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Com a alta no preço dos alimentos, virou comum encontrar carrinhos com produtos deixados pelos consumidores (Foto: Marina Silva/Correio)Com a alta no preço dos alimentos, virou comum encontrar carrinhos com produtos deixados pelos consumidores (Foto: Marina Silva/Correio)

Em uma manhã na capital baiana, uma rede de atacado chega a devolver itens de mais de 20 carrinhos para as prateleiras

Refrigerante, iogurte, biscoito, sucos de caixinha e até produtos de limpeza são alguns dos itens que já não cabem nos carrinhos de supermercado em Salvador. Ou melhor, cabem, só não passam pelo caixa. Com a inflação puxada pelo preço dos alimentos, aumentou o número de consumidores que não consegue levar para casa tudo o que foi escolhido nos corredores do mercado. Em uma manhã na capital baiana, uma rede de atacado chega a devolver itens de mais de 20 carrinhos para as prateleiras.


Operadores de caixa de duas redes de atacado visitadas pelo Portal relatam que a reclamação pelos preços, sempre presente, aumentou desde o início deste ano, assim como o número de vezes que eles precisam levar os itens deixados nos carrinhos de volta aos seus lugares. Os motivos são semelhantes: acaba o limite do cartão de crédito, não é possível pagar toda a quantidade escolhida com o débito ou o cartão foi cancelado.

No último mês de julho, a cesta básica em Salvador e na Região Metropolitana passou a custar R$ 494,74, com redução de menos de 2% em relação a junho, de acordo com pesquisa da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Sei). Em um mês, o leite teve alta de mais de 20%, chegando a custar R$ 40 em mercados da região. No ano todo, o aumento no preço do leite foi de quase 50%. Também foi registrado aumento no preço da manteiga e até do açúcar cristal.

Para não precisar abrir mão do leite e outros produtos essenciais para o filho pequeno, Andrea Jesus, de 41 anos, precisou deixar na esteira de compras de um mercado atacadista parte do que pretendia levar para casa. “Tá tudo muito caro, eu nem sei o que deixei aí”, diz ela, após explicar que em primeiro lugar vem o filho. Ficaram no mercado o refrigerante sabor laranja, uma lata de milho, cenouras, e dois copos de guaraná. A próxima pessoa a passar no mesmo caixa também deixou produtos no carrinho.

Do outro lado, quem sente as dificuldades dos clientes é Geisiane Oliveira, 28, supervisora de operação de caixa de um mercado da capital. “No dia a dia são muitos produtos, em média sete itens de uma compra de 20 ficam para trás. O que observo é que as pessoas não fazem mais compras maiores e geralmente nos dias com promoção. É a lei da sobrevivência”, afirma.

De acordo com o economista Denilson Lima, especialista da Sei, os mais prejudicados pela inflação, que é a perda da capacidade de compra do dinheiro, são os mais pobres. Nos oito primeiros meses deste ano, a Região Metropolitana de Salvador registrou uma inflação acumulada de 5,93%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas o peso do aumento dos preços dos alimentos é sentido por todos. A assistente social Deni Costa e o marido Roaldo Costa, funcionário público, contam que precisaram fazer modificações nas compras mensais desde o início deste ano.

O óleo de girassol foi substituído por óleo de algodão, o leite escolhido é o da marca mais barata e sorvete do final de semana passou a ser reservado só para ocasiões especiais. Já os três pacotes de biscoito salgado viraram um ou dois, o refrigerante foi substituído pelo suco de frutas e o bolo que era feito com manteiga, passou a ser com margarina. As compras do casal para a família com três filhos de 18 a 23 anos ultrapassam o valor de R$ 2 mil.

“Essas substituições a gente vai testando e aprendendo. Antes de achar o óleo de algodão, eu passei a usar banha, depois achei o óleo de algodão. Infelizmente a realidade da gente é a de todo mundo, a conta não está fechando”, comenta a assistente social ao explicar que o valor da feira mensal aumentou muito nos últimos meses.

Cancelamentos na boca do caixa estão mais comuns

Sabe aquele momento em que você está com pressa na fila do mercado e a pessoa na sua frente decide cancelar uma compra? Situações como esta estão ficando mais frequentes nos estabelecimentos por conta da inflação, como relatam alguns funcionários de supermercados. A razão para isso é a inflação, que faz com que alguns produtos não caibam no orçamento e a saída acaba sendo a única opção.

“Os cancelamentos são muitos. As pessoas chegam com dinheiro, mas o valor total acaba ultrapassando e retiram boa parte das coisas. Às vezes chego a cancelar de cinco a 10 itens em uma única compra”, relata a operadora de caixa Lindiane Santana, 35. A sua percepção é de que proteínas como carne e frango, além de produtos de limpeza, são os itens mais deixados de fora da nota fiscal.

Desempregada desde o início da pandemia, Jucimara Silva lamenta que tenha que desistir de levar itens na hora de passar o cartão. “Muitas vezes eu fico com vergonha, porque o dinheiro não dá e preciso devolver”.

