Número de vítimas, segundo a Polícia Civil, já chega a 165; confira cinco dicas para fugir de golpes financeiros
Depois que a operação Falso Consórcio cumpriu 33 mandados de busca e apreensão no endereço de 13 empresas de financiamento e nas residências dos sócios e proprietários dos estabelecimentos, mais vítimas procuraram as delegacias para prestar queixa. Deflagrada pelo Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) da Polícia Civil, no último dia 18, a investigação apura crimes de estelionato e associação criminosa, sobretudo, ligadas à contratos de consórcio. Segundo dados mais recentes da operação, até o momento, os investigadores registraram 165 pessoas.
Muitos consumidores também procuraram o Portal para denunciar o golpe. No caso da bancária Ana*, 34 anos, ela estava procurando um carro na plataforma OLX, até que viu um veículo que atraiu pelo preço. “Entrei em contato com a empresa - que se dizia autorizada pelo Banco Central (BC) – então, marquei de visitá-los. Quando cheguei lá, me informaram que se tratava de um autofinanciamento. E na hora de fechar o contrato, a funcionária da MG Financeira me passou bastante segurança. Me disse que não precisaria ler o contrato. Na sala tinha bastante propaganda do Banco Central e como bancária, eu acreditei”.
Ana* pagou R$ 6.156 de entrada para que o veículo que custava R$ 30 mil fosse financiado em 36 vezes. “Mas, no caminho de casa, comecei a ler o contrato e percebi que estava tudo diferente do que havia solicitado: o veículo saltou para R$ 60 mil, divido em 100 parcelas. Além disso, o contrato que me entregaram era o de um consórcio e não de um financiamento. Na mesma da hora, entrei em contato com a MG Financeira pedindo que eles anulassem o contrato e que eu fosse reembolsada”.
A bancária não conseguiu o reembolso e ainda afirma que vem sofrendo ameaças. Ela já registrou uma ocorrência na Defensoria Pública.
“Entrei em contato com o Banco Central e fui informada que a MG Financeira e o Consórcio Excelência, não estavam autorizados pelo BC e havia inúmeras denúncias de fraudes e estelionato por essas empresas. Faço parte de um grupo com mais de 20 pessoas enganadas pela MG Financeira. Inclusive, eles estão ameaçando os consorciados. Como se trata de uma quadrilha, tenho muito medo”, diz.
Já a operadora te telemarketing Mariana Almeida, 27 anos, viu o anúncio no Facebook. Ela queria comprar uma moto e deu R$ 1.539 de entrada. “Percebi algo estranho no momento de assinar o contrato, pois foi oferecido um crédito pago de forma parcelada e com taxa de juros menores e no contrato tinha informações de um consórcio. A consultora informou que era com contrato padrão e que não iria interferir na oferta que ela tinha passado. Logo depois de alguns dias não foi liberado crédito nenhum”.
Mariana conta que a empresa garantiu que o crédito seria liberado em cinco dias, porém, o que ela recebeu foi uma ligação falando que não tinha sido contemplada. “Foi daí que percebi que era de fato uma venda de consórcio. Pedi o cancelamento, enviei uma carta solicitando e até hoje não tive resposta. Juntei esse dinheiro por um tempo, o que nos dias de hoje está muito difícil, ainda mais para quem ganha salário mínimo. Uma frustração terrível”, lamenta.
Foi assistindo ao telejornal que a autônoma Neliane Rocha, 37 anos, viu que outras pessoas estavam passando pela mesma situação que ela. “Fui surpreendida ao confiar neles e eu dizia sempre que não queria consórcio, mas sim um carro para trabalhar. A empresa afirmava a todo custo que não era consórcio. Eu confiei e aceitei. Paguei R$ 9, 2 mil, dinheiro que juntei fazendo faxina, vendendo roupa até mesmo trabalhando como ajudante de pedreira e ainda peguei meu terreno e vendi. Mas creio que Deus vai ajudar. Eu não quero muito só quero o que é meu”.
O Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), continua investigando o caso e recebendo novas denúncias de vítimas dos golpistas, que serão ouvidas ao longo da semana. A investigação começou depois que a polícia notou registros recorrentes desse tipo de golpe em diversas delegacias territoriais e especializadas.
