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Política

O presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), durante o Culto de Santa Ceia, organizado pela Frente Parlamentar Evangélica, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em Brasília (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)O presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), durante o Culto de Santa Ceia, organizado pela Frente Parlamentar Evangélica, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em Brasília (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

A proximidade das eleições de outubro, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente nas pesquisas de intenção de voto, fez com que partidos e setores que formam a base do governo entrassem em modo de espera e adotassem cautela em relação à proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (PL).


O movimento, visto pelos próprios políticos do centrão como uma ação estratégica para o desenrolar das eleições, envolve pilares importantes do bolsonarismo, como:

Desembarque do governo Um dos principais representantes da bancada ruralista, o deputado Neri Geller (PP-MT) foi um dos primeiros a abandonar o barco. Candidato ao Senado com o apoio do PT, ele selou a parceria no mês passado, durante visita do ex-presidente Lula a Brasília.

Ex-ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff (2014), Geller está conversando com as lideranças do PT e encaminhando uma aliança no seu estado e também no setor, o que parece já render frutos para o lado petista.

Na semana passada, algumas das principais associações do agronegócio, como a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) — que reúne empresas como JBS e Marfrig — assinaram o manifesto da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento pró-sistema eleitoral que reúne 300 companhias do agronegócio, indústria e varejo, entidades e organizações ambientalistas.

A coalizão aparece na esteira da carta em defesa da democracia e do sistema eleitoral brasileiro, lançada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo no dia 11 e que se tornou alvo de reiteradas críticas de Bolsonaro —que a chama de "cartinha".

Bolsonaro nem na foto Nos últimos dias, o Progressistas no Piauí acionou o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para tentar proibir a circulação de imagens de seus candidatos ao lado do presidente.

A montagem que motivou a ação do PP conta com Silvio Mendes (candidato ao governo do Piauí pelo União Brasil), Iracema Portela (PP, candidata a vice-governadora) e Bolsonaro.

No estado, o partido apoia Mendes, que em março declarou que não subiria no palanque de Bolsonaro.

Procurado pela reportagem, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse que continuará a apoiar Bolsonaro na Câmara, mesmo após eventual derrota do presidente nas eleições.

Novo e Republicanos Já em Minas Gerais, Bolsonaro lamentou que não estará no palanque do governador Romeu Zema (Novo). O partido de Zema tem bolsonaristas na Câmara dos Deputados, como Marcel Van Hattem (RS). No estado, Bolsonaro terá o palanque do senador Carlos Viana (PL).

Outro partido que dá sinais de entrar em modo de espera é o Republicanos, comandado pelo deputado Marcos Pereira (SP). O político tem se ocupado na sua tentativa de reeleição e na montagem das candidaturas ao Legislativo nos estados.

Ele também tem focado na candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo. Com isso, está distante do núcleo duro da campanha de Bolsonaro.

E como fica o "orçamento secreto"? Congressistas ouvidos pela reportagem ponderam, no entanto, que, apesar do aparente afastamento, políticos dos partidos que fizeram parte da base do governo devem continuar votando com Bolsonaro na expectativa de que o Executivo faça o pagamento de emendas do "orçamento secreto" após as eleições.

Diferentemente das emendas individuais e coletivas, as emendas de relator (que compõem o "orçamento secreto"), não exibem o verdadeiro parlamentar autor da indicação delas nos portais de transparência.

Esse distanciamento também não interferirá nos palanques estaduais que já foram fechados, segundo a avaliação de um líder do centrão. Há o compromisso da base com o governo neste ano, independentemente das costuras locais para viabilizar uma bancada robusta na Câmara —ponto em comum entre praticamente todas as legendas.

O que motiva a adoção dessa estratégia? Para André César, cientista político e analista da Hold Assessoria Legislativa, os casos citados mostram como o centrão é passível de se adaptar ao melhor cenário para si. Além disso, revela os cortes regionais das siglas.

"No Norte e no Nordeste, as lideranças políticas em geral flertam com Lula. Bolsonaro tem mais adesão no Sul e no Sudeste. Claro que estamos vendo hoje uma campanha acirrada. Mas esses partidos não fecham portas a nenhum candidato que tenha realmente pretensões reais ao cargo", afirmou.

O "jogo duplo" desses partidos que integram o centrão é algo histórico, segundo Aninho Irachande Mucundramo, professor do departamento de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília).

O bloco se mexe conforme as chances de poder. E, se julgarmos as pesquisas de intenção de voto, um cenário que parece minimamente consolidado, há uma percepção de que pode haver uma mudança no apoio após o resultado das eleições"Aninho Irachande Mucundramo, cientista político da UnB

"Por isso, independentemente de o futuro presidente ser de um partido de esquerda ou de direita, eles encontram algum jeito de estarem próximos. Não é só por eles, mas também pelos eleitos. Para sobreviver no Parlamento é preciso compor a base — seja no momento eleitoral ou depois dele", disse.

Há, ainda, as alianças estaduais que muitas vezes divergem da configuração nacional. Mucundramo destaca que, diante disso, houve uma tentativa dos partidos brasileiros de consolidarem "apoio formal" em longo prazo, com a construção de federações, por exemplo.

"Essa movimentação surge da necessidade também de criar blocos mais estáveis. É muito comum ver candidatos à Presidência que localmente fazem palanque com aliados de oposição nacional, porque no momento faz sentido", afirmou.

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