A mensagem chegou no WhatsApp sem que ele nem solicitasse o crédito. Logo no primeiro momento, o auxiliar de serviços gerais Reinaldo Pereira desconfiou da oferta de R$ 7 mil com depósito imediato na conta sem consulta ao SPC ou Serasa. “Estava com meu nome no vermelho, mas também no aperto e cheio de conta para pagar, precisando terminar de construir minha casa”, relembra.
Segundo ele, a ‘lábia’ era boa e a conversa convincente. Em troca do recurso, a empresa, que se identificava como Help Crédito, pediu um depósito de R$ 250 para a liberação imediata do dinheiro. Everaldo tomou parte do dinheiro emprestado na mão de um amigo, trocou o saldo que tinha no ticket alimentação e depositou o valor solicitado. Gastou mais R$ 30 no Correio para o envio dos documentos e outros R$ 28 em mais uma taxa exigida pela então financeira que prometeu o empréstimo.
“Eles têm um papo bonito que conquista com pouca conversa. Enviei todas as cópias autenticadas dos documentos e ele pediram um prazo de 24 horas para o dinheiro cair na conta. Quando fui outro dia no banco: zero de saldo. Aguardei novamente e nada. Fiz o contato mais uma vez e me disseram que o dinheiro não seria mais liberado. Tentei rever o valor que depositei e aí ninguém mais atendeu”, lamenta.
Golpes como o que Everaldo acabou sendo vítima estão cada vez mais comuns. Segundo um levantamento feito pela fintech Noverde, com base em informações do site Reclame Aqui, nos últimos dois anos o golpe do falso empréstimo no WhatsApp aumentou 198%. Os números dão ideia da dimensão do problema: considerando apenas os períodos de janeiro até setembro foram 232 casos em 2017; 519 em 2018, e 683 este ano - quase o triplo do volume registrado há três anos atrás.
“É grande o aumento desse tipo de golpe usando os nomes das fintechs. Ou seja, estão aproveitando o forte crescimento desse setor no Brasil para aplicar golpes nas pessoas que precisam de crédito. Os números apontados mostram essa realidade”, analisa a diretora de Riscos da Noverde, Débora Cipolli.
Geralmente, os golpistas se apresentam como um banco ou uma fintech oferecendo opções de empréstimos. Em todas elas, os golpistas pedem depósito antecipado. “Conseguimos mapear e detectamos que os principais canais de abordagem são digitais, com páginas falsas no Facebook e, principalmente, WhatsApp. Constatamos que as justificativas eram as mais variadas: liberação do empréstimo, contrato de fiança, certificação digital, aumento de score de crédito, taxa de IOF e alguns tipos de seguros”, completa Débora.
Prejuízo
O fato é que no final das contas, Everaldo ficou sem o dinheiro e com mais uma dívida. “Estou traumatizado e com pendência até hoje. Vejo um DDD 011 aparecer no celular e nem atendo. Isso causa um transtorno terrível na vida do cidadão, imagine aí de um assalariado?", fala. " Hoje, qualquer mensagem de banco que eu receba vou à agência só para conferir se é verdade. Não tem jeito, fico cismado em ser enganado”, complementa.
E os golpes deste tipo trazem ainda mais riscos para o consumidor, que perde dinheiro e também seus dados pessoais e financeiros, aumentando as chances de sofrer outras fraudes. O laboratório especializado em segurança digital da PSafe, Dfndr lab, identificou, só no mês de outubro, 8.112.850 de ataques e compartilhamentos de links perigosos, entre eles, um falso convite para a aquisição de um cartão pré-aprovado do banco digital Nubank.
“Esse golpe chega para a vítima, geralmente, via SMS ou rede social. Ele possui a identidade visual idêntica à da marca utilizada como tema do ataque e utiliza mensagens que indicam que o usuário pode ter algum prejuízo se não acessar o link”, explica o diretor do Dfndr lab, Emílio Simoni.
Para ele, os fraudadores seguem uma estratégia de maximizar seus lucros. Eles vão solicitar empréstimos pessoais na conta da vítima, aumento de limite do cartão de crédito, usar todo saldo disponível e, também, do cheque especial. “Tenha cuidado ao tocar em links com ofertas e vantagens exageradas. Verifique as informações nos sites oficiais das empresas. Confira também se existem reclamações da marca em questão”, orienta Simoni.
