A Polícia Federal realiza nesta quinta-feira a segunda fase da Operação Venire, que apura a existência de uma associação criminosa responsável por inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), ambos do Ministério da Saúde.
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), contra agentes públicos vinculados ao município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O município foi utilizado para o registro de dados falsos de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e dos familiares de ambos. A ação tem como objetivo buscar a identificação de novos beneficiários do esquema fraudulento, segundo a PF.
Entre os alvos, estão o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis e a secretária de Saúde do município, Célia Serrano. Atualmente, Reis é secretário estadual de Transporte da gestão Cláudio Castro (PL). Ele era aliado de Bolsonaro e irmão do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ).
Após o cumprimento do mandado, Washington Reis negou qualquer irregularidade com a vacinação em Duque de Caxias e afirmou que não iria “bater boca com a Justiça”:
— Fomos a cidade número 1 do país. Não fechamos, abrimos hospitais, abrimos 200 leitos de CTIs, atendemos toda a Baixada Fluminense, vacinamos todo mundo. Não guardamos vacina e nunca faltou vacina. Agora nós estamos sendo vítimas, não vou dizer de covardia porque não sou frouxo. Eu vacinei no meio da rua, mostrando o meu braço.
Em março, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro, Gutemberg Reis e Mauro Cid no inquérito da fraude das carteiras de vacina. Eles foram acusados dos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação.
Ao concluir inicialmente o relatório, a PF apontou que Bolsonaro não apenas tinha ciência do esquema de fraude, como ordenou a falsificação. "Vários atos de acesso ao sistema ConecteSUS, inclusive a impressão de certificado de vacinação ideologicamente falso, foram praticados na residência oficial da Presidência da República, Palácio do Alvorada, ocupada na época dos fatos por Jair Messias Bolsonaro", diz o primeiro relatório da PF.
De acordo com os investigadores, a falsificação dos certificados pode ter sido feita pelo grupo "para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de golpe de Estado que eclodiu no dia 8 de janeiro de 2023".
As apurações apontam que um grupo ligado ao ex-presidente inseriu as informações falsas no sistema do Ministério da Saúde poucos dias antes de Bolsonaro viajar aos Estados Unidos, em dezembro de 2022, último mês do mandato dele. Na época, os Estados Unidos exigiam comprovante de vacinação para admitir a entrada de estrangeiros.
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