Isabela Oliveira Conde foi esfaqueada 68 vezes em 2019 e precisou se fingir de morta para escapar com vida
A Justiça condenou a 10 anos, oito meses e sete dias de prisão Fábio Barbosa Vieira, ex-namorado e mandante do ataque à fisioterapeuta Isabela Oliveira Conde, que foi esfaqueada 68 vezes em 2019 e precisou se fingir de morta para sobreviver. A decisão aconteceu na noite desta segunda-feira (22) após 10 horas de júri. Um dos homens que participou do crime, Alex Pereira dos Santos, que esfaqueou e espancou a vítima, também foi condenado e ficará recluso pelo mesmo tempo que Fábio. Um terceiro criminoso ainda não foi identificado.
O júri que decidiu pela condenação dos criminosos, réus confessos, foi composto por três homens e quatro mulheres. Ambos homens foram condenados por tentativa de feminicídio, motivo torpe, meio cruel e que impossibilitou a defesa da vítima. Vão cumprir pena no regime semiaberto.
O advogado criminalista Levy Moscovits, representante da vítima, explicou que a tese da defesa era de que o júri não aceitasse o feminicídio e concordasse que os réus tentaram apenas lesionar Isabela, sem a intenção de matar. Essa tese, no entanto, não obteve sucesso e os réus foram condenados.
“Depois de muitas horas de júri, o conselho de sentença, composto pelos jurados, deliberou pela condenação dos réus por tentativa de feminicídio. Diante disso, sentindo que a justiça foi feita, que fique a mensagem de que a sociedade baiana não tolera feminicídio e violência doméstica contra a mulher”, ressaltou Moscovits.
O advogado de Isabela ainda pretende recorrer da decisão para rediscutir a Dosimetria (cálculo) e regime de cumprimento de pena. A promotora titular do caso e coordenadora do núcleo do júri, Isabel Adelaide, explicou que, atualmente, uma condenação maior, em torno de 30 anos, é muito rara. “Existe uma mística em torno dos 30 anos. Quando é uma tentativa, você tem uma redução de pena que é imposta a partir do Art. 14 do código penal e que necessariamente seria feita. Ainda que ele fosse condenado na pena base de 30 anos, o que é difícil, teria que haver a redução e ele não seria condenado por esse tempo”, explicou a promotora.
Durante o júri, Isabela pediu para ser ouvida sem a presença dos réus. Apenas ela foi ouvida nesta segunda, pois os acusados falaram anteriormente e a promotoria julgou suficiente o conjunto de provas reunidas. “Deus me deu a vida de volta. Agradeço a ele, à Justiça, aos meus advogados, a minha família e amigos que acreditaram que é possível se fazer justiça. Mesmo diante de tamanha crueldade, é preciso se manter em pé e ter forças para seguir. Fábio não me matou porque Deus permitiu que eu estivesse aqui hoje”, afirmou.
Relembre o caso
A fisioterapeuta levou as facadas, distribuídas entre o tórax e cabeça, no dia 28 de fevereiro de 2019, uma quinta-feira de Carnaval, na Avenida Bonocô. Fábio e os outros dois homens foram buscar a fisioterapeuta no trabalho. Dentro do carro, os dois amigos, que estavam no banco de trás, desferiram as 68 facadas, a pedido do ex-namorado. Ela sobreviveu após se fingir de morta, mesmo, em seguida, sendo jogada numa ribanceira da BR-324, ainda em Salvador. A agressão ocorreu após ela querer terminar o relacionamento.
Na época, Isabela contou que foi socorrida por populares e levada ao Hospital do Subúrbio. Apesar de ter pedido uma grande quantidade de sangue devido aos ferimentos provocados, não só pelos golpes e murros durante o ataque, mas por se arrastar num matagal, ela chegou consciente à unidade médica.
“Deus estava comigo do início ao fim. Falei tudo. Tive condições de falar o meu nome completo, dar os contatos de minha irmã e meu cunhado. Tive condições também de informar o responsável por tudo isso: Fábio Barbosa Vieira. Foi então que minha irmã e meu cunhado tiveram a ideia de ligar para Fábio e dizer que cheguei morta ao hospital. Ao mesmo tempo, avisaram à polícia”, contou Isabela em 2019.
Acreditando que seu plano havia dado certo e que Isabela estava morta, Fábio chegou ao Hospital do Subúrbio fingindo estar atordoado com a notícia. “Minha irmã disse que ele estava todo arrumado, de banho tomado, relógio novo, e dizendo que estava arrasado com a notícia. Ele abraçava minha irmã e, com todo o cinismo, dizia: ‘O que fizeram com Bela, o que fizeram com ela, que crueldade’”, relatou.
A irmã de Isabela, o cunhado e filha adolescente da vítima, precisavam manter Fábio no hospital até a chegada da polícia. Então, num determinado momento, a adolescente chegou a perguntar pela mãe a Fábio. “Ele disse que havia me deixado no trabalho, que provavelmente depois teria saído com uma amiga. Ele ainda a abraçou e chorou na frente de todo mundo”, lembrou.
Depois, a máscara de Fábio caiu. “Ao ver a aproximação dos policiais, ele olhou para a minha família e minha irmã disse a ele: ‘Isabela está viva’. Foi quando ele correu, os policiais foram atrás, mas a população agarrou ele”, concluiu.
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