Minuta e propostas para um golpe para impedir a posse de Lula "tinha na casa de todo mundo", disse o presidente do PL, em entrevista recheada de ironia em que destrói a imagem do ex-presidente.
Em entrevista recheada de ironias e alfinetadas, o presidente do PL Valdemar da Costa Neto tentou minimizar a influência de Jair Bolsonaro (PL) na produção da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, que está preso. O documento fez com que o ex-presidente entrasse no rol de investigado dos atos terroristas realizados por apoiadores no dia 8 de janeiro em Brasília.
Costa Neto disse que Bolsonaro nunca falou em contestar a eleição com ele - embora o partido tenha sido usado para entrar com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contestando justamente o resultado das eleições presidenciais - e que recebeu "várias propostas" sobre um golpe de Estado para impedir que Lula assumisse a Presidência.
"Nunca comentei, mas recebi várias propostas, que vinham pelos Correios, que recebi em evento político. Tinha gente que colocava (o papel) no meu bolso, dizendo que era como tirar o Lula do governo. Advogados me mandavam como fazer utilizando o artigo 142, mas tudo fora da lei. Tive o cuidado de triturar. Vi que não tinha condições, e o Bolsonaro não quis fazer nada fora da lei. A pressão em cima dele foi uma barbaridade. Como o pessoal acha que ele é muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe. Ele não fez isso porque não viu maneira de fazer", disse Costa Neto, emendando com uma pergunta indignada: "Agora, vão prendê-lo por causa disso?".
Segundo o presidente do PL, "aquela proposta que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo".
"Muita gente chegou para mim agora e falou: 'Pô, você sabe que eu tinha um papel parecido com aquele lá em casa. Imagina se pegam'”, afirmou.
Em seguida, Costa Neto destruiu a imagem de Bolsonaro revelando detalhes do "baque" após a derrota para Lula para justificar o silêncio diante dos pedidos de golpe por parte dos apoiadores.
Indagado o motivo do silêncio, o presidente do PL listou as reações do ex-presidente e fez mea culpa por não prepará-lo para "uma possível derrota".
"Baque. Isso pode ter sido um erro meu, dos políticos, que não o preparamos para uma possível derrota. Nunca tocamos nesse assunto, não passou isso pela cabeça dele. Quando fui lá na segunda-feira (após a eleição), ele estava um pó. Quando eu o vi após uma semana, eu achei que ele ia morrer. O cara estava desintegrando. Passaram três ou quatro semanas, e vi que ele melhorou. Perguntei o que era, e ele disse que estava comendo, porque ele ficava quatro ou cinco dias sem comer nada. O mundo dele virou de ponta-cabeça", afirmou ao jornal O Globo.
Costa Neto ainda disse ao diário fluminense, da família Marinho, que fala pouco com Bolsonaro, mas que o ex-presidente teria prometido que "no final do mês estará aqui".
"Quero que ele volte, porque ele é muito importante para nós. Por exemplo, para conduzir essa bancada de direita que nós temos aqui. O pessoal é muito extrema-direita. Com Bolsonaro aqui, eu estou no céu. Eles ouvem Bolsonaro. Não vão ouvir a mim".
Na Folha, o repórter Thiago Amâncio, que se hospedou no mesmo condomínio onde está o ex-presidente na cidade de Kissimmee, próximo a Orlando, na Flórida, diz, no entanto, que Bolsonaro teria pedido para o lutador José Aldo Júnior, dono da mansão, para estender sua hospedagem até depois do Carnaval.
A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, retornou nesta quinta-feira (26) ao Brasil.
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