(Foto: Reprodução)
Aprendi na Faculdade de Economia que um economista ortodoxo, dito liberal, é radicalmente contra a expansão dos gastos públicos. O ministro Paulo Guedes é um economista ortodoxo, o mais liberal dos liberais, considerado um Chicago Boy, e, no entanto, está avalizando a maior expansão dos gastos públicos que se tem notícia nos últimos 10 anos, e o pior é que essa expansão será feita sem que haja recursos disponíveis e furando o teto de gastos.
Os pares do ministro na Universidade de Chicago devem estar de cabelo em pé e qualquer economista sério também está com os cabelos arrepiados, afinal estima-se que a PEC Kamikaze vá gastar mais de R$ 40 bilhões em benefícios fiscais, sem dinheiro em caixa. Kamikaze, como bem sabe o leitor, é uma ação suicida e esse nome foi dado pelos técnicos do Ministério da Economia, cientes do rombo que vão criar nas contas públicas e que vai se transformar em inflação mais rápido do que se imagina. Para cobrir a despesa sem previsão orçamentária, o governo terá de emitir moeda ou emitir títulos públicos a juros estratosféricos e ainda estará descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria Constituição, que proíbe despesas desse tipo a três meses do processo eleitoral. Sim, dirá o leitor, mas é preciso fazer alguma coisa para melhorar a vida da população. É verdade, quase R$ 6 bilhões irão para os caminhoneiros, R$ 2 bilhões para os taxistas, R$ 2,5 bilhões para as empresas de ônibus manterem a isenção aos idosos e por aí vai. Mas por que os caminhoneiros terão esse benefício e o brasileiro desempregado não? Por que fazer renúncia fiscal para baratear a gasolina e o álcool e mover os carros da classe média, quando milhares de brasileiros não têm sequer o que comer?
Seria até razoável que esses benefícios fossem usados para baratear o diesel e o gás de cozinha, como vem sendo feito em vários países, mas a forma como está se generalizando a distribuição de benefícios e a renúncia fiscal no Brasil é irresponsável. Sim, dirá o leitor, mas esses recursos vão permitir aumentar o Auxílio Brasil de 400,00 para 600,00 reais e beneficiar milhões de pessoas carentes. É verdade, e não há como ficar contra essa medida, mas ela só poderia ser adotada se fossem cortados os gastos supérfluos do governo federal, inclusive o orçamento secreto, para assim gerar recursos orçamentários. O Auxílio Brasil de R$ 600,00 é uma necessidade para quem vive na extrema pobreza, mas deve ser adotado como política de longo prazo, como os programas de renda mínima que foram aplicados nos países ricos, e não como uma política de curto prazo, que acaba em dezembro e vai dar o dinheiro agora, para tomar com juros no início de 2023. Isso porque o rombo gerado nas contas públicas já está fazendo o dólar e a inflação aumentarem, já está gerando incerteza em toda a economia e vai obrigar o Banco Central a aumentar os juros muito mais do que já aumentou.
Estamos novamente frente a uma mentira eleitoral semelhante a de Collor, que prometeu dar um tiro na inflação e tirou a poupança de milhões de brasileiros, e igual a de Dilma Rousseff, que prometeu comida no prato e crescimento econômico e no primeiro dia do segundo governo nomeou o ortodoxo economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, para implantar uma recessão sem precedentes e tentar resolver o que a irresponsabilidade fiscal havia feito. Se o Brasil não abrir os olhos, o heterodoxo Paulo Guedes de hoje se transformará no ortodoxo Joaquim Levy de amanhã e tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes. A política econômica do Brasil de hoje é a mesma de muitos brasileiros que, endividados até a alma no cartão de crédito, continuam fazendo o pagamento mínimo sabendo que mais adiante a bomba vai estourar.
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