Além dos transtornos mentais, os acidentes de trabalho também se mantêm em patamares alarmantes (Foto: Freepik)
País registrou mais de 470 mil afastamentos por transtornos mentais em 2024; número cresceu 68% em relação ao ano anterior
De acordo com o presidente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Pedro Tourinho, o Brasil enfrenta uma verdadeira “epidemia de adoecimento mental” no ambiente de trabalho. O alerta foi tema de uma entrevista do especialista ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato, na última segunda-feira (28), Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho.
De janeiro a dezembro de 2024, o país registrou 472.328 afastamentos relacionados a transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Os dados são do Ministério da Previdência Social e foram compilados pela Fundacentro. O número representa um salto de 68% em relação a 2023, evidenciando o agravamento de uma crise que já vinha em curso.
“O trabalho, hoje, adoece. A pressão que massacra o trabalhador está relacionada a metas irreais, falta de clareza nas tarefas, relações de assédio frequentes e jornadas exaustivas”, disse Tourinho. Para ele, repensar o modelo da jornada 6 x 1 — seis dias de trabalho para um de descanso — “é uma das discussões mais importantes do país neste momento”.
Além dos transtornos mentais, os acidentes de trabalho também se mantêm em patamares alarmantes. Em 2024, foram 724.228 registros, sendo 74,3% classificados como acidentes típicos, 24,6% de trajeto e 1% relacionados a doenças ocupacionais. Ainda segundo Tourinho, a subnotificação e o crescimento da informalidade podem esconder uma realidade ainda mais grave.
"Fruto de escolhas políticas"
Na entrevista, o presidente da Fundacentro foi categórico ao apontar responsabilidades pela deterioração das condições de trabalho no país. “Essa crise não é acidental. Ela é fruto de escolhas políticas”, afirmou, referindo-se aos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). “Durante esses anos, houve um ataque sistemático às normas de saúde e segurança do trabalho. A agenda de proteção ao trabalhador foi desmontada.”
Para ele, o enfraquecimento das estruturas de fiscalização e o sucateamento de órgãos públicos favoreceram a disseminação de práticas abusivas e ambientes que negligenciam o bem-estar físico e emocional dos trabalhadores.
Mudanças climáticas aumentam riscos
Outro fator emergente, segundo Tourinho, é o impacto das mudanças climáticas nas condições de trabalho. Com o aumento das temperaturas, trabalhadores expostos ao sol, como os do agronegócio e da construção civil, enfrentam riscos ampliados. “O Brasil já registrava adoecimentos e mortes por exaustão em lavouras de cana. Agora, esse cenário tende a se estender a outros contextos de trabalho ao ar livre, inclusive urbanos”, alertou.
Reconstrução e futuro
Depois de mais de uma década sem concursos, a Fundacentro comemorou recentemente a autorização para a contratação de **65 novos servidores**. Segundo Tourinho, a medida representa “um gesto claro do governo federal no sentido de reconstruir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável no país”.
Para ele, garantir condições dignas de trabalho é uma luta central por justiça social. “O trabalho é onde realizamos nossos sonhos, mas também pode ser espaço de sofrimento, silêncio, submissão e violência. Por isso, é fundamental cuidar da saúde e da segurança nos ambientes laborais.”, sentenciou.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|