Estado tem o sexto maior número de fraudes do tipo no país
Em uma manhã comum de fim de semana, Marcos Antônio Guimarães, agente de trânsito de 48 anos, navegava pela OLX em busca de um carro, quando encontrou a oferta perfeita: o modelo que queria, por apenas R$12.000. Guimarães não pensou duas vezes antes de pagar a entrada de R$2.000. Entretanto, ao tentar transferir o restante, seu banco identificou a movimentação incomum e suspeitou que houvesse um golpe ali. A desconfiança foi certeira: após o pagamento, o vendedor parou de responder às tentativas de contato de Guimarães.
O caso do agente de trânsito não é isolado. De acordo com um estudo de mercado feito pela OLX, a Bahia apresentou, entre janeiro e abril deste ano, um aumento de 15% nos golpes em compras e vendas online de veículos, em comparação ao mesmo período do ano passado. A pesquisa, de escala nacional, aponta que a Bahia é o sexto estado com mais fraudes, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paraná. Apesar do índice ter crescido na Bahia, a nível nacional houve uma queda de 54%. Ao todo, foram identificadas 37,4 mil incidências do tipo no país no primeiro quadrimestre do ano.
Para João Kobayashi, diretor de produto da OLX, existem dois principais motivos para o aumento desse tipo de golpe na Bahia. “À medida que vai aumentando a digitalização, mais pessoas migram para a plataforma digital, e é normal que a gente tenha um aumento dos golpes digitais nessa migração. O segundo é que conforme a polícia vai atuando em alguns estados, nós vemos uma migração de quadrilhas para outros estados. Quando a gente passa a monitorar muito, acontece esse movimento de migração também. Você fecha a porta de um lado e eles correm para outro”, afirma.
Entre os golpes mais identificados, estão a falsa venda e o golpe do falso intermediário. A falsa venda, mais simples, consiste na criação de anúncios falsos com condições muito atrativas para o comprador, das quais o fraudador se aproveita para pedir adiantamentos financeiros para que haja a reserva do veículo – como foi o caso de Guimarães. “Nesses casos, a pessoa normalmente não vê o carro, [o golpista] geralmente convence a vítima de que ele é um vendedor real e tem muitas ofertas para que o comprador não queira perder a compra. Muitas vezes, o veículo nem existe”, afirma Kobayashi.
No golpe do falso intermediário, há a interação entre verdadeiros vendedores e compradores, mas o pagamento vai para quem aplica o golpe, que age como intermediário da negociação. Para explicar essa tática, podemos tomar como exemplo três pessoas hipotéticas: Ana, que quer vender um veículo, José, que quer comprar, e Maria, a fraudadora. Ao ver o anúncio do carro, Maria entra em contato com Ana, afirma ter interesse no veículo e pede para ela tirar o anúncio do ar, já que ela pretende comprar. Quando Ana retira, Maria faz um novo anúncio com as mesmas fotos e a mesma descrição, mas com um valor mais baixo, ainda mais atrativo para possíveis compradores, como José.
José vê o anúncio, entra em contato com Maria e pede para ver o veículo. Maria aceita e pede a José sigilo em relação aos valores na visita, dizendo que Ana, verdadeira vendedora, é sua funcionária e lhe deve dinheiro. Maria age nos bastidores, sem precisar se mostrar aos outros dois. O diálogo também continua a ocorrer do outro lado: Maria avisa a Ana que mandará alguém ver o veículo, dizendo que essa pessoa, o verdadeiro comprador, lhe deve dinheiro e fazendo o mesmo pedido que fez a José, que não fale de valores. Assim, as interações ocorrem entre quem tem intenção de vender e de comprar, mas o lucro irá para o fraudador, que manipulou a negociação.
De acordo com Kobayashi, algumas das táticas utilizadas pelos golpistas são o apelo para o emocional e a tentativa de migrar para outras plataformas, menos monitoradas e mais suscetíveis a golpes. Além disso, é importante prestar atenção nos preços: se está abaixo da tabela Fipe, por exemplo, é aconselhável questionar o motivo e verificar se existe alguma avaria no carro que justifique a redução do preço.
O diretor de produtos ressalta que a OLX dispõe de duas soluções de segurança para automóveis, o perfil verificado e o histórico veicular. A primeira são verificações maiores para os perfis, às quais todos os usuários estão elegíveis. A análise consiste numa foto do dono do perfil com o RG do lado e na feitura de uma biometria facial. Já o histórico veicular é um documento que traz todo o histórico do carro: se ele já foi para leilão, se tem multa e o número de donos que já teve, por exemplo.
Kobayashi afirma ainda que os dados da pesquisa não dizem respeito especificamente à empresa, mas sim uma análise do mercado. Dessa maneira, o que teria aumentado seria não o número de golpes na OLX, mas o número de golpes em todo o mercado. “A pesquisa é feita a partir da análise de dados de estudos de mercado, pesquisa com usuários, reclamações online, entre outros”, diz.
Para Marcos Guimarães, agente de trânsito que caiu num desses golpes, a sensação que fica é a de revolta. Agora, com a maior parte da quantia recuperada, ele alerta os outros compradores sobre os cuidados a tomar nas negociações. “É essencial procurar saber os detalhes do produto que está sendo anunciado, colher algumas informações e marcar em algum lugar que tenha movimento e circulação de pessoas ou próximo ao módulo policial, além de não fazer nenhuma transação por telefone, sempre presencial”, indica.
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