O assessor Felipe Reis, 27 anos, perdeu R$ 5.300 ao tentar vender um celular e um relógio por uma plataforma de comércio digital na internet, há cerca de três meses. Por meio da clonagem do WhatsApp e dos dados de outra pessoa, o golpista se passou por um cliente interessado na compra dos produtos. A exemplo do que aconteceu com Felipe, os crimes digitais têm gerado muita dor de cabeça e prejuízo financeiro para os baianos.
“Após fazer o anúncio no site, o criminoso se passou por um cliente da plataforma, com dados copiados de outra pessoa e um número de WhatsApp voltado para a negociação. Após a realização da suposta compra, encaminhei o celular e o relógio, orçados em R$ 5.300. Depois de descobrir o golpe, cheguei a fazer contato com a pessoa que teve os dados clonados. Ela mora na cidade de Goiânia, ao tempo que o golpista é de São Paulo. Apesar das denúncias e processos judiciais relacionados com o caso, ainda não consegui reaver o prejuízo financeiro”, conta Felipe.
Por meio do golpe do WhatsApp clonado, o engenheiro de automação Fillipy Araújo, 28, perdeu R$ 500. “Um primo teve o aplicativo de conversa clonado. Se passando por ele, o criminoso enviou mensagem falando que precisava do dinheiro com certa urgência, pois tinha que pagar algumas mercadorias que estava vendendo. Ele ainda falou que estava com um problema na conta bancária pessoal, por isso seria necessário transferir direto para a conta da pessoa para a qual estava pegando a mercadoria. Aí acabei fazendo a transferência”, explica.
Alerta
Segundo os recentes dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA), nos quatro primeiros meses de 2021, foram registrados 66 casos de crimes envolvendo as redes sociais e a informática. No mesmo período de 2020, apenas 11 ocorrências foram contabilizadas. No interior da Bahia, 184 casos foram registrados no primeiro quadrimestre do ano, número maior que as 44 ocorrências em igual período do ano passado.
Para o delegado Delmar Bittencourt, especialista em crimes cibernéticos da Polícia Civil da Bahia, é importante que as pessoas não ajam por impulso e façam transferência de dinheiro por meio de aplicativos, como o WhatsApp, sem antes conferir quem está fazendo a solicitação. Além disso, é importante checar todos os dados relacionados com a transação financeira digital, a exemplo do Pix.
“Com um pouco de atenção, a chance de cair em golpes digitais fica muito pequena. Se é um familiar que está solicitando dinheiro por aplicativo, faça uma ligação, veja se é realmente a pessoa. É possível também observar sinais do que pode ser um golpe, a exemplo da urgência do pedido de dinheiro, que para os criminosos será sempre no agora, além de dados financeiros que geralmente são de outros estados”, diz Bittencourt.
Para quem foi vítima de um golpe digital, o delegado acrescenta a importância do registro de boletim de ocorrência na delegacia. Ele explica que o registro permite a criação de dados que possam revelar qual tipo de golpe está ocorrendo na região, contribuindo para uma investigação que busque chegar até os autores.
Cuidados
A estudante de enfermagem Mara Costa, 24, recebeu uma mensagem que seria da operadora de internet residencial. O texto falava de uma promoção de uma das mensalidades do serviço prestado pela operadora, que ficaria na metade do preço tradicional. Por se tratar de uma mensagem recebida por um número de cinco dígitos, que é usado pela empresa, ela pagou um boleto de R$ 70, relativo ao valor promocional. O golpe ocorreu após o sistema da operadora ser hackeado.
“Como fiquei sem o serviço de internet, resolvi ligar para a operadora. Ao explicar para a atendente que tinha realizado o pagamento do mês que constava como atrasado, ela disse que o sistema de mensagem da empresa teria sido hackeado. Apesar do susto, nesse caso, o prejuízo financeiro ficou com a empresa, pois consegui reaver o valor”, conta a estudante.
Para auxiliar na resolução de casos que envolvem fraude digital, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) tem o projeto Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos (Nucciber), que visa auxiliar e orientar as Promotorias de Justiça do Estado. O promotor João Paulo da Costa, coordenador do projeto, explica que 80% a 85% dos crimes digitais são baseados na chamada engenharia social, técnica empregada por criminosos virtuais para induzir usuários desavisados a enviar dados confidenciais ou abrir links que permitam hackear computadores, celulares e outros aparelhos.
“A maioria dos casos está relacionada com o estelionatário, que observa o que as pessoas postam em locais como as redes sociais. Com essas informações, eles tentam ganhar a confiança da pessoa para conseguir os dados que precisam. A clonagem e o hackeamento de aplicativos, sistemas, redes sociais também são aplicados nos golpes. Neste cenário, o Nucciber auxilia os promotores no trabalho de coleta da materialidade dos delitos”, afirma o promotor.
Além do trabalho na resolução de casos, o promotor explica que o núcleo tem desenvolvido ações no sentido de orientação das pessoas, com palestras e cartilhas. “Para quem sofre o golpe, é muito difícil reaver o dinheiro, pois as ações digitais envolvem a rápida movimentação financeira. Por isso, é importante manter aplicativos atualizados, evitar transações financeiras em redes públicas de wi-fi. Caso tenha perdido o celular, é importante mudar senhas e solicitar o bloqueio do aparelho”, conclui.
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