Dezoito anos de casados tinham o porteiro Edvaldo dos Santos Silva, de 54 anos, e a costureira Luzia Santana Silva, 49. Ambos tinham um desejo em comum: serem pais, algo que o casal estava tentando há cerca de 10 anos, através de tratamentos médicos. Para felicidade do casal, há quatro meses, a gestação foi confirmada pelos médicos, mas uma tragédia no sábado (1º), impediu que eles conseguissem a dádiva de ter o filho.
O casal foi atropelado por um veículo desgovernado, que fugia de uma perseguição policial, na manhã de sábado. Luzia morreu no local com o impacto do acidente. Edvaldo ainda chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu e morreu horas depois. Ambos serão enterrados neste domingo (02), às 15h30, no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas.
A costureira pretendia fazer uma surpresa para o marido antes de contar para ele que seria pai. Ela então decidiu juntar toda a família no bairro do Bate Faixo, local onde moravam, antes de terem se mudado para Cajazeiras, há cerca de três meses. Ela pretendia anunciar a gravidez para os parentes e amigos.
Durante o processo de liberação do corpo do casal, na manhã deste domingo (2), no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN), familiares do casal conversaram com o CORREIO. Pedro dos Santos Silva, irmão de Edvaldo, foi o encarregado de reconhecer e liberar o corpo do irmão para enterro. Ele contou que ia ao médico, pelo metrô, no momento em que viu uma aglomeração de pessoas e de policiais no local do acidente. Inicialmente, ele não quis encostar, mas falou que mesmo sem saber quem eram as vítimas, lamentou a morte das pessoas envolvidas no desastre.
“É uma coisa que a gente não vai esquecer nunca, ninguém esperava por isso. Eu mesmo, estava indo ao médico, e no metrô, vi aquele movimento de gente e de polícia e pensei: 'que tristeza para essa família, sem saber que se tratava da minha'”, contou o rapaz, que quando soube que se tratava de seus familiares, ficou desesperado ao lado da esposa.
“Minha esposa estava comigo e entrou em desespero, mas eu precisei ser forte, pois nesses momentos alguém precisa ser. Só fui perceber que eram eles quando ouvi as pessoas dizerem que eles eram do Bate Faixo. Daí minha sobrinha me ligou avisando que era meu irmão e a esposa e que um carro havia atropelado eles. Foi uma tristeza enorme, começamos a ligar para os telefones deles, mas nenhum chamava, nem atendia. Foi um desespero. Quando consegui chegar perto, vi o corpo da minha cunhada jogado no chão, e o meu irmão, a SAMU já tinha levado para o hospital”, completou.
Pedro disse ainda que tanto o irmão quanto a cunhada eram um casal de trabalhadores. Segundo ele, Edvaldo havia acabado de sair do plantão no condomínio onde trabalhava como porteiro, no bairro do Costa Azul. Ele tinha marcado com Luzia para se encontrarem na passarela da estação do metrô, no Imbuí, para seguirem para o Bate Faixo.
Ainda segundo ele, o dia era para ser marcado como um dia especial para todos, pois eles conseguiram o que tanto sonhavam: a gravidez. No entanto, a alegria da família foi interrompida por uma tragédia.
“Era um casal trabalhador, ele sempre trabalhou de vigia e porteiro e ela como costureira, trabalhava em casa. Ele trabalhou na sexta pela noite e se encontrou com ela no sábado de manhã, no metrô. Era para ser um dia especial. Minha cunhada não poderia ter filhos, estava fazendo tratamento há dez anos. Ela quis fazer essa surpresa para a família quando soube que estava grávida. Nem meu irmão sabia, mas esse mau elemento acabou com a nossa alegria”, lamentou.
Visivelmente emocionado, Pedro garantiu que em sua memória e dos demais familiares, restará as lembranças boas da vida do casal. “As lembranças que ficamos deles são as melhores possíveis, e só nos resta a saudade. Não tenho nem palavras para falar”, concluiu o rapaz, com as lágrimas descendo por de trás dos óculos escuros.
Prisão
O homem que dirigia o veículo que atingiu o casal foi identificado como José Pereira da Silva Neto, de 38 anos. Ele foi autuado em flagrante na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O CORREIO apurou que o homem já possui outras passagens pela polícia por roubo duplamente qualificado, formação de quadrilha e receptação, além de tráfico de drogas e troca de tiros com policiais militares.
O CORREIO apurou que José possui algumas passagens pela polícia. Dentre elas, está uma datada em 29 de novembro de 2015, quando foi conduzido por policiais para a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), após tentar fugir de uma blitz e colidir o veículo em que estava, que constava restrição de roubo. Na ocasião, ele foi autuado em flagrante por roubo duplamente qualificado, formação de quadrilha e receptação.
A segunda passagem de José Pereira pela polícia foi por tráfico de drogas e troca de tiros com policiais militares.
À época, policiais da 39ª Companhia Independente de Policiamento Militar (CIPM) foram informados de que haviam homens armados trancando drogas numa comunidade conhecida como Inferninho. Ao chegarem no local, os policiais foram recebidos a tiros e, durante as buscas, encontraram, José escondido numa casa portando dez anos de cocaína. Ele foi conduzido para a Central de Flagrantes.
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