Atenção redobrada
A estratégia para evitar ser alvo destes criminosos é desconfiar sempre. A orientação é do diretor de inteligência cibernética do Grupo New Space, Thiago Bordini. “Duvide de mensagens que indiquem que seu crédito foi aprovado junto a empresas com as quais você não tenha um relacionamento", observa. "Mais uma vez fica o alerta aqui para o cuidado em fornecer dados pessoais. A senha você troca, a conta do banco você bloqueia, o cartão você substitui, mas nome, CPF e data de nascimento, não mudam”, completa.
É importante que quem tenha sofrido algum golpe deste tipo registre um boletim de ocorrência. “Ainda que não consiga reaver o dinheiro, o registro do BO ajuda as autoridades a gerar indicadores e mapear contas que estão sendo utilizadas para lavagem de dinheiro”, justifica Bordini.
O Gestor de Produtos e Fraude & ID da TransUnion no Brasil, Fernando Gomes, destaca ainda a necessidade de não só de monitorar o uso dos seus dados, mas trocar de imediato todas as credenciais de acesso ao banco, e-mails e redes sociais. “Como você se sentiria ao receber uma mensagem com uma oferta irresistível de um empréstimo pessoal em um momento de pressão financeira ou emocional? Os fraudadores exploram estas fragilidades. Troque todas as senhas que você utiliza porque eles podem interpretar seu padrão de criação de senhas para tentar invadir suas contas. Não deixe de ter um bom antivírus instalado”, alerta.
OS GOLPES MAIS COMUNS DE ROUBO DE DADOS
1. Fake news com conteúdo pornográfico: O Dfndr lab - laboratório especializado em segurança digital da PSafe - registrou 43.116 mil acessos só no mês de outubro. Evite este link : https://g1-globosaude.com/revista-do-homem/ ?mcr=AMF898626?mcr=AMF898626#
2. Temas de futebol para tela de celular: Foram 38.542 cliques, conforme dados do mesmo laboratório. Não clique em: https://timesfutebol.me/invite.html
3. Camisa com o tema do outubro rosa: Até mesmo este tipo de mobilização pode ser uma isca para os ladrões de dados. Foram 27.447. Não acesse o site http://novidadesdehoje.com/somos/outubro/rosa.
4. Cartão do Nubank pré-aprovado: A proposta de obtenção do cartão de crédito chegou a 23.674 ataques. Evite o endereço: http://conviteespecial.info/resgate/
5. Site pornográfico: No ranking do Dfndr lab, foram 18.745 acessos ao endereço criminoso groupwhats.com/v/keudo.
DICA DA SEMANA: PROTEJA-SE
Links: É preciso ter muito cuidado com links compartilhados, sobretudo, via WhatsApp. Sempre verifique as informações compartilhadas nos sites oficiais das empresas. Verifique a reputação nos canais de reclamação e fique atento também ao texto das mensagens: se há algum erro gramatical ou se a linguagem do texto das mensagens é muito informal. É possível checar gratuitamente o link no site do Dfndr Lab.
Sobre as ofertas: Golpes de oferta de empréstimo também buscam uma fragilidade da vítima, geralmente um problema financeiro causado, principalmente, pelo desemprego. O fraudador sempre vai propor algo para ajudar a sair dessa situação. Nenhum tipo de empréstimo de empresas regulares exige pagamento de taxa para antecipação dos recursos ou para abono de parcelas futuras.
Cuide dos seus dados: Evite divulgar suas informações pessoais e financeiras em comunicações e ofertas não confiáveis.
Celulares, tablets e computadores: Mantenha um bom antivírus instalado, de preferência um que tenha proteção anti-phishing.
Transações: Evite utilizar redes Wi-Fi abertas para acessar serviços bancários.
Práticas comuns: Não caia em pressão psicológica do tipo ‘você tem duas horas para fazer o depósito senão você perde o empréstimo’. É um argumento frequente nestes golpes de empréstimos.
Caiu em um golpe? Troque todas as credenciais do seu internet banking, e-mail e redes sociais. Não deixe de registrar um boletim de ocorrência. Também entre em contato com banco para comunicar o ocorrido.
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