Lives de meditação do terapeuta chegam a reunir dezenas de milhares de pessoas
Com 1,6 milhão de seguidores no Instagram, além de 223 mil no Youtube e 40 mil no Facebook, o terapeuta e escritor Tadashi Kadomoto, 61 anos, é uma celebridade da internet num nicho que reúne pessoas em busca de meditação e paz espiritual. Durante a pandemia, com todo mundo confinado em casa junto com seus estresses e preocupações, incluindo o medo de se contaminar ou morrer por causa do vírus, a fama dele cresceu, reunindo de forma comum até 50 mil pessoas numa simples live. Apesar disso, sua carreira, até a denúncia de estupros ser aceita pela Justiça paulista, é longa.
Segundo o site do Instituto Tadashi Kadomoto, criado por ele, o terapeuta começou a dar treinamentos na área comercial em 1982 e fundou a organização em 2001. Apesar de se autointitular um terapeuta, Tadashi Kadomoto não é psicólogo. A formação que ele anuncia é em Programação neurolinguística (PNL), abordagem criada por Richard Bandler e John Grinder na Califórnia nos anos 1970. Em suas 'pregações', ele também cita preceitos do budismo, além de dizer que é pós-graduado em técnicas de hipnose, terapia de vidas passadas, técnicas xamânicas e física quântica.
Os temas centrais de suas palestras costumam ser equilíbrio emocional, resiliência, como cultivar a gratidão e formas de melhorar as relações com o próximo. Com a pandemia da covid-19, Kadomoto passou a oferecer também cursos online, não só no site, mas em plataformas de eventos virtuais. Ele também tem vários livros publicados pela Editora Gente, com títulos comuns ao mercado de autoajuda como 'Da Razão ao Coração', 'Ninguém Tropeça em Montanha'e 'O Mestre do Impossível – mude suas crenças e conquiste o seu futuro'.
Antes de se tornar réu, o terapeuta oferecia diariamente duas lives de treinamento mental, a primeira é sempre às 6h. Entretanto, depois que a GloboNews e o programa Fantástico, da Globo, divulgaram que ele se tornou réu em um processo que investiga múltiplos estupros, ele anunciou que vai paralisar os cursos. Numa gravação publicada em seu Instagram, o terapeuta também se defendeu das acusações, que classificou como injustas.
"Quem me conhece e convive comigo sabe da minha conduta e do respeito que eu tenho pelo cuidado com as pessoas. Tenho falhas, cometo erros como todo ser humano, mas jamais cometi atos criminosos. Tenho fé que tudo será esclarecido, e até lá vou me afastar das minhas atividades", disse Tadashi.
Tadashi foi denunciado no início de outubro pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por abusos sexuais contra alunas e pacientes.
"Eu quero agradecer às centenas de pessoas que estão enviado mensagens de confiança e de carinho a mim e a toda minha familia. Receber essa energia positiva está sendo muito importante para nós", afirmou o terapeuta, que é seguido por vários famosos e recebeu apoio de alguns deles, a exemplo do jornalista Fernando Rocha, ex-Globo: "Estamos com você !!!", comentou o jornalista.
Cinco estupros
De acordo com a GloboNews, Kadomoto, que atua na área comportamental e lida com vítimas de violência ou transtornos psiquiátricos, responde por cinco estupros. A denúncia feita pelo MP-SP foi aceita pela Justiça de São Paulo em 6 de outubro deste ano.
No fim do ano passado, uma de suas alunas e estagiárias no Instituto Tadashi Kadomoto procurou o MP-SP para relatar os abusos. As situações ocorriam durante atendimentos ou palestras no próprio instituto.
Outras mulheres apresentaram mensagens e emails enviados pelo terapeuta se declarando a elas e utilizando palavras de alcunha sexual. Muitas não conseguiram registrar queixas porque o crime já prescreveu.
No site do instituto, o local é descrito com o propósito de "desenvolvimento e crescimento pessoal, com o objetivo de contribuir para que os participantes se conscientizem de sua missão neste mundo, das consequências positivas ou negativas de cada ação, palavra, gesto e o que eles podem gerar".
À GloboNews, o advogado Luiz Flávio D'Urso, que representa uma das vítimas, declarou que sua cliente não apresentava "capacidade de resistência"; a matéria explica que, por se tratar de uma paciente do terapeuta, era submetida a relações de poder e confiança, além de apresentar fragilidade emocional por carregar histórico que a levou a procurar ajuda profissional.
A defesa de Kadomoto afirmou, em nota, não ter recebido denúncia formal sobre o caso até a noite desse domingo (11) e declarou que ele atua há mais de 30 anos na área comportamental.
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