aí", disse.
O Bolsonaro ofendeu o presidente da Ucrânia e virou as costas para a gente. Ele apenas decidiu ir à Rússia e oferecer solidariedade ao Putin antes da invasão. Depois, disse que a posição era de neutralidade quando o segundo maior exército do mundo ataca um país pequeno. Espero que ele se comporte como presidente do Brasil, e não como Jair Bolsonaro"Vitorio Sorotiuk, presidente da Representação Ucraniano-Brasileira
O UOL entrou em contato com a assessoria da Presidência da República e do Itamaraty para que se pronunciassem sobre o caso. Contudo, não houve resposta até o fechamento da reportagem.
Na semana passada, a entidade lançou o Comitê Humanitas Ukraine Brasil para coordenar ações de ajuda humanitária no país. O órgão ainda busca apoio junto a senadores e deputados federais para que o Brasil receba refugiados da guerra na Ucrânia.
Voluntários gastam até R$ 7 mil para ir à guerra
Mesmo sem apoio do governo brasileiro, cerca de 500 voluntários estão interessados em se alistar junto à Legião Internacional de Defesa do Território para atuar ao lado do exército ucraniano. Mais de cem pessoas formalizaram contato junto à Embaixada da Ucrânia no Brasil.
Entre passagens aéreas e documentação, os custos são de até R$ 7 mil com recursos próprios de pessoas que se dizem dispostas a morrer para defender o povo ucraniano, segundo informou reportagem do UOL.
Um voluntário brasileiro tem registrado a sua participação de apoio às forças ucranianas em meio ao conflito com as tropas russas na capital Kiev.
O vídeo começa com o disparo de uma sirene, acionada na capital Kiev quando há bombas. É possível ver um voluntário armado descendo uma escada. Outros dois homens caminham à frente.
"A situação aqui realmente está bem tensa. Estamos ajudando os civis. Tem muita gente aqui tentando buscar abrigo".
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