A Páscoa era uma celebração instituída por Deus no livro de Êxodo, capítulo 12, para os israelitas comemorarem sua libertação do Egito. A palavra "páscoa" significa, no original, "passar por cima". Na noite em que seriam libertados Deus ordenou que cada família sacrificasse um cordeiro e passasse seu sangue nos batentes da porta da casa. Assim, quando o "anjo do Senhor" passasse sobre a terra do Egito para ferir os primogênitos dos egípcios, ele "passaria por cima" das casas assinaladas com sangue e livraria da morte aqueles cujas famílias tivessem crido na Palavra de Deus e sacrificado o cordeiro no lugar do filho mais velho.
Aquele cordeiro e aquele sangue servem para nós como sombras e figuras do verdadeiro Cordeiro de Deus, que derramou seu sangue na cruz para livrar do juízo eterno o pecador que crê na Palavra de Deus e em Cristo como Salvador. Uma vez que já temos o verdadeiro "Cordeiro pascal", não precisamos mais nos ocupar com as sombras. Nossa Páscoa não é uma celebração; nossa Páscoa é uma Pessoa: "Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Co 5:7). Quando você vê um filme projetado na tela de um cinema, onde aparece seu ator preferido, o que você vê são apenas sombras criadas pelo projetor e pela luz que atravessa a película. Se naquela hora alguém gritar para a plateia: "Pessoal, o ator principal acaba de chegar e está no saguão!", você continuaria assistindo o filme ou sairia correndo para pegar um autógrafo? Continuaria ocupado com as sombras ou com o verdadeiro?
"Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam... Então [o Filho de Deus] disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade... Na qual vontade temos sido santificados pela oblação [oferenda] do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. Porque com uma só oblação [oferenda] aperfeiçoou para sempre os que são santificados." (Hb 10:1-14)
A celebração da Páscoa por cristãos, uma tradição não encontrada na doutrina dos apóstolos inventada quatrocentos anos depois de Cristo, bem como a proibição de determinados alimentos no período chamado de "Quaresma", não fazem qualquer sentido hoje. O mesmo vale para outras celebrações emprestadas do judaísmo ou mesmo aquelas criadas com base em episódios encontrados nos Evangelhos, como "Quarta Feira de Cinzas", "Domingo de Ramos", "Quaresma", "Sexta-feira Santa", "Pentecostes", "Finados", "Natal", "Cristo Rei" etc., além de datas em homenagem a mártires e cristãos da antiguidade, os chamados "santos". "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo." (Cl 2:16-17).
Alguém poderia indagar por que então Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos na ocasião em que acabaria instituindo a Ceia para celebrar sua morte (que nem havia acontecido naquela ocasião). Muito simples: Jesus era judeu e seus discípulos também. Todos eles viviam dentro do contexto do judaísmo e praticavam tudo o que ordenava a Lei dada a Moisés. Por isso, quando Jesus curava alguém, ele ordenava que a pessoa cumprisse o rito determinado na Lei, como neste exemplo em que ele cura um leproso: "E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho." (Mc 1:44). Do mesmo modo, Jesus ordenava que os judeus dessem o dízimo: "Ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras." (Lc 11:42).
José e Maria também eram judeus vivendo no judaísmo, e por isso fizeram a oferta pós-parto exigida na Lei. "E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (segundo o que está escrito na lei do Senhor: 'Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor'); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos." (Lc 2:21-24). Repare que por três vezes a Lei é mencionada, o que indica que estamos diante de uma cena típica do judaísmo. O ritual de purificação você encontra em Levítico 12.
Se você acha que os cristãos devem realmente imitar o que faziam José, Maria, Jesus e seus discípulos nos Evangelhos, então celebre a Páscoa, mas lembre-se de sacrificar de um animal que, obviamente, não poderá ser um bacalhau. Terá também de circuncidar seu filho e, ao apresentá-lo no Templo, oferecer "um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado" (Lv 12:6). Não se esqueça de entregar o dízimo de tudo, e procurar os sacerdotes quando for curado de alguma enfermidade para cumprir os ritos exigidos em casos assim. O espaço é pouco para descrever todas as outras ordenanças ditadas pela Lei mosaica, e nem pense em apanhar lenha no dia de Sábado pois a pena para o transgressor é o apedrejamento. A grande dificuldade que você encontrará é que a maioria das ordenanças e cerimônias deverão ser cumpridas no Templo de Jerusalém, o qual não existe mais. Nem tente fazer essas coisas na mesquita islâmica que agora ocupa seu lugar ou você será culpado de iniciar uma guerra.
