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Shiro apresentou um sério quadro de depressão (Foto: Arquivo Pessoal)Shiro apresentou um sério quadro de depressão (Foto: Arquivo Pessoal)

Tratamento inclui enriquecimento ambiental, passeios, terapias integrativas e medicação

De repente aquele filhote não é mais o mesmo. Fica pelos cantos, está arredio, recusa a ração e até dá sinais de agressividade. Mesmo todo carinho dos tutores não é suficiente para tirá-lo do ciclo de isolamento e prostração. Se o seu bichinho de estimação apresenta qualquer um desses sintomas, ele pode estar com depressão. Era este o quadro apresentado por Shiro, um Shiba inu que chegou ao lar temporário da ativista Darlene Fernandez Vital, há cerca de 6 anos.


“Veio com uma depressão profunda, nunca saía de debaixo dos móveis, não interagia, nada o alegrava”, conta. Com experiência de mais de 20 anos na causa animal, ela logo notou que o problema dele era o excesso de atenção e zelo dos tutores. “Humanizar o animal pode levá-lo à depressão, ele tinha muitos brinquedos, uma casa linda, rodeado de mimos...”, conta.

Darlene pediu 60 dias para que tentasse resolver o problema. A partir do convívio com outros animais, especialmente um salsichinha adestrado, Shiro modificou o comportamento e, aos poucos, passou a interagir com os demais. Na prática, segundo ela, a causa era o excesso de humanização. “O que fiz foi tratá-lo igual aos outros animais; simplesmente parei de dar atenção demasiada. Ele levou um bom tempo se escondendo até que foi mudando”, relata.

Quando os tutores foram buscá-lo meses depois, ao vê-lo praticamente curado e já afeiçoado a Darlene, eles decidiram deixá-lo com ela. “Chorando, eles doaram Shiro para mim com receio de que, ao retornar para casa, ele voltasse a ter um novo quadro de depressão”, conta a ativista que até hoje mantém contato com os antigos tutores.

“A superproteção do tutor é um hábito ruim, embora muito comum na relação do homem com o animal, podendo produzir distúrbios de comportamento no animal”, explica a médica veterinária Alessandra Bispo da Silva, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Uninassau. Para a veterinária Isabella Gontijo, o grande problema atual é humanizar os pets já que muitos ocupam o lugar dos filhos. “Isso causará nos animais problemas comportamentais, físicos e sofrimentos”, explica Isabella.

Do mesmo modo que a superproteção pode desencadear a doença, os maus tratos também. A cadelinha poodle Malu, adotada pela chefe de cozinha Anapaula Della Piazza, demonstrava medo sempre que fazia xixi. “Ela deve ter sido muito maltratada”, conta.

Outros casos

Coceiras e/ou lambeduras excessivas e automutilação, principalmente nas patas e no rabo, também são comuns. A poodle Moqueca, de 8 anos, por exemplo, tem diagnóstico de síndrome de abandono e lambe tanto as patinhas que chega a prejudicar o crescimento dos pelos. “Toda vez que eu chegava em casa ela se tremia, fazia xixi quando me via e eu tinha que ficar uns 15 a 20 minutos com ela até a tremedeira parar”, descreve a servidora pública Manuela Gonçalves, 30 anos. O gatilho eram sempre as férias de Manuela.

Já com o gato Riuki, 9 anos, foi a mudança do Vale do Capão, onde vivia ao ar livre, para um apartamento em Salvador, que desencadeou alguns sintomas indicativos da doença. Ele passou a apresentar tédio, inquietude, agressividade, acne de gato e miado frequente. Segundo a tutora, a engenheira Mariana Barros, após ter o acesso liberado à area de mata do condomínio onde vive, ele começou a melhorar.

Antidepressivos

Mas o que o tutor deve fazer ao identificar que algo não vai bem? “Deve procurar um médico veterinário que deverá fazer o diagnóstico diferencial da doença”, orienta Alessandra. Após descartar outras enfermidades - a tristeza em cães a gatos pode estar associada desde a uma verminose, a doenças virais e até problemas locomotores -, o tratamento é feito de várias formas. “Hoje temos medicamentos alopáticos (tradicionais)  , como antidepressivos e ansiolíticos ou tratamentos alternativos”, descreve Isabella.

Conforme a veterinária Viviane Abreu, especialista em Medicina Integrativa, terapias como acupuntura, cromoterapia, aromaterapia e reiki ajudam bastante na recuperação do paciente. “Em alguns casos, usamos homeopáticos e fitoterápicos com triptofano, valeriana e camomila, que acalmam e melhoram o sono do animal”, afirma Viviane.

Para além do tratamento medicamentoso e terapêutico, a mudança do comportamento humano em relação ao animal é decisiva no processo de cura.

Segundo a comportamentalista Lara Falcão, 22 anos, o adestramento pode ser um aliado muito importante na prevenção e no combate à depressão canina. ”É importante proporcionar uma rotina rica em atividades que permitam que ele exiba comportamentos naturais da espécie como farejar, roer, rasgar”, diz. Passeios regulares e brincadeiras também são fundamentais.

Tire suas dúvidas sobre a saúde mental dos bichinhos

Como identificar sintomas de depressão em animais de estimação?

Os sintomas mais comuns de depressão canina são: falta de apetite, prostração, isolamento, coceiras e/ou lambeduras excessivas e automutilação, principalmente nas patas e no rabo.

Quais são os principais ‘gatilhos’ para o problema?

Morte de um tutor ou de um pet que convivia junto; ficar sozinho em casa por um período longo de tempo; ficar preso em uma corrente ou em um espaço pequeno; maus-tratos e uso de técnicas punitivas no adestramento.

O que o tutor deve fazer ao perceber esses sinais?

É muito importante que o tutor busque um(a) médico(a) veterinário(a) comportamentalista - que é especialista em comportamento animal e na relação entre comportamento e saúde - para realizar o diagnóstico.

Uma vez realizado o diagnóstico, qual a conduta padrão?

Em casos de depressão canina, é muito importante que os tutores sejam orientados a buscar pelo adestramento positivo para auxiliar o cão e a família. Em alguns casos, pode ser recomendado uma intervenção medicamentosa para auxiliar.

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