Em plena crise econômica, seria difícil imaginar que uma concessionária de carros de luxo amanheceria com uma fila de pessoas na porta. No entanto, quem foi a uma loja da BMW na zona sul de São Paulo, a partir das 6 horas deste sábado (9), não esperava comprar um carro, mas garantir uma dose da vacina contra o vírus H1N1.
A revendedora da marca promoveu ação para distribuir 1.500 doses da vacina. Inicialmente, segundo os funcionários, a ideia era aplicar mil doses, restritas aos clientes da marca. Mas, por causa da grande procura, decidiram aumentar o número de imunizações e ampliar a ação para qualquer pessoa que tivesse interesse.
As senhas começaram a ser distribuídas às 9 horas e acabaram às 10h45. Houve confusão e bate-boca entre as pessoas que esperavam no local.
A pedagoga Valéria Cristina Santos, de 36 anos, mora no Jardim Ângela, na zona sul, e demorou uma hora e meia para chegar na concessionária. Mas já foi preparada para esperar na fila junto com o filho, de 5 anos.
— Trouxe lanchinho, uns brinquedos para ele. Com esse surto e a vacina cada vez mais cara, a melhor opção é esperar na fila para conseguir uma dose.
Valéria afirmou que o filho ficou empolgado em sair de casa, pois poderia ver uns "carrões" de perto.
A autônoma Joana Chu, de 59 anos, acordou a neta Cristiane, de 9, às 6 horas para a vacinação. Segundo ela, essa era uma oportunidade que "não dava para perder", já que ela e a neta não fazem parte do grupo de risco e não conseguiriam ser vacinadas em unidades públicas.
— Não importa o tempo que vamos ficar na fila esperando, o importante é que vamos conseguir tomar a vacina. O surto começou cedo neste ano e todos já deveriam estar vacinados, é um absurdo que no começo só algumas pessoas possam tomar".
Ação. Nesta semana, o governo do Estado de São Paulo iniciou a campanha de vacinação contra o H1N1, um mês antes do previsto. Primeiro, foram vacinados profissionais da saúde. Nesta segunda-feira, começam a ser imunizados os grupos prioritários, entre eles crianças de seis meses a 5 anos, gestantes, idosos, doentes crônicos, indígenas, detentos e funcionários do sistema prisional.
Mesmo sabendo que poderia ser vacinado na rede pública a partir desta segunda, o aposentado Roberto Caldeira, de 72 anos, preferiu acordar cedo para tomar a vacina na concessionária. "Nos hospitais públicos também ia enfrentar fila. Então, não faz diferença."
Dono da concessionária, Nelson Augusto atua na venda de automóveis há 55 anos e disse que foi a primeira vez que fez uma ação como a de sábado.
— Não é uma campanha de marketing, é responsabilidade social. A vacinação é uma responsabilidade dos governos, mas, já que não estão fazendo, os empresários podem dar essa contribuição.
Segundo Augusto, a maioria das pessoas que foram à loja não é cliente da marca.
— Não são nossos clientes, mas não há problema nenhum. Não fizemos isso para vender carros. Estou me sentindo realizado com o que fizemos.
Confusão. Segundo funcionários da concessionária, como a ação teve grande repercussão, eles pediram a presença da PM, que esteve no local durante a manhã. Agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) também foram à loja para orientar o trânsito na região.
Por volta das 10h30, houve um bate-boca entre as pessoas que estavam na fila quando algumas famílias com crianças de colo tentaram passar na frente dos demais. Não havia fila preferencial, apenas distribuição de senha por ordem de chegada.
"Está todo mundo esperando com crianças, idosos e até cadeirantes. Mas algumas pessoas se acham mais importantes e querem passar na frente", reclamou Monisa Rodrigues, de 41 anos, que estava com os filhos de cinco e três anos.
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