Desde que começou a pandemia de Covid-19 e mais ainda depois do início da segunda onda, com aumento vertiginoso de números de casos e mortes, pouco ou quase nada se fala de outras doenças, muito menos de mortes causadas por outros motivos.
No entanto, a pandemia não fez parar o adoecimento provocado por outras patologias, como diabetes, cardiopatias ou mesmo acidentes de trânsitos. Os números mostram que o cenário piorou de forma geral.
Dados do Portal da Transparência do Registro Civil Brasil, que compila e publica informações cartoriais sobre nascimentos, casamentos e mortes em todo território nacional, mostram que em todo ano de 2020, Camaçari registrou 1.330 óbitos, uma média de 110,83 mortes por mês. Em 2021, a média está em 148 mortes por mês.
À reboque
Em 2020, junho e julho foram os meses com maior índice de perdas: 146 e 136 óbitos, respectivamente. Esses também foram os piores meses do ano, na cidade, em relação à pandemia de Covid-19. Novembro e dezembro, meses com redução dos óbitos provocados por Covid-19, também foram meses com redução geral no número de mortes.
O mesmo cenário se repete em agora, em março de 2021, quando, em 22 dias, o número total de mortes já é quase o dobre da média registrada no município durante todo ano 2020: 195 mortes, das quais, 69 foram causadas por complicações relacionadas a Covid-19. Março é, até aqui, o pior mês da pandemia na cidade.
Observando o gráfico, é possível atestar que o fluxo geral de mortes acompanha, por assim dizer, o fluxo de mortes causadas pela covid-19. Pior: mesmo desconsiderando as mortes por covid-19, os dados revelam aumento no número de mortes por outras causas. O cruzamento entre dados da prefeitura e do Registro Civil mostram que, até o dia 22, foram pelo menos 126 mortes causadas por motivos diversos, 16 acima da média de 2020.
Vale destacar que esses dados ainda podem estar defasados, já que pode levar até 13 dias para que um novo registro de óbito entre no portal do Registro Civil.
Indiretamente
A pergunta que fica é: os casos de covid-19 estão apenas engrossando as estatísticas ou a demanda elevada está sufocando o sistema de saúde municipal e prejudicando o atendimento a outras patologias? Procurado pela equipe do Camaçari Fatos e Fotos (CFF), o secretário de Saúde, Dr. Elias Natan, alertou que se trata da segunda opção.
"A pandemia afeta todos os serviços de saúde. Desde os casos de pacientes com sintomas leves aos sintomas mais graves. Pois isso interfere no atendimento nas unidades de saúde da Atenção Básica, nas unidades de urgência e emergência, no SAMU, na compra de medicamentos, no orçamento da Saúde tanto para compra de insumos como contratação de pessoal para dar conta da demanda do enfrentamento à pandemia em todas as áreas de atuação", esclareceu Natan. Em outras palavras, a covid-19 pode até não ser causa direta das demais mortes, mas certamente é causa de indireta de várias delas.
Manter a guarda
Questionado sobre o efeito das medidas restritivas impostas por Estado e Município desde o início do mês, o gestor explicou que a melhoria mais significativa ainda está para acontecer. "Eu diria que houve uma estabilização. Continuamos num momento muito delicado uma vez que temos 100% dos leitos de UTI ocupados e os leitos clínicos com taxa de ocupação acima de 80%. Sem falar na fila de espera por leitos, que continua muito instável e alta. Na manhã desta segunda-feira, 22, tínhamos 22 pacientes aguardando uma UTI e 16 um leito clínico. Já é possível sentir uma diminuição no número de pacientes sintomáticos procurando as unidades de saúde, porém, isso é pouco ainda.", enumerou.
Para concluir, Natan pediu que a população mantenha os cuidados e respeitos aos decretos. "Os efeitos das medidas restritivas começarão a ser percebidos daqui pra frente. Porém, se a população baixar a guarda neste momento, todo esforço feito por ela e por nós até aqui, será perdido e a curva da pandemia voltará a ser crescente", reforçou.
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