O tenente-coronel Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio. Poucos dias depois, em 18 de maio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), logo após visitar seu filho Flávio no Senado, soltou uma frase à imprensa que serviu como uma espécie de senha de que o seu ex-ajudante de ordens estava abandonado à própria sorte:
"Ele fez o melhor de si. Peço a Deus que ele não tenha errado. E cada um siga a sua vida", seguida de uma série de elogios à carreira de Cid.
Segundo fonte do colunista Josias de Sousa, do UOL, Cid teria interpretado o comentário como uma fronteira demarcada por seu ex-chefe, que o colocava do lado da suspeição enquanto ele se safava de tudo, como alguém que não sabia de nada.
Além disso, Cid, que até então se mantinha em silêncio e leal a Bolsonaro, assistiu irritado em sua cela no Quartel-General de Brasília, uma entrevista do advogado Rodrigo Roca, que contratou logo que foi preso.
Roca, que é ligado à família do ex-presidente, afirmou então que não houve "qualquer intervenção por parte do presidente Bolsonaro" no caso da fraude dos cartões de vacina.
No dia 11 de agosto, agentes da Polícia Federal acordaram o general Mauro Lourena Cid, o pai de Cid, com um mandado de busca e apreensão emitido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A partir destes e diversos outros fatos, Cid resolveu mesmo seguir o conselho de Bolsonaro, e seguiu a sua própria vida.
A homologação de sua delação deixou tanto seu ex-chefe, quanto filhos e a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, apavorados. O que ele tem a dizer, que está mantido em sigilo por Moraes e os agentes da PF, deve ser explosivo o suficiente pra colocar o ex-presidente na cadeia.
Cid deixou a prisão
O ex-ajudante de ordens da presidência da República, Mauro Cid, deixou a prisão em Brasília, por volta das 14h30 deste sábado (9), após decisões de Alexandre de Moraes, que autorizou sua soltura e homologou um acordo de delação premiada.
A liberdade concedida por Moraes a Cid vem acompanhada de uma série de medidas cautelares e se deu após o militar manifestar interesse em fazer uma colaboração premiada com a Polícia Federal (PF) no âmbito de investigações que miram, entre outras pessoas, Jair Bolsonaro - e que têm potencial para levar o ex-presidente à prisão.
Mauro Cid estava preso desde 3 de maio, quando foi alvo de uma operação da PF que investiga um esquema criminoso de falsificação de cartões de vacina.
Em sua delação premiada, o ex-ajudante de ordens deve dar detalhes e fornece provas sobre este outros crimes que são investigados no âmbito do inquérito das milícias digitais, entre eles as articulações por um golpe de Estado que envolveriam Jair Bolsonaro e seu entorno e o escândalo das joias e presentes de luxo ao Estado brasileiro que o o ex-presidente se apropriou ilegalmente e vendeu nos Estados Unidos.
Ao autorizar a soltura de Mauro Cid, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o militar seja afastado imediatamente de suas funções no Exército e impôs medidas restritivas, que são:
Proibição de ausentar-se da comarca e recolhimento domiciliar no período noturno e nos finais de semana mediante uso de tornozeleira eletrônica;
Obrigação de apresentar-se perante o juiz, no prazo de 48 horas, e comparecimento semanal, todas as segundas-feiras;
Proibição de ausentar-se do país, com obrigação de realizar a entrega de seus passaportes no prazo de cinco dias;
Cancelamento de todos os passaportes emitidos, tornando-os sem efeito;
Suspensão imediata de quaisquer documentos de porte de arma de fogo em nome do investigado, bem como de quaisquer certificados de registro para realizar atividades de colecionamento de armas de fogo, tiro desportivo e caça;
Proibição de utilização de redes sociais;
Proibição de comunicar-se com os demais investigados, com exceção de sua esposa, filha e pai.
Delação premiada
Em nota oficial, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes confirmou, na tarde deste sábado (9), a homologação da delação premiada que Mauro Cid fará junto à Polícia Federal.
Confira o comunicado:
"Em 9/9/2023, nos termos do § 7º, do artigo 4º da Lei nº 12.850/13, presentes a regularidade, legalidade, adequação dos benefícios pactuados e dos resultados da colaboração à exigência legal e a voluntariedade da manifestação de vontade, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, ALEXANDRE DE MORAES, homologou o ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA N° 3490843/2023 2023.0070312- CGCINT/DIP/PF, referente às investigações do INQ 4.874/DF e demais Petições conexas, realizado entre a POLÍCIA FEDERAL e MAURO CÉSAR BARBOSA CID, devidamente acompanhado por seu advogados, a fim de que produzam seus efeitos jurídicos e legais".
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