Depois que o hacker Walter Delgatti Neto passou pela cadeira de oitivas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Golpe, há uma semana, como um veículo caça-minas em pleno campo de batalha e entregou os nomes dos generais Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Freire Gomes, ex-comandante-geral do Exército, a caserna se assanhou em Brasília. Nogueira e Freire Gomes são os dois oficiais de mais alta patente investigados pelo Supremo Tribunal Federal, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela CPMI como “co-conspiradores” contra a Democracia brasileira entre 2022 e 2023. Os dois terão de depor à PF e ao MP, a pedido do ministro do STF Alexandre de Moraes. O atual comandante-geral do Exército, general Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, não querem vê-los submetidos ao crivo muitas vezes implacável e de mira bem calibrada dos parlamentares governistas na CPMI, expostos ao público em transmissões de TV ao vivo.
Paiva e José Múcio também não querem o ex-comandante militar do Planalto (que estava no posto no dia da Grande Infâmia, 8 de janeiro de 2023), o general (ainda na ativa) Dutra de Menezes e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do presidente Lula, general Gonçalves Dias (demitido em maio, a pedido dele mesmo, depois do vazamento editado e desconexo de imagens do Palácio do Planalto durante a invasão dos bolsonaristas golpistas, divulgadas pela CNN, que depois corrigiu e contextualizou o vídeo divulgado), submetidos a maus tratos nos depoimentos que deverão dar à Comissão do Congresso Nacional. Esse foi o tema e tais nomes foram os parâmetros da reunião entre o comandante-geral do Exército, o ministro da Defesa e o presidente da CPMI do Golpe, deputado Arthur Maia (PSD-BA) nesta 4ª feira.
Maia não se comprometeu a assegurar a não convocação dos generais. Gonçalves Dias, por exemplo, tem depoimento marcado para o próximo dia 31 de agosto. Entretanto, assegurou firmeza na condução da reunião e garantiu que impedirá maus tratos aos militares quando sentados na cadeira de depoentes. Em paralelo, o Alto Comando do Exército e o Ministério da Defesa foram informados que as investigações da CPMI, da CPI dos Atos Antidemocráticos em curso na Câmara Legislativa do Distrito Federal e da Polícia Federal caminham para determinar a compactuação criminosa de dois generais - José Carlos Assumpção Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues - com os golpistas vândalos e baderneiros arregimentados pelo bolsonarismo que invadiram e depredaram o Palácio de Planalto no dia 8 de janeiro.
Penteado era, à época, secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional comandado por Gonçalves Dias. Em janeiro, ainda estava na ativa. Ele era remanescente da equipe do general Augusto Heleno, homem de confiança de Jair Bolsonaro e ministro do GSI até 31 de dezembro de 2022. O general Penteado ficou no cargo sob a confiança de Gonçalves Dias, que dizia acreditar no “profissionalismo” das Forças Militares e não cria na contaminação do Exército pelas maluquices criminosas e ideológicas de Bolsonaro. Na manhã do dia 8 de janeiro Penteado foi consultado pelo chefe, GDias, sobre o acionamento do plano “Escudo do Planalto”, o esquema de segurança militar do Palácio, e se havia mesmo chance de ocorrerem “problemas maiores” nos protestos daquele domingo. O general, executivo do GSI, a quem cabia estruturar todas as determinações passadas por Gonçalves Dias, disse que estava “tudo normal” e que o ministro-chefe do GSI não precisava ir ao Palácio do Planalto porque estava “tudo certo”. GDias não o ouviu, e foi ao Planalto. Chegou lá pouco antes da invasão do Palácio pelos vândalos golpistas e encontrou um general Penteado que não havia sequer, ainda, cobrado a presença de todo o efetivo do Batalhão da Guarda Presidencial diante das entradas palacianas. Também há relatos, nos inquéritos abertos para investigar aquela baderna antidemocrática, dando conta de acenos amistosos trocados por Penteado com agressores do Palácio.
Feitosa era o chefe da Secretário de Coordenação e Segurança Presidencial, órgão também vinculado ao GSI. Assim como o colega Penteado, também foi mantido no posto durante a transição das equipes de Augusto Heleno (o “nanogeneral”) e GDias. Quando o então ministro Gonçalves Dias entrou no Palácio do Planalto, por volta das 14h do dia 8 de janeiro, e os vândalos bolsonaristas estavam rompendo o último bloqueio ralo e permeável da Polícia Militar do Distrito Federal montado na Esplanada dos Ministérios (na altura do Ministério da Justiça) para avançarem até o Planalto, Feitosa também não dava ordens de comando ao pessoal de segurança que deveria liderar. Feitosa foi excessivamente cordial com os invasores bolsonaristas e parecia confraternizar com alguns deles.
Os generais Penteado e Feitosa, agora, foram colocados no centro das apurações dos atos antidemocráticos, nas diversas esferas em que essas apurações ocorrem. A assunção dos nomes deles virá com o beneplácito dos comandos militares e da Defesa a fim de fazer com que saiam da alça de mira dos investigadores - inclusive da CPMI - os generais que estavam no topo da cadeia bolsonarista. Arthur Maia não conseguiu dar sinais eficazes a Tomás Paiva e a Múcio de que conseguirá operar esse bay pass nas investigações e inquirições do Congresso. Quanto ao general Gonçalves Dias, cujo depoimento está marcado para o dia 31 e é uma espécie de ideia fixa de alguns parlamentares da oposição, tem sido cobrado por colegas de tropa apenas por ter confiado demais num “profissionalismo” de um Exército que já estava inteiramente contaminado pelo discurso de ódio e pelo aventureirismo golpista.
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