Prioridade é a alimentação básica e, com isso, outros produtos são deixados de lado

O economista Edval Landulfo, integrante do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), reconhece que a devolução de produtos sempre existiu, mas admite que a tendência vem se espalhando. “Muitas famílias perderam a renda por completo e sobrevivem de bico. Se os valores da compra sobem muito rápido e atingem o limite previsto, é claro que as famílias vão deixar produtos nos carrinhos. Agora há uma frequência muito maior do que nos anos anteriores devido à alta inflacionária”, explica.  

Procurada, a Associação Baiana de Supermercados (Abase) e a Fecomércio-BA disseram que não possuem dados sobre desistências dos consumidores em levar itens por conta dos preços. Os supermercados Hiperideal, Atakarejo, Mercantil Rodrigues, Big Bompreço e RedeMix também foram acionados, porém não deram retorno sobre o assunto até a finalização desta reportagem.

Os institutos de pesquisa Nielsen e Kantar foram procurados, no entanto não informaram se possuem dados sobre o perfil dos consumidores na localidade.

Inflação desacelera, mas alimentos continuam em alta

Mesmo tendo registrado a maior deflação em 22 anos, continua sendo difícil comprar alimentos na capital e na Região Metropolitana. É o que indica a prévia da inflação oficial de agosto (IPCA-15), divulgada pelo IBGE.  O segmento de alimentação e bebidas teve alta de 1,36% e foi a principal influência para segurar a queda no índice. A alta dos produtos alimentícios vem na contramão de outros setores, especialmente o de transportes, que registra queda. O grande vilão do mês é o leite longa vida, com alta de 28,2%.

O IPCA-15 ficou em -0,82%, menor índice na região desde o início da séria histórica do IBGE, em 2000. A queda nos preços, inclusive, foi superior à do país como um todo (-0,73%). Especialistas explicam que isso é consequência da redução provocada pelo limite do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos, que não chega a atingir as prateleiras dos mercados. A pesquisa indica queda de 19,6% no preço da gasolina para a capital e a Região Metropolitana.

Ainda sim, a Região Metropolitana de Salvador tem a maior inflação acumulada do Brasil. Nos últimos 12 meses terminados em agosto, a região registra alta de 10,8%, enquanto que o índice nacional é de 9,6%. Segundo o economista da Sei, Denilson Lima, os motivos para a alta dos preços dos alimentos vão de fatores internos, como a diminuição da safra, até fatores internacionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Lá na Europa está tendo a guerra da Rússia com a Ucrânia, e a Rússia está diminuindo a oferta de gás natural [forma de energia mais utilizada pelos europeus]. Estão se aproximando do inverno e o inverno europeu é rigoroso. Então eles estão recorrendo ao diesel - estamos falando de um continente ultra desenvolvido - onde há muito uso de energia. Então a demanda do diesel é maior”, avalia. No Brasil, os alimentos são transportados por meio de caminhões que utilizam o diesel.

Outro fator da guerra é que a Rússia é o maior produtor de alimentos do mundo, e a Ucrânia detém 30% destes. A Ucrânia é também o maior produtor de fertilizante do mundo, que é utilizado para a soja, milho e parque para gados. A não disponibilização dos fertilizantes afeta a agropecuária no Brasil.

Já em relação a fatores internos, ele explica os problemas do custo na produção do leite. “Há algum tempo o pessoal do gado leiteiro se queixava dos custos de produção do leite. Se os custos ficam maiores do que o preço de venda do produto, não vale. Então esse pessoal começou a deixar a produção do gado leiteiro para o gado de corte. É melhor ter mais bois para vender para a China e outros países do que leite caro. Com oferta menor que a demanda, mais caro o produto”.

De acordo com Gustavo Casseb Pessoti, presidente do Corecon-BA, outro fator é que com a diminuição do poder aquisitivo da população, a maior demanda passa a ser por alimentos, porque é o essencial. “Você tem um cenário que é muito óbvio também nesse momento que é a perda de poder aquisitivo da população e que, portanto, concentra a compra mais em gêneros alimentícios. Aí a clássica relação: aumenta a demanda, você tem uma oportunidade de aumentar o preço daqueles produtos que têm demanda aumentada.Isso é normal em qualquer segmento”, explica.

Produtos que mais registraram alta absoluta em agosto na Região Metropolitana de Salvador, segundo o IPCA-15

1. Leite longa vida (28,29%)

2. Melancia (24,73%)

3. Maçã (7,53%)

4. Manteiga (7,15%)

5. Leite em pó (6,48%)

Produtos que continuam sendo prioridade na lista do mercado, de acordo com consumidores

Arroz

Feijão

Macarrão

Cebola

Pão

Produtos que estão sendo deixados de lado por conta da alta de preço, segundo consumidores

Biscoito

Carne vermelha

Iogurtes

Presunto

Queijo

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