Pesquisadores da UFRJ e da Ufal identificaram petróleo por imagem de satélite
O Ibama nega que existe uma mancha de óleo no Sul da Bahia. Para o órgão federal, não se trata de petróleo e a imagem captada por um satélite se trata de um “falso-positivo”. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgaram que uma mancha de aproximadamente 200 km² estava próxima ao sul baiano - a área equivale quase a extensão da cidade de Simões Filho).
As mesmas imagens, captadas pelo satélite europeu Sentinel 1A, foram divulgadas nesta quarta-feira (30) por pesquisadores do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A descoberta dos pesquisadores, tanto da Ufal quanto da UFRJ, foi feita através da análise de uma imagem de radar emitida às 11h da manhã do dia 28 de outubro, gerada por um satélite da Agência Espacial Europeia. Essa é a primeira vez que o poluente é observado na superfície do mar e não nas praias. As informações são do jornal O Globo.
Em nota técnica do Ibama, emitida na manhã desta quarta-feira (30), o Centro Nacional de Informações e Monitoramento Ambiental (Cenima) informa que a feição escura observada na imagem de radar de satélite - com data de 28/10/2019 e área em torno de 193 km², distante cerca de 50 km da costa da Bahia, “não foi considerada uma feição suspeita de poluição por óleo pelos analistas ambientais, sendo apenas mais uma feição de falso-positivo”.
Ainda segundo o Centro, a mancha não apresenta padrões texturais e técnicos apropriados ao óleo e encontra-se posicionada geograficamente próxima a região com condições oceanográficas inadequadas – ou seja, não seria o caminho a ser percorrido pelo óleo considerando as correntes marítimas.
“Sendo assim, conclusivamente, não é plausível associar tal feição suspeita registrada na imagem de radar do Satélite Sennel 1A, na data de 28/10/2019 (às 08:34:31 UTC), como feição com caracteres de derramamento oleoso, pois suas características texturais e mulespectrais, mais ainda e principalmente as condições meteorológicas locais apontam para a ocorrência de uma célula meteorológica de alta intensidade”, descreve o documento. Confira abaixo:
Da análise e contextualização da imagem, continua o Ibama, denota-se que, após observação da textura da feição, em conjunto a pesquisa de radar e sensor, além do devido estudo das condições meteorológicas locais "concluímos que a Imagem Publicada sob responsabilidade do professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que se apresenta destacada na Figura 3 desta NT não se trata de óleo, podendo ser uma célula meteorológica em condições de atividade intensa".
O professor havia destacado que o radar é "sensível". "O radar é muito sensível a ver rugosidade e lisura. O óleo é muito liso em comparação com a água do mar, que tem ondulações. Onde tem óleo, a água fica muito lisa. Esta é uma técnica consagrada para verificar se existe mancha de óleo”, explica José Carlos Seoane, professor do departamento de geologia da UFRJ e especialista em sensoriamento. As informações são do jornal O Globo.
'Quebra-cabeça complexo'
Em entrevista ao CORREIO, o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis/Ufal que também detectou a mesma mancha e a associou a um padrão de derramamento de óleo, disse que essa é uma informação preliminar, mas que deve ser analisada com outros dados antes de ser totalmente descartada.
"Aquela não é a única imagem, mas é a mais clássica e coincidiu com a passagem do satélite pela nossa costa, na segunda-feira (28). Pode ocorrer de não ser óleo? Pode. Mas, há outras nuances, pequenas manchas ainda estão sendo registradas. Aquele foi apenas um ponto, uma peça de um quebra-cabeça complexo, precisa trabalhar muito. A Marinha precisa observar e registrar o que ocorreu, é um sinal muito significativo", declarou Barbosa.
Segundo ele, o Laboratório vem analisando imagens de satélite há cerca de 60 dias, desde o Maranhão até a costa do Espírito Santo. Ele pediu cautela na investigação do vazamento e descartou que a imagem registrada possa ser a sombra de uma nuvem. "E se tivesse uma nuvem, o radar penetra mesmo em nuvem com chuva. Ela pode ter interferência, mas aquele formato não é uma característica de uma nuvem. Eu descartaria a nuvem", disse.
No texto publicado pelo Laboratório nesta quarta-feira no site 'Letras Ambientais', o pesquisador chega a mencionar a possibilidade de que o vazamento venha de uma área do pré-sal. Ao CORREIO, Barbosa disse que nunca falou que o óleo seria do pré-sal, mas também não descartou que a chegada do óleo ao Nordeste sofra interferência de correntes marítimas e atmosféricas.
"Os ventos dobram e sopram de leste para oeste e do sudeste em direção à nossa costa. A partir de agora, eles começam mais em direção do Nordeste. Eu nunca disse que poderia ser óleo do pré-sal, mas é um padrão de derramamento de óleo", disse.
"Essa questão atual é muito mais complexa pela quantidade que está chegando. Não é uma quantidade irrisória, é significativa e que está boiando e tanto correntes marítimas quanto atmosféricas podem estar atuando", completou o pesquisador.
Pontos atingidos
Até essa terça-feira (29), 268 pontos foram atingidos pelo petróleo desde a primeira mancha identificada pelas autoridades brasileiras, no dia 30 de agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Renováveis (Ibama). Ao todo, 94 municípios espalhados por todos os nove estados nordestinos foram afetados. Das 268 localidades afetadas, 153 apresentam vestígios e 98 não voltaram a observar manchas de óleo.
A preocupação é com a chegada do óleo ao santuário de Abrolhos - no Extremo-Sul, região concentra a maior biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul. Segundo a ONG Conservação Internacional, 40 kg de óleo atingiu a região do Arquipélago de Abrolhos, mas a mancha ainda não teria chegado ao santuário. O superintendente afirmou que não há um plano especial para conter as manchas lá. Até porque, acredita ele, não há como identificar a mancha antes de ela chegar na praia.
“O plano que temos para Abrolhos é o que tem sido feito nos outros locais. Há 30 dias tem dois navios da Marinha monitorando Abrolhos, mas não acha nada. Nem lá e nem em lugar nenhum. Um terceiro navio capaz de sugar o óleo ainda no mar também foi deslocado para a região. Mas, para ele sugar o óleo, o material precisa ser encontrado antes. Se o óleo navega sob a superfície, como é que encontra?”, disse Rodrigo Alves, superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Bahia, que sobrevoou o litoral baiano nesta terça-feira (29) com o CORREIO.
“O único local em que conseguimos sugar óleo foi em Pernambuco, quando uma pequena quantidade foi visualizada antes de atingir a costa. Mas se tivesse chegado na praia a gente limpava e dava no mesmo”, justificou.
O superintendente espera que aconteça com o arquipélago aquilo que teria ocorrido na Baía de Todos-os-Santos. Por conta das características das correntes marinhas, o óleo teria chegado no máximo até a entrada da baía, na praia da Barra, e depois foi jogado para fora da região.
Por conta de sua características únicas, Abrolhos foi transformado no primeiro Parque Nacional Marinho criado no Brasil em abril de 1983, com 87.943 hectares. Sob a administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Parque possui dois polígonos: um que protege o arco de recifes costeiros localizado entre os municípios de Alcobaça e Prado abrangendo o Recife de Timbebas; e outro a cerca de 70 km da costa, que engloba o Arquipélago dos Abrolhos (formado pelas ilhas Redonda, Siriba, Sueste, Guarita e Santa Bárbara, esta última excluída dos limites do parque e sob jurisdição da Marinha do Brasil) e o Parcel dos Abrolhos (complexo de milhares de estruturas recifais únicas encontradas somente na região)
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