Após troca de cadernos, exame foi suspenso pelo instituto responsável pelo certame
A advogada Olívia Borges, 42 anos, chegou cedo até o local onde iria prestar o concurso para delegado da Polícia Civil do estado. Inicialmente, o movimento era tranquilo. Ela se dirigiu até a sala e iniciou a prova como em outros processos de que já participou na área jurídica. Quando terminou a primeira etapa no final da manhã, viu uma confusão na entrada da escola onde a prova acontecia, no bairro de Cajazeiras.
É que, marcadas para a manhã desse domingo, as provas objetivas para o cargo de delegado da Polícia Civil da Bahia foram anuladas - e as discursivas, à tarde, suspensas - após uma falha de logística que gerou uma entrega de provas trocadas aos candidatos. O problema aconteceu em salas na Universidade Católica do Salvador (UCSal), em Pituaçu.
“Quando eu saí, já vi um tumulto no portão. Tinha um fiscal representando a organizadora do concurso, dizendo que todo mundo que terminasse já poderia se dirigir para casa porque não haveria mais a prova no turno da tarde. O exame para o cargo de delegado tinha sido cancelado. Foi uma surpresa geral para os candidatos”, conta ela.
Olívia chegou a passar algum tempo na porta da escola, aguardando para ver se surgia alguma nova informação, já que, no site do Instituto Brasileiro de Formação e Capacitação (IBFC) – empresa contratada pelo estado para realizar o certame –, não havia nenhum comunicado oficial.
“Recebemos a notícia ‘de boca’, sem qualquer segurança. O que disseram apenas foi que depois o IBFC soltaria uma nota com as orientações para o candidato do concurso. A gente investe muito e não raramente tem acontecido esse tipo de abuso, essa falta de responsabilidade, a organizadora tem todo aparato para organizar o concurso e não permitir que o que houve hoje [ontem] aconteça”, lamenta Olívia.
Segundo a nota divulgada pelo IBFC, “a equipe de aplicação realizou a distribuição dos pacotes de prova de maneira invertida, entregando os pacotes em salas diferentes”. “Embora essa troca de pacotes não tenha causado qualquer prejuízo à segurança do processo ou ao sigilo das provas, ao abrirem os pacotes de provas dentro das salas, na presença dos candidatos, foi constatado que as folhas de respostas anexadas aos cadernos não pertenciam aos candidatos daquela sala, mas de outra”. Ainda segundo o IBFC, haveria uma redistribuição das folhas de resposta, mas alguns candidatos não aceitaram.
A suspensão da prova foi uma decisão do próprio instituto, com a finalidade de garantir “a lisura, transparência e segurança do contratante e dos candidatos”, justificando a troca por conta de uma mudança nas escolas onde o exame seria aplicado, divulgada pela imprensa na sexta-feira (22), antevéspera do exame.
A alteração de endereços impactou 1.991 candidatos. O grupo que faria provas no Grau Técnico Fonte Nova precisou se dirigir à Universidade Católica do Salvador (UCSal), campus Federação. Já os candidatos que iriam se dirigir ao Colégio Estadual Helena Matheus, ao Grau Técnico São Cristóvão e ao Colégio Estadual Bolivar Santana foram remanejados para o campus Pituaçu, também da UCSal, na Avenida Professor Pinto de Aguiar.
A anulação da prova afetou somente o cargo de delegado civil, o mais concorrido entre as vagas oferecidas no concurso (veja box). As provas dos cargos de escrivão e investigador foram mantidas. Ao todo, são oferecidas mil vagas, sendo 150 para o cargo de delegado, 150 para escrivão e 700 para investigador.
Impactos
A data do novo exame para delegado será divulgada ainda esta semana. Em nota, a Secretaria de Administração da Bahia (Saeb) disse que os inscritos continuam aptos para a prova. “Não há prejuízo aos inscritos. Nova data está sendo alinhada pelo IBFC junto ao governo do estado. Em breve, iremos divulgar”, escreveu o órgão.
Até lá, a advogada Olívia Borges segue se preparando. Ela tem estudado para concursos da Defensoria Pública, mas a vaga para delegado interessou, porque a oportunidade era na Bahia. O foco em conquistar uma dessas vagas aumentou quando ela perdeu o emprego no último ano.
“A prova foi uma surpresa não muito grata. Primeiro, que eu moro na Barra e me colocaram para fazer a prova em Cajazeiras VI, mesmo com tantas escolas e faculdades próximas. Então, já começou com esse contratempo. Ficamos à mercê das organizadoras. Não existe fazer concurso sem estudar. Pagamos uma taxa de inscrição cara, investimos em livros, materiais, cursos. Fora as privações da vida pessoal.”
Sobre a prova que fez na parte da manhã, Olívia comentou que ficou a sensação de que as questões não estavam adequadas a uma prova para delegado. “A prova não media conhecimento para o cargo de delegado. A minha prova estava de um nível de escrivão, com noções básicas de Direito. Fora as perguntas aleatórias como, por exemplo, qual era o dia do índio”, analisa.
No caso da advogada Lara Barroso, 27 anos, a frustração foi ainda maior. Ela veio de Fortaleza só para fazer o concurso.
“Estudo especificamente para esse cargo porque me identifico com a profissão. E busco um concurso no Nordeste, de preferência. Vim de longe, foi uma programação difícil, há dias vinha tensa pela prova”, afirmou.
Quando saiu da sala, ela também não tinha recebido ainda nenhum comunicado oficial da suspensão do concurso. “Ainda realizei a prova objetiva, estava um pouco extensa. Só sabíamos dos comentários do cancelamento pelas redes sociais.”
Lara calcula um prejuízo financeiro de R$ 2,5 mil só para vir fazer a prova em Salvador. “Por ser um período de férias, as passagens estavam mais caras e para o fim de semana estavam inviáveis. Precisei vir antes e, mesmo assim, comprei uma passagem de R$ 1.250. Isso porque eu pesquisei muito. Só que o prejuízo não é apenas o financeiro. O que para gente é um sonho se torna uma adversidade e tira toda a credibilidade da banca.”
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