Para o comediante britânico-americano John Oliver, a democracia brasileira, uma das “maiores do mundo”, “parece estar se aproximando de um penhasco”. O apresentador do Last Week Tonight, da HBO, avalia que, caso Jair Bolsonaro (PL) perca a eleição, a versão dele do 6 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, pode ser “muito mais destrutiva”, pois o brasileiro tem os militares ao lado dele.
“Bolsonaro tem apoio militar significativo e há algumas dúvidas sobre o que eles podem fazer no caso de uma revolta, o que aumenta significativamente as apostas”, declarou. Com humor afiado, Oliver comanda o programa satírico que já está na nona temporada. Essa é a segunda vez que o presidente é foco de fortes críticas do apresentador, que já falou sobre ele em 2018.
Oliver atribuiu o assassinato de petista por Bolsonarista em Foz do Iguaçu (PR), à “retórica” de Bolsonaro, e sustentou que o presidente transformou o Bicentenário da Independência em um “comício”. O apresentador também não poupou críticas à política ambiental e de gestão da pandemia do presidente brasileiro, a quem descreve com os adjetivos “misógino” e “homofóbico”.
Aos americanos, Oliver destacou que é provável que a eleição presidencial não seja solucionada no dia 2 de outubro e se estenda para um segundo turno, entre Bolsonaro e, nas palavras dele, seu “principal adversário”, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O que, para o apresentador, significa que as próximas semanas serão “estressantes” aos brasileiros.
“Se Bolsonaro eventualmente perca e opte por lutar contra os resultados, vai testar a força da democracia relativamente jovem do Brasil”, falou. “Brasil sinto muito pelo o que vocês estão passando neste momento. Nossos pensamentos estarão com vocês nas próximas semanas. Boa sorte!”, completou.
Oliver também comentou sobre as dúvidas recorrentes levantadas pelo presidente sobre a integridade das urnas eletrônicas. O apresentador declarou que as máquinas são “amplamente vistas como seguras” e que, ao questionar a segurança delas, Bolsonaro não tem a intenção de “maximizar a segurança do voto”, mas sim “maximizar a quantidade de desconfiança que as pessoas têm nele”. “E seus apoiadores têm dado muito ouvidos a suas besteiras.”
O comediante também falou sobre Lula durante a esquete. Ele destacou que o petista foi “incrivelmente popular” enquanto ocupava a presidência, mas, depois, foi “pego” em uma investigação de corrupção, a Operação Lava Jato, mas teve a “condenação anulada” e, agora, as pesquisas “mostram que ele está liderando a corrida por uma ampla margem, cerca de 10%”.
Amazônia e pandemia
Segundo Oliver, “a destruição da Amazônia sob Bolsonaro foi devastadora”, ao citar incêndios na floresta e falar sobre a invasão de terras indígenas por madeireiros, fazendeiros e mineradores. Ele também ironizou a acusação de Bolsonaro de que o ator Leonardo DiCaprio estaria financiando incêndios criminosos na Amazônia. O apresentador questionou como Leo arranjaria tempo para isso, entre a agenda cheia de filmes e a cada “grande risada” dada a cada tweet sobre a vida amorosa dele.
Sobre a gestão da pandemia da covid-19, Oliver disse que “gangues de traficantes acabaram sendo mais responsáveis quando se tratava de covid, do que o governo brasileiro”. A fala se deu após a exposição de trecho de reportagem do canal Al Jazeera English, sobre traficantes e milicianos que impuseram toque de recolher e impediram festas clandestinas em favela no Rio, no auge da pandemia.
O Estadão entrou em contato com o Planalto, mas não obteve retorno até 15h.
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