Rejeição da proposta do governo Lula para pausa humanitária em Gaza frustra comunidade internacional e sinaliza aposta de Israel e EUA em expandir conflito para países como Líbano e Irã.
Mesmo com o voto a favor de 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a proposta da diplomacia brasileira para uma trégua no conflito entre o estado sionista de Israel e o grupo Hamas foi rejeitada na sessão desta quarta-feira (18), causando frustração na comunidade internacional.
Votaram a favor da proposta brasileira, apresentada pelo diplomata Sérgio Danese: Albânia, China, Equador, França, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes Unidos, além do Brasil. Rússia e Reino Unido se abstiveram e apenas os EUA votaram contra.
Embaixadora estadunidense no Conselho de Segurança, Linda Thomas-Greenfield argumentou que seu país ficou "desapontado" pelo texto não mencionar o "direito de autodefesa de Israel".
Diante desse fato, o governo Joe Biden, que está com o premiê Benjamin Netanyahu em Israel, votou a proposta de "pausa humanitária" para envio de auxílio à população civil palestina em Gaza.
No Brasil, o ministro de Relações Exteriores Mauro Vieira não escondeu a frustração com a rejeição e disse que "nossa preocupação sempre foi humanitária".
"O texto focava basicamente na cessação das hostilidades, na questão humanitária, para a saída dos que estão lá, incluindo os 32 brasileiros, e a ajuda humanitária. Infelizmente não foi possível aprovar, mas do nosso ponto de vista fizemos tudo para que se parasse com o sacrifício humano e dar assistência à população que está no local. Nossa preocupação sempre foi humanitária", afirmou.
Apesar da proposta do Brasil ter obtido a maioria absoluta dos votos, a rejeição se deu pelo voto contrário dos EUA. O Conselho de Segurança da ONU determina que as resoluções só podem ser aprovadas com o apoio dos cinco membros permanentes da organização: Rússia, China, França, Reino Unido e EUA.
"Isso infelizmente confirma a impressão inicial de que os EUA não estão dispostos a encontrar uma decisão negociada. A representante disse que não queriam discutir o texto porque não desejam que o Conselho de Segurança trate deste tema", disse à Fórum a socióloga Rita Coitinho, doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), integrante do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e autora do livro "Entre duas Américas - EUA ou América Latina?".
A socióloga elenca uma série de questões que explicam o veto dos EUA, que atua como força auxiliar de Israel.
"Se a resolução fosse aprovada, a ONU e todos os seus estados-parte seriam chamados a trabalhar pela resolução do conflito, o que inclui os dois adversários geoestratégicos atuais dos EUA, que são a Rússia e a China", explicou.
"A outra questão é que a gente tem ai sinais que há uma aposta dos EUA e de Israel pelo espraiamento do conflito pela região. Inclusive, pode haver uma ação deliberada para envolver outras nações árabes no conflito, possibilitando a destruição de instalações militares de árabes em países como o Líbano e um adversário que os EUA e Israel vêm há muito tempo provocando, que é o Irã", emendou.
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