Expectativa é que a Política de Saúde Bucal junto à Lei Orgânica ajude a mudar situação
Mais de 15 milhões de brasileiros nunca tinham ido ao dentista quando responderam a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, que baseou relatório do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostrando que 183 milhões não tinham plano odontológico. A expectativa é que a incorporação da Política Nacional de Saúde Bucal, criada em 2004, à Lei Orgânica da Saúde, ajude a diminuir essas lacunas.
Enquanto sancionava o Projeto de Lei 8.131/2017 que determina a integração permanente dos serviços de saúde bucal ao SUS (Sistema Único de Saúde), O presidente Luís Inácio Lula da Silva brincou com o impacto de dentes com problemas na vida social, e especialistas da área concordam que esse aspecto não é secundário, interferindo até mesmo na empregabilidade.
“O cuidado com os dentes é essencial, a manutenção desses dentes, não só para fins estéticos. Difícil a pessoa até arranjar um emprego se não tiver com os dentes cuidados”, comenta o presidente do Conselho Regional de Odontologia da Bahia (CRO-BA), Marcel Arriaga. Ele acrescenta que a saúde bucal e a saúde geral estão completamente relacionadas, e problemas dentais e de gengiva interferem no quadro de pessoas com diabetes, p or exemplo.
Arriaga alerta que a ligação da saúde bucal com o restante do corpo não tem relação com as fake news em circulação fazendo um link entre caninos, incisivos e órgãos do corpo. “É tudo fantasia da pseudociência”, enfatiza. O que está amplamente demonstrado em pesquisas é a importância de uma boa mastigação, do bom funcionamento da articulação temporomandibular, para evitar dores de cabeça provocadas por disfunções nessa área.
Em sua avaliação, a população em geral está consciente da importância da saúde bucal, então a principal limitação está no acesso, na oferta insuficiente do atendimento. Dois pontos destacados são uma presença maior de unidades com todas as especialidades odontológicas e a valorização dos profissionais de odontologia no serviço público, por meio de salários mais adequados à sua formação.
‘País dos desdentados’
O presidente do CRO-BA percebe avanços, pois o Brasil já foi considerado o país dos desdentados e perdeu esse posto, mas ressalta a desigualdade no acesso, com diferenças marcantes entre diferentes regiões do país e até mesmo dentro dos estados. Ele enfatiza ainda a importância do fornecimento de água fluoretada, uma medida preventiva que pode chegar a todos com água encanada em casa, e é adotada na Bahia.
Na infância, Arriaga recomenda a ida ao dentista de seis em seis meses, pois nessa fase da vida há maior propensão a cáries, enquanto adultos podem ir anualmente ou de dois em dois anos. “A gente só não pode esquecer e pensar ‘vou daqui a cinco anos’, porque uma lesão de cárie que está no começo, em cinco anos já evoluiu para um problema que necessita tratamento endodôntico. Às vezes a pessoa perde o dente porque não cuidou”, alerta.
A diretora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (FOUFBA), Sônia Chaves reforça a necessidade de ir ao dentista regularmente, mas defende a necessidade de “compreender a escovação dentária diária como o melhor tratamento odontológico que a gente possa fazer”. Ela lembre que é preciso orientar as crianças, e os adultos caso ainda não saibam, sobre a forma correta de escovação.
A escova de dentes deve ter um bom volume de cerdas e ser macia, sendo usada com uma pequena quantidade de creme dental e fazendo movimentos circulares, explica Sônia. O mais indicado é usar creme dental com flúor, que auxilia o combate à perda do esmalte dentário e favorece a recalcificação de áreas desgastadas. Ela ressalta que, contrariando falsas polêmicas sobre o uso do flúor, os estudos científicos mostram que seu uso é seguro.
Embora muitas pessoas acreditem que a perda de dentes na velhice é inevitável, a diretora da FOUFBA garante que é possível chegar ao fim da vida com todos os dentes naturais. Para isso é fundamental a saúde bucal em todas as fases, sem esquecer que a gengiva também envelhece com a passagem do tempo, ficando mais frágil. Uma escovação muito vigorosa, por exemplo, favorece o surgimento de bolsas entre a gengiva e o dente, espaço que vai acumular bactérias, o que pode levar a infecções que comprometem a sustentação do dente.
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