Maio foi mês em que mais pessoas com menos de 19 anos pegaram a doença no estado
Não dá mais para afirmar que a covid-19 é doença de adulto. Os números falam por si só: em 2021, a quantidade de pessoas com até 19 anos - os considerados crianças e adolescentes na pediatria - que se contaminaram com o novo coronavírus na Bahia já é superior a todo o ano passado. São 60.910 infectados agora frente aos 56.090 casos de 2020.
Em janeiro, fevereiro e março deste ano, o número de doentes de até 19 anos só cresceu. Em abril, apresentou uma leve queda, mas em maio o número de casos subiu novamente: foram 13.728 infectados, o recorde de 2021.
Tipos de Transmissão
Em junho, nos três primeiros dias do mês, outras 1.648 crianças e adolescentes já foram infectados. Todos esses dados foram retirados dos boletins epidemiológicos emitidos pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
No mês de maio, por exemplo, as aulas presenciais puderam retornar em Salvador.
Até o dia 25 do mês passado, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) recebeu quase 60 casos suspeitos de covid-19 em escolas da capital. No domingo (30), esse número já tinha saltado para 121 casos, uma média de 30 por semana. Foram 54 notificações em instituições de ensino, sendo 19 da rede privada e as demais, 35, da rede pública. O Centro não divulgou a lista com os nomes das escolas.
A infectopediatra Anne Galastri, da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), acredita que por causa das voltas às aulas presenciais, mais crianças e adolescentes estão sendo testadas, o que contribuiria no aumento de casos positivos.
“Durante a pandemia, as crianças ficaram trancadas em casa, os adultos adoeceram, elas também e não foram feitos testes. Agora, com a volta às aulas, elas são obrigadas a serem testadas se apresentarem qualquer sintoma. Isso deve ter algum impacto nos números”, argumenta.
UTI pediátrica na Bahia está em 75% de ocupação
Somada a essa realidade, a Bahia tem 63 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) divididos em seis hospitais baianos, três deles no interior - Estadual da Criança, em Feira de Santana, Geral de Vitória da Conquista e Manoel Novaes, em Itabuna – e os demais na capital – Instituto Couto Maia, Martagão Gesteira e o Municipal de Salvador.
Dos leitos, 75% estão ocupados, sendo que as três unidades de saúde do interior já alcançaram 100% de lotação.
Segundo a médica Anne Galastri, 3% a 6% de todas as crianças que pegam a doença ficam internadas. “Mas como nessa faixa etária grande parte dos contaminados são assintomáticos, nem sempre são feitos os testes e acredita-se que esse índice seja superestimado”, aponta.
Anne também revela que os óbitos nos pequenos representam menos de 1% de todas as mortes por covid numa população. Mesmo com o advento de novas variantes, esse índice não muda. “O próprio governo da Índia lançou uma nota falando que a faixa etária pediátrica continua sendo poupada de uma infecção mais grave quando comparada com as outras”.
No caso da Bahia, de todas as 21.512 mortes por covid, segundo a Sesab, apenas 129 aconteceram entre pessoas de 0 a 19 anos, o que representa 0,6% das mortes. Uma dos pequenos vítimas da doença no estado foi o menino Daniel Neves, que tinha apenas 13 anos. Ele faleceu no dia 19 de maio de 2021. Morador de Salvador, fazia sucesso na internet com seus quadros, que eram vendidos para custear o tratamento contra uma rara doença: logo aos oito meses de vida, ele foi diagnosticado com rins policísticos, fibrose hepática e problemas no baço.
Embora o caso de Daniel seja chocante, as mortes por covid nas crianças não são o mais comum, como mostram os dados,. Quanto maior a faixa etária, é maior a quantidade de mortes.
“É por isso que, no Brasil, ainda não se fala em vacinação do público menor de 18 anos. O foco nesse momento são os grupos prioritários, aqueles que são mais acometidos pela doença. Só depois que podemos pensar nas outras faixas etárias. Eu não acredito que seja adequado pensar em vacinar crianças antes de quem tá morrendo nesse momento, como é o caso dos adultos jovens”, argumenta.
Nos Estados Unidos, onde a vacinação está acelerada, pessoas com mais de 12 anos já podem ser vacinadas com o imunizante da Pfizer, que já tem estudo para esse público. Na América do Sul, o Chile e o Uruguai também aprovaram nessa semana a aplicação dessa vacina nos adolescentes do país. “Existem outros estudos para vacinar maiores de seis anos. No entanto, não devemos achar em nenhum momento que essa faixa precisa ser vacinada para voltar a vida normal”, defende a médica.
Síndrome pediátrica rara associada a covid já causou quatro óbitos
É uma condição rara, mas que não deixa de preocupar. Crianças e adolescentes que pegam covid-19 podem desenvolver a Síndrome Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Segundo a Sesab, trata-se de uma doença com amplo espectro de sinais e sintomas, caracterizada por febre persistente acompanhada de sintomas gastrointestinais, dor abdominal, conjuntivite, hipotensão, dentre outros.
Até o dia 31 de maio de 2021, última vez que o levantamento foi atualizado, foram registrados 82 casos confirmados da síndrome na Bahia. Destes, 46 casos (56,1%) ocorreram em pacientes do sexo masculino e 36 (43,9%) em pacientes do sexo feminino. Em relação a faixa etária, o intervalo de 0 a 4 anos foi o mais cometido, representando 38 casos (46,34%). Do total, quatro crianças morreram por causa da síndrome.
Os três primeiros óbitos pela síndrome rara aconteceram em 2020. O primeiro foi registrado no dia 26 de agosto, em um menino de 9 anos que morava em Salvador. Em setembro, no dia 17, morreu a segunda criança no estado pela síndrome, um menino de 1 ano que residia em Maracás, no centro-sul baiano. Dois meses depois, em 20 de novembro, a terceira morte foi registrada, uma menina de 7 anos que vivia em Camacan, na região sul.
Por fim, a quarta vítima da síndrome rara foi uma bebezinha de 1 ano, residente na cidade de Ubatã. O óbito ocorreu no dia 22 de março de 2021, mas a pequena apresentou os primeiros sintomas no dia 9 de fevereiro deste ano e foi internada no dia 16 do mesmo mês. Ela lutou pela vida durante mais de um mês.
A Sesab foi procurada para se manifestar sobre o assunto, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.
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