O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) teve de abrir em 14 de setembro um novo concurso para contratar mais de 8.000 recenseadores e agentes censitários para trabalhar no Censo 2022. Isso acontece bem no meio dos trabalhos do Censo, que começaram em agosto. Em quase dois meses de entrevistas, menos de 30% dos setores que compõem a pesquisa foram concluídos, segundo o IBGE. A previsão era concluir o trabalho até o final de outubro, mas o IBGE anunciou o adiamento até dezembro.
O que está acontecendo? Em agosto, quase 20 dias após o início das pesquisas, o IBGE divulgou que já havia feito 6.550 rescisões de contratos de trabalhadores temporários. Embora as demissões representem 3,7% dos recenseadores contratados (incluindo quem está em treinamento, segundo o IBGE), os problemas se acumulam. Os trabalhadores afirmam que sofrem assédio verbal e ameaças durante a pesquisa. No início de setembro, houve greve por atraso nos pagamentos e pedido de melhores condições de trabalho.
Ameaças e atrasos de salário: Os recenseadores relatam que passam por situações complicadas, como assaltos, ameaças, assédio sexual e racismo.
Os trabalhadores também reclamam de atraso nos pagamentos. Plínio Arraes, um dos fundadores da União dos Recenseadores, em Salvador (BA), afirma que as pessoas não têm dinheiro nem para trabalhar. "É uma degradação do serviço público", afirma.
Para Lucas Ferreira, outro líder do União dos Recenseadores, contratar mais pessoas para passar pelos mesmos problemas não é a solução. Ele diz que não tem como terminar o Censo na data prevista nessas condições.
Recusa em responder às entrevistas: Ferreira afirma que há uma resistência da população em responder e que é desgastante voltar para a mesma casa várias vezes até conseguir uma entrevista.
Quais as dificuldades dos recenseadores? A recenseadora Tatiane Oliveira Sousa já fez o Censo 2010 e voltou a fazer parte da coleta como uma forma de garantir uma renda extra para a família, que vai aumentar, pois ela está grávida.
Ela conta nas redes sociais os perrengues da rotina, como sobrecarga de trabalho, endereços que que não existem, e a recusa dos moradores em responder ao questionário.
"Sou uma mãe de família que viu no Censo uma oportunidade de aumentar a renda, mas a gente enfrenta muitas questões. Só queremos trabalhar com dignidade."
Reivindicações dos trabalhadores: Os recenseadores reclamam de demora de pagamento nos setores já concluídos, atrasos nos repasses do auxílio-deslocamento e na remuneração referente ao período de treinamento. Além disso, alegam falta de transparência e informação. Entre os pedidos, estão:
O que diz o IBGE? Para o IBGE, a desistência de pesquisadores está dentro do esperado. "A rotatividade no quadro de recenseadores é normal, considerando-se um universo com mais de 180 mil trabalhadores temporários, que estarão trabalhando no IBGE por pouco mais de três meses", diz o instituto em resposta ao UOL.
No momento, 153.878 recenseadores estão contratados, enquanto 20.819 estão em treinamento, totalizando 174.697. O instituto afirma que, desde o início do Censo 2022, foram feitos cinco processos seletivos suplementares. O mais recente oferece 7.795 vagas para recenseadores e 436 para agentes censitários.
Por que atrasou o pagamento? Questionado sobre os trabalhadores, o IBGE responde que mais de 90% dos problemas de pagamento se deram ainda nas primeiras semanas, por erros de cadastro, muitas vezes cometidos pelos próprios recenseadores.
Além disso, o congestionamento nos sistemas de algumas unidades estaduais contribuiu para o atraso, diz o órgão.
A fundação diz que ambos os casos foram solucionados e chama atenção para o fato que os recenseadores recebem por produção, após entregarem seu setor censitário concluído e com a aprovação de seus supervisores.
"É importante, dedicar o máximo de horas possível à atividade, e procurar visitar os domicílios em horários alternativos, para conseguir encontrar os moradores em suas residências", diz o IBGE.
Qual o futuro do Censo 2022? Segundo o instituto, o maior desafio agora é que os recenseadores sejam recebidos em todos os domicílios do Brasil.
O plano do IBGE para resolver a situação é que os supervisores das unidades estaduais continuem conversando com suas equipes de recenseadores e equacionando as questões apresentadas. O órgão também diz que os processos de supervisão e pagamento já foram agilizados.
"O IBGE tem ouvido a todos e ressalta que graças às nossas equipes de recenseadores, o Censo 2022 já coletou os dados de mais de 82 milhões de pessoas, e mais de 56% dos 452.246 setores censitários do país já foram iniciados ou concluídos."
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|