Alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal, Carla Zambelli (PL-SP) tem no oportunismo a característica mais marcante de sua trajetória de vida e, mais recentemente, de sua carreira política.
Alçada às hostes da extrema direita fascista com o advento do bolsonarismo, após breve "ativismo" sextremista no grupo Femen ao lado de Sara "Winter" Geromini, Zambelli ganhou notoriedade na política ao fundar o movimento Nas Ruas durante o processo que culminou no golpe contra Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o Brasil.
No entanto, as investigações da Polícia Federal (PF) e os processos no Conselho de Ética da Câmara podem colocar um fim à carreira política da paulista de 43 anos nascida na interiorana Ribeirão Preto.
O mesmo oportunismo que a levou a se enfileirar nas tropas de comando quando Bolsonaro se tornou presidente fez com que a deputada procurasse Walter Delgatti Neto, "hacker de Araraquara" que tornou pública a tramoia lavajatista e, em parte, permitiu que se provasse o lawfare contra Lula.
Zambelli pressentia que o capitão seria derrotado por Lula nas eleições em 2022. E, de forma oportunista, buscou em Delgatti uma estratégia a fim de provar a propalada mentira do então presidente sobre a fraude no sistema eleitoral.
Delgatti, que dias antes reclamaria da falta de dinheiro e de trabalho em entrevista a esta Fórum, topou a empreitada. A Bolsonaro, prometeu o que não podia entregar: a invasão das urnas eletrônicas.
Ao oportunismo de Carla Zambelli se juntava a esperteza de Bolsonaro. Só que os dois não contavam com o blefe de Delgatti, que, após voltar para a prisão em junho por violar medidas judiciais, resolveu entregar detalhes do "golpe tabajara" arquitetado pelos extremistas.
Negociando delação premiada, o hacker de Araraquara teria, segundo seu advogado Ariovaldo Moreira, uma coleção de provas contra Zambelli e Bolsonaro.
Por tantas vezes eu andei mentindo...
Desesperada e isolada até mesmo por parlamentares de seu partido, Carla Zambelli adotou um tom melancólico ao falar da operação da PF que realizou busca e apreensão em seu gabinete e apartamento funcional.
Disse ter tido "poucos encontros" com Delgatti e que o contratou por solidariedade para fazer a ligação de seu site com as redes sociais – algo que qualquer estagiário de informática faz e que o hacker não teria conseguido fazer.
A deputada ainda declarou que "não faria piada de mau gosto com Moraes", sobre o objeto da ação da PF: a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir o falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assinado com o "publique-se, intime-se e faz o L". O deboche, segundo Delgatti, seria obra da bolsonarista, que teria encomendado a "brincadeira".
"Eu pagaria R$ 3 mil para se arriscar dessa forma para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi só uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria", disparou.
Zambelli ainda negou que tenha "tirado da caixa" um celular novo para fazer a intermediação da conversa em que Bolsonaro teria dado a Delgatti uma segunda missão – após o hacker falhar na invasão das urnas eletrônicas.
"A partir dali não houve mais qualquer contato com o presidente Bolsonaro. É mentira o que disseram a respeito do telefone, que coloquei um chip novo e etc. Nunca fiz isso e nunca liguei para o presidente Bolsonaro para falar sobre qualquer assunto relacionado a isso", afirmou a deputada, já em um misto de desespero e irritação.
Nunca mais quero ver você me olhar...
Na entrevista, Zambelli afirmou ainda que "Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com isso", recebendo a solidariedade do filho "01" do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no dia seguinte.
Bolsonaro, no entanto, tenta se afastar da ex-aliada radical e mandou recado, por meio de interlocutores, dizendo que não fala com a deputada desde janeiro.
Na verdade, a mágoa de Bolsonaro vem de antes. O ex-presidente já teria dito a pessoas próximas que a perseguição armada de Zambelli contra um jornalista negro na véspera da eleição teria sido crucial para sua derrota nas urnas.
No entanto, o episódio envolvendo Delgatti abre uma nova perspectiva e faz a amarração em uma outra estratégia atabalhoada de desencadear o golpe tabajara.
Na conversa com Bolsonaro por meio do celular "tirado da caixa" por Zambelli, Delgatti teria recebido a nova missão de Bolsonaro: assumir uma gravação clandestina que ele teria do ministro Alexandre de Moraes.
Uma gravação que nunca foi ouvida pelo hacker, mas que pode estar relacionada com a narrativa de golpe relatada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) e por Daniel Silveira.
Delgatti teria contado à PF que, após Bolsonaro tramar com Do Val o grampo em Moraes, já em dezembro de 2022, teria dado a ele a nova missão.
“Eles precisam de alguém para apresentar (os grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra. Ele (Bolsonaro) falou: ‘A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu falei: beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, declarou Delgatti à PF.
Ariovaldo Moreira, advogado do hacker, diz ter provas contundentes tanto da relação com Zambelli quanto das "missões" dadas a Delgatti por Bolsonaro.
Se for chorar...
Isolada, Carla Zambelli entrou em desespero no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na quarta-feira (2) e implorou para o seu mandato ser poupado. Com a voz embargada e quase chorando, a deputada disse que é "vítima de machismo", remontando de forma oportunista às suas origens no "ativismo", mesmo que agora esteja totalmente alinhada à pauta conservadora fascista.
Alinhada à quinta-coluna bolsonarista, Zambelli se desespera por não ver oportunidade de uma reviravolta e por antever que sua carreira política está próxima do fim.
Uma carreira que começou Nas Ruas. E que pode acabar Na Prisão.
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