Custos mensais do espaço, que sobrevive por doações, podem chegar a R$ 53 mil; espaço acolhe cerca 432 animais, 243 gatos e 189 cães
Conhecido por ser o protetor dos animais na Igreja Católica, São Francisco de Assis é celebrado, anualmente, no dia 4 de outubro. Ironicamente, foi na mesma data que, este ano, um abrigo em Salvador que leva o nome do santo anunciou a ameaça de ter que fechar as portas, por causa de uma dívida de R$ 50 mil. A quantia está relacionada aos custos mensais para manter o espaço, que, acolhe cerca 432 animais — 243 gatos e 189 cães —, conforme o último balanço, na última sexta-feira (7).
De acordo com Cristina Della Cella, presidente da ONG Associação Brasileira Protetora dos Animais — seção Bahia (ABPA-BA), que administra o Abrigo São Francisco de Assis desde 1949, o local, que conta com uma médica veterinária e outros sete funcionários, sobrevive apenas por meio de doações e muita força de vontade. “Não temos nenhuma ajuda governamental ou empresa que nos dê apoio. Ela [a ABPA] é mantida, exclusivamente, por doações de terceiros”, conta Della Cella.
O abrigo acolhe desde animais filhotes até idosos (70% deles), vítimas de maus-tratos ou abandonos — estes, na maioria das vezes, na porta do espaço. Por esse motivo, inclusive, a administração não divulga seu endereço.
“A nossa situação, hoje, é de superlotação. Ontem [quinta, 6] mesmo, abandonaram uma cadela com quatro filhotes, e um deles foi atropelado e morreu na hora. Se a gente divulgar, vai ter 30 animais na minha porta amanhã”, explica a mandatária da ABPA-BA, Cristina Della Cella.
O trabalho da ABPA-BA exige bastante dedicação de quem se compromete com a causa. A autônoma Cátia Oliveira, de 59 anos, por exemplo, começou contribuindo financeiramente. Depois, passou a frequentar as feiras de adoção na Praça Ana Lúcia Magalhães, no bairro da Pituba. Até que, então, se tornou gerente administrativa e social da ONG. Após a partida de seu "primogênito", o labrador Rudá, Cátia pretendia ficar apenas com as três ‘meninas’: Mel, Loly e Samantha — as duas últimas, adotadas.
Mas, há três meses, a gerente viu a necessidade de levar mais um para casa, a quem ela batizou de Zé, em homenagem a seu pai. “Eu venho, graças a Deus, de uma família que sempre teve um elo com os animais”, conta Cátia. “A gente tem como filho mesmo. Tanto que eu tenho uma poupança para eles, e não mexo. Só se for para alguma necessidade que não seja normal do dia a dia.”
Gerente da ABPA-BA, Cátia Oliveira é mãe de quatro filhos peludos (da esquerda para a direita): Zé, Loly, Mel e Samantha (Foto: Marina Silva/CORREIO)
Queda de doações
Assim como o número de animais no abrigo, por consequência, os custos mensais também variam: podem ir de R$ 48 mil a R$ 53 mil e englobam castrações, medicamentos, ração, água, energia e transporte, além dos salários de funcionários. Além disso, muitos cães e gatos chegam ao local debilitados e, até que estejam aptos à adoção, precisam passar por uma série de cuidados.
Ainda assim, o Abrigo São Francisco de Assis não costumava enfrentar dificuldades para se manter. Para a presidente da ABPA-BA, as doações foram diminuindo após a interrupção da realização de feiras de adoção na Praça Ana Lúcia Magalhães — por causa da pandemia e que serão retomadas no dia 16 de outubro. Em agosto do ano passado, a ameaça de fechamento começou a bater na porta. “Tinha muita coisa que a gente não comprava. Hoje, até vassoura a gente compra", lembra Della Cella.
Até a última quinta-feira (6), cerca de R$ 36 mil reais já tinham sido arrecadados, e, embora Cristina esteja segura de a meta será alcançada, já sabe que, no próximo mês, haverá uma nova luta. Segundo ela, a adesão é maior quando o risco de encerrar as atividades se mostra real.
“A gente não tem essa ajuda constantemente. Então, a gente vive nisso aí: ‘Bom, será que quem fez essas doações esse mês, vai doar para o mês?’”, se pergunta Della Cella.
Cristina Della Cella diz que, no ano passado, chegou a recorrer ao Ministério Público estadual (MP-BA), para que parte dos recursos obtidos pelo órgão a partir da aplicação de multas, por exemplo, fosse destinada à ONG, mas não obteve resposta até agora. Procurado pela reportagem, o MP-BA não deu retorno até a publicação desta matéria.
Imóvel foi condenado pela Codesal
A falta de recursos faz com que o Abrigo São Francisco de Assis acumule problemas, e mais um deles é a necessidade de encontrar uma nova sede. “Apesar do número [de animais], a gente tem uma estrutura física que tá com perigo de desabamento”, conta Della Cella. “Essa construção é de 1949. Ela foi construída num terreno massapê, que é um terreno fértil: quanto mais chove, mais o terreno vai ‘chupando’. Então, qualquer construção que a gente faça ali, ela vai ceder”, explica.
Em dezembro de 2019, o local foi condenado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal), que notificou a associação. Por meio de nota enviada à reportagem, a Codesal caracterizou o imóvel como “construção irregular, edificado em área de risco geológico, susceptível a acidentes, por se tratar de solo tipo massapê, identificando-se ainda vícios construtivos na edificação, entre os quais rachaduras de grande abertura em parede e muros com risco presumível de desabamento”.
A nota diz também que “os responsáveis foram notificados para interdição temporária até a recuperação estrutural da construção ou sua relocação” e que foi feito encaminhamento à Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) e ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), para ação fiscal.
Como ajudar a ABPA-BA:
Voluntariado;
Doações financeiras, pelo Pix
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(e-mail) ou 01892365000130 (CNPJ), ou de itens, em pontos em Salvador e Lauro de Freitas;
Para adotar um bichinho, a pessoa interessada deve enviar um e-mail para
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e passar por uma entrevista de avaliação.
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