De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), entre janeiro e outubro do ano passado, a rede pública do estado registrou 966 internações de crianças até 14 anos em decorrência de acidentes domésticos. Desse total, cerca de um quarto dos casos foram causados por queimadura por líquidos quentes.
Considerando o cenário nacional, a Criança Segura coloca as queimaduras como segundo grupo em número de internações por acidentes, com 18,5% dos registros do DataSUS em 2018, perdendo apenas para as quedas, que correspondem a 46,1%.
Após os acidentes de trânsito, que lideram as estatísticas em todos os meses, a Criança Segura aponta os afogamentos como segundo tipo de acidente que mais provoca óbitos entre crianças. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo DataSUS e compilados pela organização, referentes a 2017, os afogamentos geraram 26,1% das mortes.
Eduarda destaca que na Bahia, os óbitos por afogamento quase empatam com os decorrentes do trânsito. Em 2017, o primeiro tipo de acidente causou 33% das mortes, enquanto o segundo correspondeu a 34%. "Provavelmente por ter mais praias, então as pessoas têm mais acesso a esses locais", considera a gestora da Criança Segura.
Gravidade
Embora lembre que durante a primeira gravidez sua grande preocupação de segurança foi o berço, Mariana ressalta que estendeu a lógica preventiva a toda a casa após vivenciar o único acidente doméstico que resultou em internação. Ela estava nos meses finais da segunda gestação, e morando fora do Brasil, quando uma das gêmeas se empolgou pulando na cama do avô e acabou caindo.
Mariana recorda que esse tipo de brincadeira já era proibida, mas foi só o tempo de ir ao banheiro para voltar assustada com o grito de dor da menina. A pequena teve de fazer cirurgia, botar pino no cotovelo e passar várias semanas com o braço imobilizado. Ela ressalta que seu pai tinha colocado protetores de quina e de tomadas em toda a casa, mas pondera que alguns riscos não são totalmente controláveis.
Além de medidas como substituir o vidro por acrílico nos pratos e copos, manter liquidificadores e equipamentos elétricos fora do alcance das crianças, quase eliminar o uso de ferro de passar e restringir o acesso à cozinha, Mariana afirma apostar no diálogo. "Não é só trancar ou proibir, tem de explicar porque está fazendo isso", defende.
Maior número de registros fatais ocorre no trânsito
Seja durante o período de férias ou no restante do ano, o tipo de acidente que mais mata crianças de até 14 anos no Brasil é o ocorrido no trânsito. Embora o número de ocorrências venha caindo ano a ano, 1190 mortes do tipo foram registradas em 2017, em todo o país, de acordo com a organização Criança Segura. Comparando com 2007, quando ainda não havia obrigatoriedade do uso da cadeirinha, a queda foi de 44,3%.
“Temos de lembrar que o carro não foi feito para transportar crianças com segurança”, alerta a gestora de políticas públicas da Criança Segura, Eduarda Marsili, explicando que os carros oferecem segurança para pessoas acima de 1,45 metro. “Se você pega um bebê ou mesmo uma criança até quatro anos, a estrutura deles é muito mais frágil”, reforça.
Eduarda considera que entre os fatores para o aumento proporcional das mortes no trânsito durante as férias estão as viagens típicas do período, mas também a maior frequência de passeios em carros de outras pessoas, que nem sempre contam com a cadeirinha.
Lei
De acordo com a Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), crianças menores de dez anos devem ser transportadas “nos bancos traseiros usando individualmente cinto de segurança ou sistema de retenção equivalente”. Conforme o texto, os equipamentos de retenção são obrigatórios para crianças de até sete anos e meio.
Atualmente, o descumprimento da Resolução é considerado infração gravíssima, com multa de R$ 293,47. O Projeto de Lei 3267/2019, do Poder Executivo, pretende extinguir a multa e aplicar em seu lugar uma advertência por escrito. O relator do Projeto, deputado Juscelino Filho (DEM-MA) se posicionou contra a mudança em seu relatório final.
Casa, escola e espaços de lazer pedem atenção
Segundo a Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), excetuando os acidentes de trânsito, cerca de 2/3 das ocorrências do tipo com crianças até 14 anos acontecem dentro de casa. Os demais casos se distribuem entre escolas, parques, clubes e outros ambientes de lazer. Para reduzir os riscos de acidente, a presidente do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sobape, Márcia Barreto, recomenda a supervisão contínua de um adulto e nunca deixar que uma criança maior tome conta de uma menor.
Márcia destaca que dentre os acidentes domésticos, 40% deles ocorrem em cozinhas e banheiros, e por isso esses ambientes devem ser mantidos sempre fechados. Entre os pontos de maior atenção ela inclui ainda as janelas, que precisam ser equipadas com redes, e as piscinas, que devem ser cercadas, não somente cobertas com lona.
Como local de trabalho da confeiteira Luciana Simas, 41 anos, a cozinha da casa recebe cuidado redobrado, já que o forno está sempre ligado e ela utiliza uma grande variedade de utensílios e facas. O acordo com os dois filhos, um de seis e outro de três anos, é que eles avisem quando precisam entrar no ambiente.
Luciana acredita que mesmo com toda a atenção, alguns acidentes são difíceis de prevenir, como as quedas, que, na sua casa, já resultaram em dente quebrado, fratura no braço e machucado na bacia. A situação mais recente aconteceu durante o lazer, em um tobogã, quando um dos meninos cortou a pálpebra. “O brinquedo era de fibra e as quinas eram retas. Solicitei que fizessem o reparo nas quinas”, conta.
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