A dificuldade que a maioria dos cristãos tem para entender isso é por terem faltado à aula de Português quando a professora ensinou a conjugação do verbo "edificar". Depois de ouvir a declaração de Simão, que disse a Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", o Senhor lhe disse: "... edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16:16-18). Ainda em tenra idade aprendi com minha professora que "edificarei" é o futuro do presente do verbo "edificar", ou seja, construir algo que ainda não existe. Se Jesus disse "edificarei a minha igreja" evidentemente não poderia estar falando de algo que já existia no seu tempo. Quando entramos no livro de Atos, e depois nas epístolas dos apóstolos, aprendemos que a Igreja, que é o corpo de Cristo e inclui TODOS os salvos, e não os membros de alguma organização chamada de "igreja" e criada por homens. A Igreja começou no dia de Pentecostes, no capítulo 2 de Atos quando o Espírito Santo desceu à terra, só depois de Jesus morrer, ressuscitar e ser glorificado.
Em sua Carta aos Coríntios, ao se referir ao que ocorreu em Atos 2, quando nem Paulo, nem os irmãos em Corinto eram convertidos ainda, o apóstolo explicou a eles que naquela ocasião eles haviam sido agregados de forma corporativa a esse "um só corpo": "Assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito." (1 Co 12:12-13). Esse é o verdadeiro "batismo no Espírito", que muitos cristãos confundem com o "selo do Espírito" que recebemos por ocasião da conversão. O "batismo no Espírito" só aconteceu uma vez na fundação da Igreja e sua abrangência vale para todos os verdadeiros salvos por Cristo de todas as épocas. O "selo do Espírito" acontece individualmente e garante que o crente será levado para o céu, "depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória." (Ef 1:13-14).
Resumindo tudo o que disse até aqui, a Páscoa e todos os rituais ordenados na Lei dada a Moisés faziam parte do judaísmo, a única religião que Deus instituiu. Jesus e seus discípulos, nos Evangelhos, estavam inseridos no contexto da Lei e do judaísmo, por isso observavam as festas, sacrifícios e ofertas quando a Igreja nem sequer existia. Esta somente seria formada em Atos 2, mas mesmo assim a revelação do que ela significava só seria dada mais tarde a Paulo, depois de sua conversão. Para nós que somos cristãos, o Antigo Testamento e suas ordenanças e rituais servem de sombras ou figuras que mais tarde seriam concretizadas nos muitos aspectos de Cristo e sua obra. Hoje seguimos a doutrina dos apóstolos dada à Igreja, que pode ser encontrada nas epístolas, portanto para nós existem apenas duas ordenanças: o batismo e a ceia do Senhor. O batismo você precisa apenas uma vez na vida; a Ceia deve celebrar a cada primeiro dia da semana, o dia que chamamos de "Domingo" e não tem o mesmo caráter do "Sábado" judeu.
Então como agir quando parentes e amigos celebram a Páscoa ao nosso redor? Fazendo o que Paulo fez quando visitou os gregos e ficou impressionado ao ver como eles eram "supersticiosos" ou "religiosos", dependendo da versão da Bíblia que você usa. Paulo não gastou saliva criticando as muitas superstições e idolatrias que ocupavam a vida dos pagãos. Ele simplesmente percebeu que havia um altar dedicado ao "Deus Desconhecido" e concentrou-se neste para anunciar o Deus verdadeiro. É mais ou menos a técnica de se lidar com um cão entretido a roer um osso velho e seco. Tente tirar seu osso e você vai sair mordido da experiência. Ofereça a ele um filé fresquinho e ele largará de bom grado o osso insosso. "E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: 'AO DEUS DESCONHECIDO'. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio." (At 17:22-23).
Portanto, quando alguém que celebra a Páscoa por causa de tradições católicas ou protestantes, convidar você para comer uma suculenta bacalhoada e saborear uma "Colomba Pascal" ou um "Ovo de Páscoa", não se faça de rogado. Agradeça o convite, coma essas iguarias que talvez fugissem ao seu orçamento, limpe os fiapos dos dentes, e aproveite para perguntar a seu anfitrião se ele sabe o real significado e importância da ressurreição de Cristo. A partir daí apresente a ele o puro evangelho da graça de Deus.
"Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." (1 Co 15:1-4)
Nota:
Ler a bíblia, antes e depois dos exercícios, amplia sobremaneira o resultado esperado!
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