Ele diz que isso é parte de uma estratégia para mobilizar apoiadores em nome de um projeto autoritário.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira, 6, que foi transformado em ‘vilão’ pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por seus aliados como parte de uma estratégia para mobilizar apoiadores em nome de um projeto autoritário.
"Você tem que achar dentro da instituição um inimigo, de carne e osso, porque aí você personifica. No caso do Brasil, foi carne, osso e sem cabelo", brincou o ministro em um evento no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. "Você vai batendo, porque dá ibope. É uma novela. Não existe novela em que o vilão é uma instituição, o vilão tem que ser uma pessoa."
Moraes afirmou ainda que os ataques, dirigidos também aos colegas no STF, não se restringiram aos ministros e alcançaram seus familiares. O filho de Moraes, o advogado Alexandre Barci, foi hostilizado no aeroporto de Roma, na Itália, em julho.
O ministro é relator de investigações sensíveis que atingem o ex-presidente e foi alvo de pesados ataques do bolsonarismo ao longo do governo anterior. Bolsonaro ameaçou descumprir decisões judiciais e chegou a protocolar no Senado um pedido de impeachment contra Moraes.
Além de ministro do STF, Moraes também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral e foi responsável por organizar as eleições de 2022. Ao longo da campanha, precisou lidar com narrativas infundadas difundidas pelo próprio Bolsonaro de que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e podiam ser fraudadas.
Moraes afirmou que as redes sociais foram instrumentalizadas pela extrema-direita para transformar eleitores em ‘fanáticos’ e para espalhar fake news sobre o processo eleitoral.
"É uma verdadeira lavagem cerebral. O algoritmo percebe o viés de interesse e, partir disso, vai induzindo uma série de informações verdadeiras que constroem uma narrativa e uma conclusão falsas", afirmou o ministro. "Essas bolhas vão sendo alimentadas, conquistadas, fanatizadas e aí surge o retorno do discurso de ódio."
O ministro ironizou ainda o discurso popular entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o avanço do comunismo. "Você fala em comunismo, principalmente entre pessoas mais velhas, é um negócio. ‘Por que você é contra não sei o quê? Porque vão instalar o comunismo no Brasil’", ironizou. "É impressionante como o comunismo dá ibope. 99% das pessoas que falam nem sabem o que é comunismo."
A avaliação do ministro, no entanto, é que as instituições democráticas no Brasil foram capazes de garantir a democracia: "Às vezes as pessoas confundem estabilidade democrática com necessariamente um período de tranquilidade. E, das maiores democracias, a brasileira talvez seja a que mais sofreu ataques e teve problemas e superou esses problemas em virtude do fortalecimento que a Constituição deu às suas instituições."
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