Decisão se deve à certeza de que a fase de descontrole da doença foi superada
Embora a imensa maioria dos países já se sentisse fora de perigo e já tivesse atravessado longos processos de flexibilização lenta, gradual e até certo ponto segura, um sopro de alívio varreu o planeta na manhã de sexta-feira (05), quando o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom, comunicou: “É com grande esperança que declaramos que a covid-19 não é mais uma emergência sanitária global”. Após mais de três anos, quase sete milhões de mortos, 765 milhões de casos e U$$ 16 trilhões de impacto econômico estimado, o que motivou a decisão da OMS?
Antes de entender as razões por trás do anúncio de Adhanom, é preciso ter consciência de que a medida não declara a extinção da pandemia provocada pelo vírus Sars-CoV-2, nome científico do novo coronavírus. Pelo contrário. Assim como a Aids jamais perdeu a classificação recebida em meados da década de 1980, o estado pandêmico para covid permanecerá. Em síntese, a humanidade será obrigada a conviver por tempo indefinido com um inimigo que se multiplica em número substancial de variantes e subvariantes de diferentes tipos de agressividade.
O comunicado do chefe da OMS atesta apenas que o mundo não enfrenta mais o mesmo nível de risco vivido nos anos iniciais da pandemia. Em especial, 2020 e 2021, quando a covid produziu milhares de mortes diárias e esvaziou ruas, no rastro das regras de isolamento social, lockdown e, sobretudo, medo de contrair um vírus letal e ainda desconhecido pela ciência.
O fim da emergência sanitária imposta em 20 de janeiro de 2020, cerca de dois meses antes que a pandemia fosse oficialmente declarada pela OMS, se deve ao avanço da imunização em escala global. O desenvolvimento de vacinas para uso humano, fruto de um esforço científico global sem precedentes, ocorreu em tempo recorde.
Os primeiros imunizantes chegaram à população em dezembro de 2020, um ano depois que o novo coronavírus foi confirmado na China. No Brasil, a vacinação só começou em janeiro de 2021. De lá para cá, foram aplicadas 13,3 bilhões de doses no mundo inteiro, segundo dados atualizado pela OMS. Para especialistas e pesquisadores da área, a imunização massiva é a responsável direta pelo fim do ciclo emergencial.
“Neste momento, a covid-19 acontece em níveis controlados. O que determina o estado de emergência é quando a doença está descontrolada. Então, por ter conseguido o controle da pandemia, especialmente com a vacinação, a declaração da OMS faz sentido”, destacou o epidemiologista Pedro Hallal, professor da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, disse que a decisão já era esperada, porque a covid-19 tem apresentado dados epidemiológicos compatíveis a outras doenças respiratórias endêmicas com surtos epidêmicos, a exemplo da gripe. “Não temos mais o mesmo impacto que tivemos na rede hospitalar, em mortalidade e casos graves, como em 2020 e 2021”, destacou.
“Tivemos grandes desafios, no que se refere a políticas públicas de contenção de transmissão, com lockdowns, distanciamentos e uso de máscaras. Ao mesmo tempo, muitos negacionistas fizeram uso político dessas medidas ou tentaram minimizar o problema. Esse é um momento de reflexão, de olhar para frente e para trás, porque outras virão. Espero que possamos estar mais preparados para enfrentá-las”, alertou o infectologista pediátrico Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
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