O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, e o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior confirmaram à Polícia Federal a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na reunião que discutiu uma minuta golpista para mantê-lo no poder e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações foram reveladas pela CNN e o jornal O Globo e implicam diretamente Bolsonaro na trama golpista que está sob investigação da Polícia Federal.
Os dois prestaram longos depoimentos aos investigadores. No caso de Freire Gomes, ele retornou de uma viagem à Espanha para depor à Polícia Federal na última sexta-feira (1º). Na ocasião ele passou mais de sete horas na sede da PF em Brasília, onde foi ouvido como testemunha e respondeu a cerca de 250 perguntas sobre os dias finais de sua chefia no Exército, segundo pessoas próximas ao general.
Diferentemente de outros militares de alta patente investigados que ficaram em silêncio, como os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno, o comandante do Exército decidiu falar. O que inclusive lhe permitiu manter a condição de testemunha, que tem obrigação de falar verdade. No depoimento, Freire Gomes teria confirmado a versão delatada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, de que, na reunião com os comandantes das Três Forças, apenas o comandante da Marinha, Almir Garnier, teria sinalizado apoio ao golpe. Garnier também ficou em silêncio em seu depoimento à PF.
Bolsonaro intercedeu por acampamentos
Outro ponto que Freire Gomes teria relatado foi que o então presidente Jair Bolsonaro pediu para que não fossem retirados os acampamentos golpistas de frente dos quartéis generais em todo o país. As investigações da Polícia Federal identificaram que os acampamentos no Quartel-General do Exército, a capital federal, financiado por empresários bolsonaristas, serviram como base para os crimes ocorridos não apenas no 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas, mas também nos dias 12 e 24 de dezembro de 2022.
Na primeira data, apoiadores do ex-presidente tentaram invadir o prédio da PF e entraram em confronto com forças de segurança. Já na segunda data, houve o episódio do atentado a bomba ocorrido nos arredores do Aeroporto de Brasília.
O general Freire Gomes é citado no relatório da Polícia Federal sobre o planejamento de um golpe de Estado como um dos militares que teriam sido contrários às investidas contra o resultado eleitoral. A resistência do militar foi criticada pelo general Walter Braga Netto, que era candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. “A culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e (sic) do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu Braga Netto em mensagem encontrada pela PF, em que ainda chama o militar de “cagão”.,
Depoimentos confirmam Cid
Apesar do relato do ex-comandante, em 11 de novembro de 2022 os chefes das três Forças divulgaram nota em apoio às manifestações que ocorriam pelo país. O texto afirmava que “são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”.
Para os investigadores, os depoimentos dos comandantes do Exército e da FAB são considerados importantes por auxiliar a preencher algumas lacunas da investigação e confirmar a versão que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid tem apresentado em sua colaboração premiada fechada com a Polícia Federal e que precisa ser comprovada para que ele possa fazer jus aos benefícios.
Todos os depoimentos seguem sob segredo de Justiça e a PF sequer liberou para os advogados dos investigados que levassem cópias dos depoimentos de seus clientes, uma praxe em toda investigação policial.
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