Lula e FHC na campanha para o senado em 1978 (Foto: Divulgação)
Quem olha para o ex-presidente Lula, uma figura forte e internacionalmente respeitada como um dos maiores políticos da atualidade, não imagina que, no passado, ele era como uma parcela significativa da população atual: totalmente sem interesse em política e nos políticos.
A revelação foi feita pelo próprio Lula, durante entrevista ao podcast PodPah, na última quinta-feira (02).
Inteligente?
"Eu achava que eu era inteligente e dizia assim, eu não gosto de política e não gosto de quem gosta de política. Eu achava que era o máximo, a imprensa batia palmas, eu saía na primeira página dos jornais: Finalmente surgiu um operário que não gosta de política, ele não quer o poder, ele só quer melhorar um pouquinho o salário dele", relembrou Lula
De acordo com o relato de Lula, em 1978, através da atuação no Sindicato dos Metalúrgicos, no ABC Paulista e, em especial, com a capacidade de aglutinar grandes volumes de pessoas o organizar greves de trabalhadores, ele começou a ficar famoso e a receber convites para entrar para a política, que eram sempre rejeitados. Até ele perceber que a política era o único caminho para alcançar as mudanças que ele queria.
FHC
Nessa mesma época, quando ainda sustentava a ideia de não gostar de política, Lula decidiu fazer campanha Fernando Henrique Cardoso.
"Ele era candidato ao senado, ele disputava com o Montori e com o Claudio Lembo, e ele tinha voltado do exílio, era uma figura interessante porque era mais jovem, era um cara mais à esquerda... Mas depois ficou mais à direita... E não foi ele que me pediu. Eu que fui pedir para apoiá-lo, admitiu Lula. "Aí depois eu descobri que se a gente não cria um partido político a gente tava ferrado", completou.
Sem trabalhadores
A mudança de perspectiva de Lula aconteceu quando ele se deu conta da importância da representatividade nos espaços de poder. "Então eu descobri que era preciso criar um partido, porque eu fui no Congresso para aprovar uma lei e quando cheguei lá eu percebi que não tinha nenhum trabalhador. E aí então eu comecei a fazer política", expôs.
A situação vivenciada por Lula, em 1978, é assustadoramente similar ao Brasil atual: queda de representatividade popular nos espaços de poder, ampliação das bancadas da bala, do agronegócio, e da bancada fundamentalista religiosa, paralela à perda contínua de direitos dos trabalhadores.
"Percebe que ser despolitizado é moda, no governo Bolsonaro. Ser despolitizado, ser ignorante. Quanto mais ignorante mais moda", avaliou Lula, já no início da entrevista.
Votar certo
Na avaliação do ex-presidente, um dos motivos pelos quais o cenário político no Brasil não tem melhorado é a educação política da população. "Aí você fica esperando que o Congresso Nacional aprove as coisas boas para o pais. Você já parou pra analisar quem é que está no Congresso Nacional? Você já parou para analisar o prontuário de cada um, a ficha de cada um, a origem de cada um? Se você não vê isso, você não vai saber votar", apontou.
"É como se você fosse botar uma raposa no seu galinheiro achando que a raposa vai engordar as galinhas. Não vai. Ela vai comer as galinhas", desenhou Lula.
Normal
Para finalizar essa parte da entrevista, Lula fez uma análise sobre a forma como a cena político-partidária funciona no Brasil. "A política no Brasil não dá certo porque as pessoas não têm compromisso ideológico. As pessoas são eleitas porque são eleitas. A vida inteira na política se tirou proveito da inocência do povo e o povo está acostumado é isso, então é normal. Se você está descontente com alguma coisa, é através da política que você vai mudar, então você tem que participar, você tem que saber como participar", cravou.
Veja aqui a entrevista completa, concedida na quinta-feira, 02
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|