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A situação mais complexa é registrada no Nordeste, onde o número de hospitalizações está 51% maior do que a taxa nacional (Foto: Reprodução)A situação mais complexa é registrada no Nordeste, onde o número de hospitalizações está 51% maior do que a taxa nacional (Foto: Reprodução)

O estudo mostra que, em 2021, foram oito crianças de até um ano de idade levadas ao hospital todos os dias por falta de comida.

Um estudo da Fiocruz concluiu que, em 2021, o número de internações de bebês com desnutrição no Brasil foi o maior dos últimos 14 anos.

Para quem vê Téo cheio de saúde, é difícil imaginar como ele estava há três meses.

A mãe diz que ele chegou a ficar com cerca de 5 kg e precisou internar.

O bebê de 11 meses ficou no hospital 28 dias porque estava desnutrido e desenvolveu uma infecção. Foi no período em que a mãe, desempregada, não tinha praticamente nada para dar ao filho.

“Isso dói no coração de qualquer mãe. Hoje consigo sustentar ele com as faxinas que eu faço”, diz a mãe.

Um estudo da Fiocruz mostra que, em 2021, o Brasil teve a pior taxa de internação de bebês por desnutrição dos últimos 14 anos. Foram oito crianças de até um ano de idade levadas ao hospital todos os dias por falta de comida.

O levantamento é do Observa Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Unifase. Os dados são do Ministério da Saúde.

Em números absolutos, 2.939 crianças de até 1 ano precisaram de internação no ano passado. Isso representa uma taxa de 113 internações por 100 mil nascimentos, quase 11% a mais do registrado em 2008, primeiro ano do período analisado pela pesquisa.

De janeiro a agosto de 2022, o número de internações aumentou 7%. Por dia, são quase nove crianças levadas ao hospital porque têm fome.

A situação mais complexa é registrada no Nordeste, onde o número de hospitalizações está 51% maior do que a taxa nacional. Mas o coordenador da pesquisa, Cristiano Boccolini, diz que o problema é grave em todo o país.

“A gente vê uma concentração também desses casos de hospitalização por desnutrição nas capitais, indicando que aqui mesmo no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, grandes centros urbanos a gente tem bolsões de pobreza, bolsões de crianças que estão invisíveis ao sistema público, que sofrem desnutrição e estão sendo internadas por causa disso”, afirma Cristiano Boccolini, coordenador da Observa Infância.

O atendimento médico no SUS tem evitado o pior. Apesar do aumento das internações, a mortalidade infantil não cresceu. Mas a nutricionista da USP Ana Paula Bortoletto alerta sobre os prejuízos ao desenvolvimento de crianças com meses de vida que ficam sem ter o que comer.

“Essa criança tem consequências de desenvolvimento, e a desnutrição nessa faixa etária pode, inclusive, ser irreversível, trazendo impactos em relação a déficit de cognição, a déficit de desenvolvimento”, explica.

A mãe de Téo encontrou apoio em uma ONG, no bairro onde mora, na Zona Oeste do Rio, para não faltar mais nada na mesa.

A ajuda é fundamental, mas os pesquisadores lembram que são as políticas públicas que têm força para reverter esse quadro cruel.

“Precisamos conseguir direcionar, melhor o nosso alvo, ser mais eficientes em identificar e alcançar famílias com vulnerabilidade social”, acrescenta Cristiano Boccolini.

O Ministério da Saúde declarou que no ano passado destinou R$ 345 milhões aos municípios para incentivar ações e fortalecer a atenção a crianças com menos de sete anos e gestantes com má nutrição.

O ministério afirmou também que acompanha os dados sobre alimentação infantil e que tem programas de suplementação nutricional para famílias de baixa renda.

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