Abalada, assustada, com medo, mas viva. A motorista por aplicativo Lilian Borges, de 46 anos, falou com a reportagem de A TARDE nesta terça-feira, 23, sobre os momentos de terror que viveu após ser feita refém, colocada de joelhos, e recebido mais de 20 facadas durante um assalto no dia 16 de abril.
Os relatos foram feitos na delegacia de Vilas de Abrantes, unidade policial responsável pelas investigações. O nome do responsável pelo crime ainda não pode ser revelado, mas Lilian conta com detalhes o passo a passo do dia em que ela teve de se fingir de morta para sobreviver.
A motorista recebeu uma mensagem do homem solicitando uma corrida de Salvador, bairro do Doron, para Camaçari, no Inocoop, onde o suspeito tem um apartamento e é proprietário de uma loja de celulares. Parecia um trabalho normal, segundo ela.
"Eu cheguei no condomínio da mãe dele (em Salvador), ele entrou no carro, falou comigo normalmente e eu segui a viagem. Quando chegou, passamos pelo pedágio, tudo normal, ele não demonstrou em momento nenhum violência, nem demonstrou estar alterado. Conversou normal. Pouca coisas, mas estava normal", relatou.
O comportamento do homem mudou após eles passarem pela praça de pedágio de Camaçari. "Ele ia no banco de trás e eu no banco da frente. Quando chegou no viaduto, que dá acesso à Estrada da Cascalheira, ele mandou que eu desviasse. Eu nem maldei, não entendi, falei, pô, mudou o destino? Você não iria para o Inocoop? Foi quando ele apontou a arma, e ele disse: Bora, pode desviar e ir para a Cascalheira. Daí em diante começou o meu tormento".
Lilian conta que ele mandou que ela ajoelhasse antes de desferir as facadas. "Eu perguntava a ele, por quê?, E ele só mandava que eu calasse a boca, ficasse quieta e que dirigisse, que fosse até o local onde ele pediu que eu fosse, que foi no desvio, que é bem deserto. Chegando lá, ele pediu que eu descesse do carro, eu ainda achei que ele ia ali me abandonar e ia embora, mas não, pediu que eu ajoelhasse e aí começou me golpear".
Lá, a motorista por aplicativo começou a implorar pela vida."Enquanto eu pedia, implorava pela minha vida, implorei pela minha vida o tempo todo, pedindo a ele que eu era trabalhadora, que eu não merecia aquilo e ele só falava que eu calasse a boca e continuou, até que eu tive um vômito de sangue e nesse momento ele achou que eu estava agonizando e parou".
Muito ferida, mais ainda ainda consciente, Lilian teve que se fingir de morta para enganar seu agressor. "Me fingi de morta e ele ainda me deu um chute pra ver, eu consegui segurar a dor, não gritei, fiquei quieta. Quando ele viu que eu não reagia, ele entrou no carro e foi embora".
Mesmo com os ferimentos graves, a mulher conseguiu se levantar e pediu ajuda. Ela foi socorrida para a emergência do HGC, onde prestou o primeiro depoimento e permaneceu internada por uma semana. O veículo de Lilian é de uma locadora e o rastreador conseguiu localizar o carro que estava estacionado em frente a casa do suspeito. Ele ainda não foi detido nem se apresentou para prestar depoimento.
Nesta terça-feira, 23, ela esteve na delegacia na companhia de advogado e do irmão para prestar depoimento, mas a delegada responsável pelo caso não estava na unidade e, por isso, o relato para a autoridade policial teve que ser adiado.
"O sentimento é de descaso. De ver que hoje completou oito dias, eu tive alta do hospital, e esse criminoso está solto, a nada se faz, não tem uma notícia, ninguém sabe, a foto dele não é divulgada e eu não sei se a polícia está indo atrás. Se não está, eu não tenho nenhuma notícia. Então, para mim hoje é um sentimento de descaso, que o que aconteceu comigo não foi nada, diante do tamanho da crueldade do que ele fez e não ter nenhuma notícia".
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