Promoção valia para quem usasse camiseta do Brasil; carne carregava a imagem do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL)
Yeda Batista da Silva, de 46 anos, morreu depois de passar mal durante um tumulto para comprar a 'picanha mito', que estava na promoção por R$ 22 o quilo no Frigorífico Goiás. A oferta valia para quem usasse camiseta do Brasil e, na tentativa de entrar no local, a mulher foi prensada na porta do estabelecimento. A confusão aconteceu no domingo (2), dia das eleições presidenciais.
O marido de Yeda, Wanderley de Paula, de 51 anos, informou à Polícia Civil que a mulher tinha problemas de circulação e foi esmagada no tumulto. "Estava um clima bom, mas foi chegando muita gente e ainda atrasou a abertura. Falei para irmos embora, mas ela insistiu em ficar no local até 9h. Estávamos bem próximos da porta, mas na hora de abrir o tumulto foi tão grande que me perdi dela. Depois de procurar, vi que ela estava dentro do carro", contou Wanderley, ao jornal goiano Diário do Estado.
A perna de Yeda começou a inchar após a situação. Wanderley, que é bombeiro aposentado, deixou a esposa em casa e saiu. "Eu fui votar e antes de chegar no local, ela me ligou dizendo que estava com muita dor", disse. O marido voltou e levou a esposa para o hospital. Por conta da gravidade, ela seria transferida para um hospital especializado, mas não resistiu e acabou morrendo devido a uma hemorragia na unidade médica.
"Ainda não foi esclarecida a causa da morte, mas tudo indica que foi um choque hemorrágico. Ela estava com a perna inchada e isso auxiliou na hemorragia. Nunca pensei que isso iria acontecer. Me arrependo, a gente imagina se não tivesse ido nada disso teria acontecido. Estamos sofrendo muito com a perda", desabafou.
A morte foi incialmente registrada como acidental, já que Yeda tinha uma doença autoimune que afetava os rins e a circulação do sangue. Mas a 4ª DDP de Goiânia, que está investigando o caso, solicitou um exame cadavérico para determinar as causas da morte da mulher.
Crime eleitoral
O Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral) requisitou à Polícia Federal, na segunda-feira (3), a instauração de inquérito policial para apuração de eventual crime eleitoral praticado pelo cantor Gusttavo Lima e pelos gestores da empresa Frigorífico Goiás, que realizou a promoção. A promoção da “picanha mito”, que usava o número e a imagem do candidato à reeleição Jair Bolsonaro, gerou tumulto pela grande quantidade de pessoas que tentavam entrar no local ao mesmo tempo.
"Os fatos levaram a crer, em tese, tratar-se de propaganda eleitoral análoga à de boca de urna com arregimentação de eleitores; divulgação de propaganda de partido político ou de seu candidato; e a publicação de conteúdos nas aplicações de internet no dia das eleições", informou o MPE em nota.
De acordo com o procurador regional eleitoral auxiliar José Ricardo Teixeira Alves, autor da requisição, “o Frigorífico Goiás e Gusttavo Lima são responsáveis pelo ilícito eleitoral. O primeiro como proprietário do helicóptero e o segundo como cantor de fama nacional e internacional que cedeu sua imagem à empresa e dela fez uso extensivo nas circunstâncias do caso”, argumentou o procurador regional eleitoral José Ricardo Teixeira Alves.
No mesmo dia (2/10), o Tribunal Regional Eleitoral, acolheu a representação por Propaganda Eleitoral Irregular (autos nº 0603477-55.2022.6.09.0000), proposta pela Coligação Juntos por Goiás e pelo Brasil, e deferiu medida liminar determinando ao frigorífico a imediata suspensão da prática comercial e a remoção da sua divulgação das redes sociais, sob pena de multa no montante de R$ 10 mil por hora de descumprimento.
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