Nesta semana, o jornal Folha de São Paulo, um dos maiores do país, fez um levantamento de dados sobre o estágio atual da pandemia de coronavírus entre municípios com mais de 100 mil habitantes em todo país e Camaçari figura entre as 50 piores cidades, no cenário atual.
Para o levantamento, a Folha comparou dados da semana com mais mortes nos municípios em dois momentos: março a outubro de 2020 (primeira fase) e o período entre novembro e a semana de 7 a 13 de março de 2021 (segunda fase).
A conclusão geral é que a fase da pandemia da Covid que o Brasil vive agora é mais letal que a primeira em 40% das grandes cidades do Brasil. Camaçari é um deles. Veja lista completa no final da matéria.
Única da Bahia
A Folha identificou 190 municípios em que a segunda fase está pior do que a primeira. Destes, 74% estão em aceleração do número de mortes, ou estabilizados em um plano de números elevados. Em 50 desses maiores municípios, houve uma explosão de óbitos: o pico de agora é pelo menos 80% maior que o do ano passado. É nessa lista que Camaçari está inserida.
A metodologia utilizada pela Folha não comparou as cidades umas com as outras. Ou seja, não leva em consideração o número real de mortes, mas sim o escalonamento dos casos, dentro do próprio município.
Camaçari, não é apenas uma das 50 cidades onde houve uma explosão, um aumento absurdo do número de óbitos, em comparação ao pior período do ano anterior: é a única cidade da Bahia a figurar na lista.
Os números da Folha corroboram a informação que o Camaçari Fatos e Fotos (CFF) vem apontando desde dezembro 2021: a cidade entrou numa espiral de piora.
Ruim e piorando
Além de comparar dados com o ano anterior, a Folha também traçou um perfil do cenário atual e dividiu os município entre aqueles que passaram pelo pior momento da segunda fase e estão conseguindo reduzir os índices, aqueles em que os índices se estabilizaram em um patamar alto e aqueles em que os números seguem aumentando. Camaçari, como também já vinha apontando o CFF, está no terceiro grupo.
O impacto do recrudescimento da pandemia foi maior no Sul, que tem hospitais lotados e sistema de saúde em colapso. Nove em cada 10 municípios grandes da região bateram recorde no número de óbitos em uma única semana, e em 26% deles esse valor é pelo menos o dobro do maior registrado até o ano passado.
Há mais de 100km do Sul do país, esse cenário é exatamente o que Camaçari está vivenciando desde o início do ano, com índices de piora a cada mês, senão a cada semana. O aumento de leitos, por parte da prefeitura, não está sendo suficiente para reduzir os índices de mortalidade.
Causas
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o impacto da nova fase é parte de uma cadeia complexa de eventos, muitos dos quais provenientes ainda da primeira fase da pandemia no país.
"Um dos pontos citados e impossível de ser ignorado a essa altura são as variantes do Sars-CoV-2, como a brasileira P.1 e a britânica B.1.1.7, ambas consideradas com maior potencial de disseminação, o que por si só pode acelerar o alcance da doença. As variantes também preocupam por causa de um possível potencial de fuga vacinal", aponta o periódico.
Ainda assim, de acordo com os especialistas, é incorreto jogar a culpa nas variantes: o relaxamento das pessoas quanto às medidas de proteção também deve ser levado em conta —inclusive porque as variantes têm mais chance de surgir diante da alta circulação do vírus e do descontrole da pandemia. "A fadiga da pandemia e do alongamento das estratégias de distanciamento entram na equação desse relaxamento", destaca a Folha.
“Não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona”, afirma Max Igor Banks Ferreira Lopes, infectologista do Hospital Sirio-Libanês, sobre a extensão de tempo das medidas aplicadas no país (sem necessariamente um controle efetivo da doença) e sobre a complexidade de como relaxar adequadamente as medidas aplicadas.
“Estamos esperando as pessoas adoecerem para dar a elas [com UTI] uma forma mais digna de morrer. Se tivéssemos um medicamento maravilhoso contra Covid seria uma coisa, mas não temos”, diz Maciel. “A angústia é saber que muitas coisas poderiam ser feitas, e o Brasil não está fazendo nada. Não é só o governo federal, é todo mundo.”
E aí entra a falta de políticas públicas para controle da pandemia. O Brasil não implementou políticas de testagem em massa e posterior tentativa de rastreamento de contatos, o que permite um olhar mais localizado e pode facilitar medidas de isolamento.
Em meio às mortes da pandemia e à falta de políticas públicas, houve ainda a minimização da situação. “Você tem um presidente que usou máscara poucas vezes. Você tem uma narrativa política de que ‘não tem problema, que as pessoas têm que sair, que é mimimi’”, afirma Maciel.
Aliado a tudo isso, vieram feriados do segundo semestre, eleições, festas de final de ano e Carnaval. A união dessas variáveis —e outras tantas— desembocou em grande pressão no sistema de saúde do país todo ao mesmo tempo e nos profissionais já cansados. E, finalmente, na explosão de Covid à qual o Brasil assiste, sem ação.
“Não dá para fingir normalidade. Não está dando”, afirma Ferreira Lopes, com barulhos de UTI ao fundo.
50 Cidades onde as mortes explodiram na segunda fase da pandemia
Angra Dos Reis (RJ)
Apucarana (PR)
Araraquara (SP)
Ariquemes (RO)
Assis (SP)
Bagé (RS)
Barbacena (MG)
Barra Do Piraí (RJ)
Cabo Frio (RJ)
Camaçari (BA)
Caraguatatuba (SP)
Cascavel (PR)
Catalão (GO)]
Caxias Do Sul (RS)
Chapecó (SC)
Criciúma (SC)
Curitiba (PR)
Divinópolis (MG)
Erechim (RS)
Florianópolis (SC)
Gravataí (RS)
Guarapuava (PR)
Guaratinguetá (SP)
Itacoatiara (AM)
Jaú (SP)
Ji-Paraná (RO)
Juiz De Fora (MG)
Londrina (PR)
Manaus (AM)
Marília (SP)
Maringá (PR)
Mauá (SP)
Niterói (RJ)
Ourinhos (SP)
Passos (MG)
Petrolina (PE)
Petrópolis (RJ)
Poços De Caldas (MG)
Ponta Grossa (PR)
Porto Velho (RO)
Resende (RJ)
Santa Cruz Do Sul (RS)
Santarém (PA)
Santo André (SP)
São Carlos (SP)
Sapucaia Do Sul (RS)
Teresópolis (RJ)
Umuarama (PR)
Uruguaiana (RS)
Varginha (MG)
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