A eleição para definir o próximo líder do PMDB na Câmara ganhou dimensões maiores que o previsto até o final do ano, e os candidatos parecem disputar cada voto como se concorressem à presidência da Casa. Com 67 parlamentares, a bancada da legenda, a maior da Câmara, demonstra divisão ainda maior que em outras disputas. E os candidatos, o atual líder, Leonardo Picciani (RJ), e o deputado Hugo Motta (PB) já iniciaram maratonas de reuniões nos estados para conversar com cada um dos colegas.
Picciani esteve duas vezes em Minas Gerais, participa de reuniões em Brasília até sexta-feira (29) e promete seguir um roteiro de viagens nas próximas semanas. Diz que pretende conversar, inclusive, com representantes de diretórios estaduais, para negociar apoio ao seu nome. Já Motta, que tem como padrinho o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), dá ênfase, neste momento, aos estados nordestinos. A exceção foi Minas Gerais, onde Motta compareceu a um encontro no final de semana. Mas ele já confirmou que dará início às visitas aos demais estados durante o período do carnaval, com a presença do próprio Cunha – que prometeu acompanhá-lo.
Nos bastidores, a grande repercussão do dia, hoje, foi a notícia de frase pronunciada por Cunha no domingo entre amigos. "Ganho essa eleição de todo jeito, nem que me ferre inteiro", teria dito ele sobre a disputa e o empenho para alçar Motta à liderança. Para os aliados do presidente da Câmara, sua insatisfação com Picciani, que era um antigo aliado e por quem se sente traído nos últimos meses, passou a fazê-lo ver a eleição e vitória de Motta como "questão de honra".
Será, também, um bom termômetro para o deputado testar a popularidade que ainda tem, depois das denúncias e investigações contra ele, o envolvimento na Operação Lava Jato, a retomada dos trabalhos do Conselho de Ética da Câmara, em que tramita o processo que o investiga e, principalmente, o julgamento da ação que pede o seu afastamento do Cargo – prevista para fevereiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesse cenário turbulento, os grupos dos dois candidatos agem como sempre: em reservado, demonstram preocupação, dizem que o pleito será disputadíssimo e pedem votos. Em público, garantem contar com a maioria dos votos necessários para ganhar.
Maioria simples
Depois da desistência de Leonardo Quintão (MG), na última quinta-feira (21), a única certeza sobre o pleito é que não haverá segundo turno. Como o sistema de votação definido será por maioria simples (o equivalente à metade dos votos mais um), os cálculos da liderança do PMDB (ocupada hoje por Picciani e formada por assessores ligados a ele) são de que o atual líder conta com 37 votos garantidos. Entre os adeptos de Hugo Motta, o que se diz é que faltam 12 votos para decidir a disputa.
Duas preocupações estão ligadas ao apoio do Palácio do Planalto e aos votos que estavam garantidos para Quintão antes de ele desistir da candidatura. No caso do Planalto, a tendência sempre foi por ajudar Picciani, visto pelo Executivo como o líder ideal do partido. Mas nos últimos dias Hugo Motta tem feito jogo duplo e, apesar de ter o apoio de Cunha – que faz oposição cerrada ao governo –, pediu para ter audiências com ministros da coordenação política.
O discurso de Motta é de que discutirá as propostas legislativas encaminhadas ao Congresso da forma como for decidido pela bancada, mesmo que elas não sejam do interesse do governo. Mas estará sempre disposto a conversar e negociar com o Planalto. "Farei o que deve ser feito, como é o papel de um líder. Procurarei ouvir e conduzir a bancada do PMDB como deve ser feito. É isso que nos falta, porque é tudo o que o Picciani não tem feito", alfinetou.
Já Picciani se mantém quieto em declarações mais ácidas e tem se preocupado no retorno de peemedebistas que estejam licenciados, caso a eleição fique mais apertada do que se espera. Um destes pode ser o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PI).
Desgastado no governo por declarações desastrosas que tem dado sobre o combate ao zika vírus, Castro tem sido alvo de integrantes do governo, que pedem a sua saída do cargo. Mas, de certo, o que se sabe mesmo é que o ministro – que é deputado licenciado e do PMDB – deverá se ausentar da pasta por um ou dois dias para retornar à Câmara e votar a favor de Picciani. Outros nomes que estão incluídos na mesma estratégia são de deputados que ocupam secretarias no Rio de Janeiro, em Alagoas e em Mato Grosso.
Transferência de votos?
Em relação ao deputado Quintão, ficou claro já no dia seguinte à sua desistência que o parlamentar não conseguirá transferir os votos que tinham sido prometidos a ele para Leonardo Picciani, com quem fechou acordo. Isso porque Quintão se comprometeu a apoiar a recondução do atual líder, mas muitos do grupo que o apoiava fazem parte da ala oposicionista do PMDB e preferem votar em Hugo Motta.
"Não se faz o que ele fez, de última hora (sobre a atitude de Quintão). Vamos apoiar o Motta porque queremos mudar o líder que está aí, que não lidera nada, apenas reproduz os recados que recebe do governo", diz o deputado Osmar Terra (RS). "Não esperávamos essa reviravolta porque o Quintão se lançou como candidato próprio. Se ele acha que o grupo que iria votar nele o seguirá, vai perder feio", completa o oposicionista Darcísio Perondi (PMDB-RS).
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