Entre a manhã desta terça e a tarde de segunda, cinco corpos foram encontrados no local
São 22 quilômetros de asfalto cercados de vegetação. Mesmo durante o dia, a circulação de pessoas a pé quase não existe – só há veículos de um lado a outro. À noite, uma escuridão. Tais condições renderam à BA-530, popularmente conhecida como a Estrada da Cetrel, uma segunda referência: local de "desova" - devido à quantidade de corpos encontrados no local de pessoas assassinadas em outras regiões.
A grande maioria das vítimas foi deixada no local com marcas de tiros e, em alguns casos, com mãos amarradas para trás – indícios de execução. Os casos mais recentes na Estrada da Cetrel – é uma rodovia estadual, que atravessa Camaçari, ligando a orla à sede do município – aconteceram entre o final de tarde desta segunda (14) e a manhã desta terça (15). No período, cinco corpos foram localizados no entorno da via.
Por volta das 17h30 de segunda, quatro homens foram encontrados na entrada da Cetrel. Entre as vítimas, apenas um foi identificado – os demais estavam em estado avançado de decomposição. Já na manhã desta terça, um outro cadáver foi encontrado. Desta vez foi em frente à Flopan do Brasil, uma indústria química.
Os poucos moradores residem em sítios, a cerca de 5 km da via principal. O acesso a esses locais é por estrada de barro. “A gente cansou de ver corpos por aqui. Isso aqui já é deserto durante o dia, imagina à noite? Quando isso acontece, não é com ninguém daqui. Sempre é alguém de outro lugar, como Salvador, Lauro de Freitas, Dias D’Ávila”, disse um senhor.
Ele disse ainda que há pouco mais de um ano, corpos eram "desovados" no local quase uma, duas vezes no mês. “Principalmente nos finais de semana. A gente só ouvia a notícia e ia lá constatar, pra ver se era alguém conhecido, mas sempre era gente de fora. Em alguns casos a polícia só encontrava os restos mortais enterrados e ossos na carcaça de carro queimado”, relatou.
Perguntado se já viu alguma situação suspeita, que desse a entender que alguém estivesse deixando um corpo na região, o homem disse que sim. “Já ouvi o barulho de carro se aproximando da mata, de gente falando e arrastado alguma coisa, mas quem é maluco de sair para ver? Cansei de ir no dia seguinte no local do barulho e encontrar o cadáver no chão”, contou.
Uma mulher, que aceitou falar depois de muita insistência, disse que as pessoas têm medo de visitá-la, mesmo durante o dia. “Parentes já disseram que não vêm aqui. Eles têm medo. Quando preço alguma coisa para trazer, a depender do horário, a entrega não vem. Às 17h o povo já fica com medo. E eu entendo, porque nós também que moramos aqui temos medo. A gente pode passar bem na hora que eles estão fazendo as coisas erradas e sobrar. A situação é muito difícil. Escureceu, todo mundo fica em suas casas”, declarou ela.
Corpos
Na tarde desta segunda, quatro pessoas foram encontradas mortas na Estrada da Cetrel. Até a tarde desta terça, apenas uma das vítimas tinha sido identificada. Trata-se de Joel Silva dos Santos, 19 anos. Ele foi morto a tiros.
Já os corpos de três homens foram encontrados em estado avançado de decomposição. Os laudos do Departamento de Polícia Técnica ajudarão nas investigações e a identificar as vítimas. A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil para saber se há novas informações sobre o caso, mas não houve retorno.
A reportagem esteve pela manhã na 26ª Delegacia (Abrantes), que apura autoria, motivação e circunstâncias das mortes, mas a delegada Daniele Monteiro, responsável pela unidade, não estava.
Ainda na manhã de terça, um outro corpo foi encontrado no local. Ele estava coberto por um plástico preto e policiais militares faziam a preservação do local para a perícia. De acordo com alguns curiosos, o rapaz teria 21 anos e era de Salvador, mas recentemente passou a morar em Monte Gordo, onde foi sequestrado no domingo.
“A família esteve aqui mais cedo e disse que ele jogava bola, quando um grupo pegou ele e o colocou num carro. Somente hoje os parentes foram informados que o corpo estava aqui”, contou um homem. Ainda de acordo com ele, uma foto da vítima circula nas redes sociais fazendo com dois dedos a saudação de uma facção. “Ele fazia ‘Tudo 2’. A família acredita que foi por isso que pegaram ele”, contou.
A reportagem procurou a Polícia Civil para saber sobre a investigação, mas não houve posicionamento.
Outros casos
No dia 6 de junho do ano passado, três corpos, todos do sexo masculino, foram encontrados também na Estrada da Cetrel. As vítimas, que usavam apenas bermudas, foram deixadas em um terreno baldio e estavam com as mãos amarradas e apresentavam marcas de tiros. No dia 23 de outubro do mesmo ano, outros três corpos foram encontrados na mesma região.
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