Ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva (Foto: Reprodução)
O Brasil inteiro acompanhou os 580 dias do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva na prisão, na carceragem na Polícia Federal em Curitiba, durante o golpe eleitoral de 2018.
O que muitas pessoas não sabem e talvez nunca tenham parado para pensar é em como foi passar cerca de 1 ano e meio preso, condenado em um processo fraudulento, sem direito a uma defesa legítima.
Durante uma entrevista, na maior parte do tempo, teve e descontraída, ao podcast PodPah, Lula se emocionou ao falar das dificuldade e da educação que recebeu da mãe, ainda muito novo, e também da força que as vigílias lhe proporcionaram.
Veja abaixo a transcrição desse trecho, feita pela equipe do Camaçari Fatos e Fotos (CFF)
"Minha mãe teve oito filhos e ela criou esses filhos sozinha, praticamente. Não foram poucas as vezes em que a gente não tinha o que comer em casa. Eu morava nos fundos de um bar. O banheiro que a gente utilizava era o banheiro que os donos do bar utilizavam. Era lá que tinha que tomar banho minha irmã, minha mãe e nós. Eu tinha uma vontade de chupar chiclete de bola. Naquele tempo chamava chiclete americano, aquele que fazia bola. Você não imagina a loucura que eu tinha de fazer uma bola e nunca tive dinheiro pra comprar um chiclete.
Quando meu tio ia no banheiro no bar, ele pedia para eu tomar conta do bar e eu poderia ter roubado um chiclete. Mas eu não roubava, porque eu tinha medo de envergonhar minha mãe.
Eu tinha um companheiro chamado Boquita. Ele era filho de um sergipano... Não esqueço nunca. Esse Boquita mascava o chiclete dele o dia inteiro e quando ele ia jogar fora eu pedia pra mim. Pedia... Não tenho vergonha de dizer isso não... Pedia o chiclete borrachudo, levava pra casa, lavava ele, colocava um pouco de açúcar e mascava.
Eu tinha uma vontade de comer uma maçã. Naquele tempo era maçã argentina e eu tinha vontade de roubar um maçã... Roubar e sair correndo e comer. Eu não roubava com medo da minha mãe.
Essa foi a educação que eu recebi da D. Lindu. Aí, você não tem noção. Eu jamais imaginei na minha vida que eu iria sofrer o que eu sofri, de ataque de corrupção, com essa gente, com esses bandidos sabendo que eu não tinha feito.
Eu podia ter saído do Brasil, podia ter ido para outro país, poderia ter ido pra uma embaixada, mas eu tomei a decisão de que eu tinha que ir para Curitiba, tinha que ir para a Polícia Federal.
Eu precisava provar que o Moro era mentiroso. Eu precisava provar que a Força Tarefa de Curitiba era uma quadrilha e se eu fizesse isso iria aparecer uma fotografia minha "O fugitivo" e eu não tenho mais idade pra isso. Eu tenho bisneta... Eu tinha que honrar a D. Lindu.
Então, graças a Deus, eu provei. Eu tô até hoje perguntando pra esse Moro "diga, diga o que foi que eu roubei". Sabe qual foi a sentença dele pra mim? Fato indeterminado. Eu fui condenado por um fato indeterminado. Esse sem vergonha não teve coragem de dizer. Ele poderia ter dito...
É muito duro. É muito duro você estar na sua casa, junto com a sua família e você ver a televisão ficar 20 minutos falando que você é ladrão, falando que você roubou e sem mostrar uma prova. Isso é muito e eu jamais imaginei passar isso na vida. Jamais.
É uma marca profunda que eu vou levar na minha vida.
E eu ainda vou pensar bem, mas em algum momento eu vou processar, porque nem que for o tataraneto meu, um quinquaraneto, um sextaraneto meu um dia vai ganhar um processo contra essa sacanagem que fizeram comigo.
Eu fiquei preso durante 580 dias, mas o processo foram 4 anos de denúncia. E aí, eu sou agradecido àquele pessoal que fez vigília pra mim em Curitiba, aquelas pessoas que ficaram lá embaixo de chuva, embaixo de sol... Eles cantavam todo dia de manhã pra mim, gritavam bom dia, presidente; boa tarde, presidente; boa noite, presidente; durante 580 dias...
É uma coisa que marcou a minha vida. Eu saí da cadeia um outro homem (...) A solidariedade que eu recebi era muito grande. Nunca tinha acontecido com um ser humano o que aconteceu comigo. Nunca. A vigília foi uma coisa muito forte na minha vida. Muito forte."
Veja aqui a entrevista completa, concedida na quinta-feira, 02.
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