Os nomes das 13 empresas alvos da operação Falso Consórcio não foram divulgados, e os policiais estiveram nos bairros do Centro, Stiep, Rio Vermelho, Sussuarana, Amaralina, Valéria, São Cristóvão, Caminho das Árvores e nas Avenidas San Martim e Paralela, além de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana. Segundo informações da Polícia Civil, após atrair dezenas de vítimas, a empresa trocava de CNPJ e mudava a sede de local, deixando as pessoas sem informações e sem o dinheiro investido.
Cuidados
Consórcio é a modalidade de compra baseada na união de pessoas em grupos, com a finalidade de formar uma espécie de ‘poupança’ para a aquisição de algum bem. A formação desses grupos é feita por uma administradora de Consórcios, autorizada e fiscalizada pelo Banco Central, que também normatiza e fiscaliza o Sistema de Consórcios no Brasil. Presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), Paulo Roberto Rossi é quem alerta para os cuidados antes de aceitar qualquer oferta:
“O primeiro passo é escolher uma administradora autorizada pelo Banco Central. Na sequência, entre em contato com a empresa, verifique os planos disponíveis e fazer a adesão ao grupo que apresentar as condições mais adequadas para o seu perfil financeiro. Antes de assinar o contrato, não se esqueça de ler atentamente todas as cláusulas para estar ciente de seus direitos e obrigações”, pontua.
Rossi recomenda ainda que o consumidor verifique com atenção se o valor do crédito e o prazo de duração do grupo estão corretos e ele confira os percentuais de contribuições - taxa de administração e, se houver, fundo de reserva e/ou seguro - e as demais despesas que serão cobradas.
“Certifique-se de que aquilo que foi prometido, em propaganda ou pelo vendedor, consta do contrato. Desconsiderar promessas verbais: todos os direitos e obrigações do consorciado devem estar estabelecidos no documento”.
Para o economista e educador financeiro, Edísio Freire, outro cuidado importante é quando há ofertas de contratação de consórcio sem análise de renda, sem consulta aos órgãos financeiros. “Desconfie. O consórcio é uma espécie de condomínio financeiro, onde o sucesso está justamente na manutenção da capacidade financeira do grupo, havendo pessoas inadimplentes a probabilidade de ter problemas é grande, então a liberação de acesso sem ao menos analisar a capacidade de pagamento do consorciado, é indício de risco. Mais um fator, é quando na apresentação da proposta oferece a contemplação imediata. Caso clássico de enganação”, alerta.
Outra promessa que acontece, é a de iludir o consumidor com a falsa ideia de que o consórcio é o mesmo que um financiamento. “É fundamental ficar atentos às propostas comerciais do consórcio, pois nelas pode conter promessas que certamente não estarão previstas em contrato. Um consórcio seguro é aquele administrado por empresas sólidas e de notório conhecimento de mercado, além de possuírem a autorização do órgão competente”, reforça Freire.
CINCO DICAS PARA EVITAR GOLPES DE CONSÓRCIO
1. Sempre observe se a empresa que oferta o consórcio Observe se no ato do contrato a empresa pede comprovante de renda e se, faz consultas para verificar se o consorciado tem restrição financeira. São medidas que garantem a qualidade do grupo, e afasta possíveis problemas por inadimplência.
2. Segurança Não deixe de consultar se empresa responsável pelo consórcio tem registro no Central do Brasil.
3. Pesquise e avalie Fique de olho na reputação e histórico da empresa de consórcio, verificando nas paginas que registram reclamações, em fóruns específicos, para verificar se há alguma reclamação relevante sobre a idoneidade da empresa.
4. Pagamento Nunca transfira nenhuma quantia como forma de garantir a compra de um consórcio. Essa não é a prática comum das empresas que operam nesse mercado.
5. Ao comprar uma carta contemplada Sempre verifique antes de pagar a legitimidade da carta, fazendo contato com o titular e com a empresa administradora do consórcio.
Ontem (31), a reportagem entrou em contato com a Polícia Civil (PC), em busca de novos dados sobre a Operação Falso Consórcio, mas não obteve novas atualizações, pois, segundo a PC, as investigações seguem em andamento.
*Nome fictício, a personagem pediu a reportagem para não ser identificada.
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