O presidente Jair Bolsonaro afirmou ter buscado "alternativas" "dentro das quatro linhas da Constituição" após a derrota nas eleições, mas admitiu não ter tido apoio para elas, ressalvando também que não é hora de um "tudo ou nada" em uma live nesta sexta-feira a dois dias da posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência.
"O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês, como foi difícil ficar calado dois meses trabalhando para buscar alternativas. Qualquer coisa que eu falasse, seria um escândalo na imprensa, eu quieto sou atacado", afirmou.
"Sei que tem muita gente que me critica quando eu falo das quatro linhas. Eu não saí de dentro das quatro linhas ao longo dos quatro anos de mandato porque ou vivemos em uma democracia ou não vivemos", avaliou.
Bolsonaro não detalhou que "alternativas" estava se referindo, apesar de ter voltado a criticar a Justiça Eleitoral tanto por ter supostamente atuado contra ele nas eleições como por ter rejeitado uma petição feita por seu partido que, sem provas, alegava ter havido fraude nas urnas eletrônicas.
As declarações vem depois de dois meses nos quais o presidente não reconheceu formalmente a derrota para Lula e tampouco rejeitou o pedido de seus apoiadores na porta das instalações militares que pedem que ele acione as Forças Armadas com base em uma interpretação equivocada do artigo 142 da Constituição, estimulada nas redes sociais ligadas ao bolsonarismo e que chegou a ser defendida pelo presidente em reunião tornada pública em 2020. Nesse período, praticamente não fez declarações públicas.
Em 52 minutos de transmissão, no qual fez uma espécie de balanço de seu governo, o mandatário chamou de "pacíficas" as manifestações diante dos quartéis, mas condenou o que chamou de tentativa de "ato terrorista", após a polícia prender um suspeito que confessou ter participado de um plano para detonar uma bomba em Brasília.
"Não vamos achar que o mundo vai acabar dia 1º de janeiro e vamos para o tudo ou nada. Não tem tudo ou nada. Inteligência. Vamos mostrar que somos diferentes do outro lado", afirmou ele, ao acrescentar, em outro momento, entender que há quem esteja chateado e o criticando a tomar medidas e que também haveria muita gente vivendo um "clima de tristeza", "quase velório".
Bolsonaro destacou que "ninguém quer uma aventura" e que "mesmo dentro das quatro linhas" é preciso ter apoios. Ele comentou que alguns acham que era pegar a caneta BIC e assinar, fazer isso ou aquilo e está "tudo resolvido" --nos acampamentos bolsonaristas, há o clamor para que ele assine uma espécie de decreto que convoque os militares e gritos de "eu autorizo".
O presidente afirmou ainda que, em nenhum momento, foi procurado para "fazer nada errado, violentando seja o que for", ressaltando que até hoje tem feito a sua parte.
"Até hoje fiz a minha parte dentro das quatro linhas, agora certas medidas têm que ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo, de outros órgãos, de outras instituições, não pode acusar apenas um lado ou acusar a mim você que quer resolver o assunto por vezes você pode até ter razão, mas o caminho não é fácil", destacou, sem mencionar as Forças Armadas nem pedir a desmobilização de seus apoiadores.
Sem citar nominalmente Lula e mais uma vez sem reconhecer publicamente a derrota para o petista, Bolsonaro disse que o governo que está "previsto para assumir no domingo" começa "capenga" e com "muitas reações" ao fazer críticas, por exemplo, a eventuais medidas econômicas e apoios de governos de esquerda que o novo chefe do Executivo deve tomar e receber.
Ainda assim, ao anunciar que fará oposição ao terceiro mandato do petista, o presidente ressaltou que não se quer confronto e não estimula ninguém a ir para o confronto, porque é a "pior maneira de resolver".
Na live, emocionado, Bolsonaro disse ter feito sacrifícios da família em prol do país. "Perdem-se batalhas, mas não perdem-se guerras", disse.
O presidente não mencionou sua viagem aos EUA, para a qual já haviam sido aprovadas oficialmente as idas de seus assessores, mas site FlightAware, que monitora tráfego de voos, mostrou que o avião presidencial partiu de Brasília pouco depois das 14h com destino a Orlando, na Florida. Questionado sobre a viagem pela Reuters, o Palácio do Planalto não havia respondido até a o início da tarde.
No lado de fora do Alvorada, a Reuters testemunhou o protesto de apoiadores do presidente. Alguns deles o chamaram de "covarde" e deixaram o local. (Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu).
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