Rejeitados. O cansaço em relação às estratégias de Hillary Clinton e Donald Trump deixou em evidência a certeza, para alguns americanos, de que o sistema político está desconectado da opinião dos eleitores. Dois dos candidatos mais rejeitados da história recente americana, Hillary e Trump fizeram crescer entre os eleitores a sensação de que não haverá vencedor após as eleições no dia 8 de novembro. Clima de desgaste supera a excitação pela renovação da presidência dos EUA, diz New York Times em editorial nesta sexta-feira (4).
Em artigo publicado em um jornal da Filadélfia, a colunista Timaree Leeigh chegou a defender a votação direta, em que o candidato com maior número de votos vence a eleição, similar ao Brasil. Pelo sistema atual, os eleitores votam nos delegados que decidirão o vencedor. "Para evitar uma sangrenta guerra civil ou pelo menos diminuir o cansativo discurso de Facebook, nós precisamos mudar a forma como fazemos eleições", ironiza.
"Hillary é o melhor candidato que Trump poderia enfrentar, e Trump é o melhor candidato que Hillary poderia enfrentar para ganhar", afirmou ao CORREIO nesta quinta-feira (3) o vereador republicano Al Taubenberger, em entrevista a jornalistas brasileiros convidados pelo governo americano. Taubenberger afirma que a vitória de Trump nas eleições e a acirrada disputa com a candidata democrata mostram que o bilionário diz aquilo que boa parte dos americanos querem ouvir.
"Impossível negar que ele é muito popular. Ele fala com muita eloquência pra aqueles que perderam os empregos. As pessoas estão muito preocupadas com o desemprego, sobretudo aquelas que trabalham com manufatura. Eles viram milhares de postos de trabalho serem desfeitos", diz o republicano.
A queda no poder econômico da classe média é apontada como uma das principais fraquezas do governo Obama e explorada por Trump, segundo o diretor de pesquisas hispânicas do Instituto Pew Research Mark Hugo Lopez. "Os integrantes dessa classe média, principalmente os brancos e que não têm um grau de escolaridade muito grande, foram os principais afetados pelas mudanças na economia nos últimos anos. Foi a classe média quem mais sentiu o aumento dos impostos e a diminuição dos empregos", afirma Lopez.
Não por acaso, a campanha de Trump tem utilizado a ameaça do desemprego para tentar atrair votos também entre latinos e negros, historicamente mais alinhados aos democratas. "Os americanos tentam ignorar essa divisão de classes. Muitas vezes a separação entre os eleitores não está entre republicanos e democratas, mas entre a população rural e urbana. Há vários democratas que vão votar em Trump, principalmente das áreas rurais porque Trump fala a línguas deles. Por outro lado muitas mulheres considerada republicanas deverão votar em Hillary, por conta dos comentários ofensivos que ele fez", diz Taubenberger.
A expectativa de uma mulher no cargo legislativo mais importante nos Estados Unidos tem ficado em segundo plano nas estratégias de campanha democrata. "Essa não é uma eleição como outra qualquer, disse ao CORREIO, Ângela Val, responsável pela convenção democrata que anunciou a candidatura de Hillary em Filadélfia. "Hillary não é exatamente a mulher que os americanos pensam como a melhor pessoa para ser a primeira presidente. Nesse sentido, o apelo é diferente de quando Obama se candidatou porque, por exemplo, eu quando era criança jamais imaginei que veria um presidente negro, nem meu filho, talvez meus netos", disse Val.
O destino do partido republicano deverá ser repensando, segundo Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center, em Washington. Segundo ele, a escolha de Trump como candidato, figura não exatamente pertencente ao núcleo conservador republicano, assim como as controvérsias criadas pelo bilionário, podem rachar o partido. "Acho que haverá uma divisão natural do Partido Republicano depois dessas eleições", afirma.
"Quem quer que vença acredito que governará do centro", opina o republicano Taubenberger. segundo ele, apesar de estarem alinhados aos extremos em cada um do partido, quem vencer as eleições deverá assumir uma postura mais moderada. "Uma gestão de qualquer um deles em termos de política seria ligeiramente diferente mas acabaria parecida no fim. A maior diferença seria na saúde. Hillary é a favor da maior participação do estado nos planos de saúde, apoiou o Obamacare", diz sobre a lei aprovada durante o governo Obama que obriga os americanos a pagarem por cobertura de saúde. "Mas acabaria governado pelo centro. historicamente os Estados Unidos funciona melhor assim", aposta o republicano.
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