A festa do 7 de setembro nunca foi mesmo praia do PT, que em seus governos sempre deu a ela caráter institucional, obedecendo corretamente aos protocolos e tradições militares, sem usar politicamente a ocasião — deixando mobilizações populares para outras datas, como o 1º de maio. Apesar do simbolismo do primeiro Dia da Pátria sem Bolsonaro, com Lula investido na função de chefe supremo das Forças Armadas e oito meses após derrotar uma tentativa de golpe, o governo não tem razões para seguir roteiro diferente desta vez. Haverá um necessário reforço na segurança, e o presidente da República e os militares devem acenar com a pacificação institucional, mas trata-se de uma festa institucional e protocolar, e assim será conduzida.
Certo, vai ser impossível, por parte da grande maioria que preza pelos valores democráticos, evitar a sensação de alívio — afinal, é o primeiro 7 de setembro, em quatro anos, sem o jugo bolsonarista e as frequentes ameaças ao Estado democrático de Direito. Isso é muita coisa, mas que temos comemorado todos os dias, em cada ato das instituições, que funcionam dentro das normas, e em cada avanço das investigações que vão desvendando os crimes contra a democracia e a corrupção de quem se dizia incorruptível. Não é preciso data nacional para se respirar esses novos ares, e os temores de alguns em relação à repetição de atos como os do 8/1 vão se dissipando.
Não que os seguidores de Jair Bolsonaro não estejam tentando armar alguma coisa. Mas andam combalidos. Nos últimos dias, passaram de convocações suspeitas nas redes, ao estilo “festa da Selma” — tipo doar sangue vestidos de verde-e-amarelo ou sair de preto — , ao singelo bordão #fiqueemcasa. Não como orientação atrasada em relação à pandemia, mas tentativa de supostamente “esvaziar” o primeiro 7 de setembro de Lula.
Como, provavelmente, não haverá mesmo multidões nas ruas — nem contra, nem a favor — os bolsonaristas vão tentar construir a narrativa pueril de que “o povo” não foi comemorar a data cívica porque rejeita o atual governante e apoia seu antecessor. Acima de tudo, porém, vão tentar, com o recuo em sua convocação inicial de manifestações contra Lula nesse dia, esconder a dura realidade de que Jair Bolsonaro não está mais com essa bola toda para promover grandes mobilizações populares. Até porque não tem mais recursos para as camisetas, as bandeiras e os motociclistas.
As últimas pesquisas, que mostram crescimento na aprovação do governo Lula, não apontam o fim do bolsonarismo, mas já detectam sua corrosão depois do avanço das investigações que têm o ex-presidente e sua trupe como alvo. É possível que Bolsonaro mantenha a seu lado — e venha a conservar — boa fatia do eleitorado radical. São aqueles 20% que estão com ele em qualquer circunstância — só que, possivelmente, não mais para ir às ruas fazer quebra-quebra golpista e depois parar na cadeia.
É sobretudo pela ação correta e enérgica das instituições depois do 8/1 — prendendo, investigando e processando — que, apesar de todas as ameaças, o 7/9 de 2023 poderá entrar para a história como símbolo de uma virada de página.
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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