Motivado pelos debates frente à mudança de modelo de atendimento do Hospital Geral de Camaçari (HGC), que passou a ser exclusivamente unidade referenciada, a partir desta terça-feira (01), o Camaçari Fatos e Fotos (CFF) foi atrás de dados para entender o real impacto da mudança na vida dos moradores de Camaçari. A conclusão é triste e assustadora, principalmente diante do silêncio do prefeito Elinaldo Araújo (DEM).
De acordo com os dados enviados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) ao CFF, a população de Camaçari não apenas ocupa quase totalmente a capacidade de atendimento do hospital, como recorre à unidade para solucionar problemas de saúde de baixa ou nenhuma gravidade.
Hospital municipal?
Embora seja um hospital estadual e unidade de referência para outras seis cidades, na prática, o HGC tem sido o 'hospital municipal', quiça uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Camaçari. "Em 2019, 70% dos 50.332 atendimentos de urgência realizados na unidade foram de pacientes com baixo ou nenhum risco de morte, como unha encravada, dor de cabeça, gastroenterite, otite, dentre outros sintomas com perfil de atendimento em postos de saúde ou UPAs", aponta a Sesab.
Além disso, do total de pacientes atendidos e internados no hospital no ano passado, 91,5% eram residentes em Camaçari. "Na prática, o Hospital Geral de Camaçari está substituindo o atendimento que deveria ocorrer nos postos de saúde e UPAs.", reforça a Sesab.
2 UPAs fechadas
Até 2012, durante a gestão de Luiz Caetano (PT), Camaçari era assistida por cinco UPAs, duas a mais que o preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o número de habitantes da cidade. Mesmo durante a desastrosa gestão de Ademar Delgado (PT), o número de unidades foi mantido.
No entanto, o atual prefeito Elinaldo Araújo (DEM) não apenas decidiu fechar completamente duas dessas unidades como transformou a mais elogiada unidade de atendimento de média complexidade da cidade em uma unidade exclusiva de atendimento pediátrico.
Como resultado, toda população da cidade, da sede e da orla, tem apenas uma unidade para atendimento infantil e apenas duas para atendimento adulto: a UPA da Gleba A, na sede, e a UPA de Arembepe, na orla: a receita perfeita para uma saúde de péssima qualidade no município e a fuga imediata da população para a unidade estadual.
E agora, josé?
Saúde pública de qualidade é um direito constitucional de todo brasileiro. Para que os atendimentos ocorram de forma rápida e eficiente, o Ministério da Saúde, através do SUS, estabelece regras e condições: "cabe ao governo do Estado assegurar o atendimento de alta complexidade nos hospitais, ampliando e qualificando a assistência. Já os municípios devem fortalecer e estruturar a Atenção Básica, para evitar que problemas como diabetes e hipertensão, por exemplo, se agravem e provoquem a amputação de membros ou um AVC.", como esclarece a Sesab.
Em outras palavras, todo atendimento que represente risco à vida deve ser garantido pelos hospitais estaduais, como é o caso do HGC. Já o acompanhamento da saúde da família e o atendimento de pequenas emergências, como febre, dor de garganta, dor de cabeça, pequenas lesões e tudo que represente pouco ou nenhum risco de morte deve ser tratado nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Saúde da Família (USFs) e UPAs.
Em Camaçari, como provam os números do HGC, isso não está acontecendo: a prefeitura está deixando a população à própria sorte, ou talvez, se aproveitando da presença da um hospital estadual em solo municipal para negligenciar suas obrigações.
Agora, com o HGC adotando o modelo referenciado, a população terá que começar a seguir o caminho que deveria ser o rotineiro: ir primeiro às UPAs e UBSs e, caso haja real necessidade, ser encaminha para o HGC.
A pergunta que não quer calar é: o que o prefeito que fechou duas, para não dizer três UPAs vai fazer para garantir que a população tenha acesso a um tratamento digno em saúde? O tempo dirá.
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