O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) - Foto: Divulgação
Três dias já se passaram desde que uma força-tarefa composta pelo Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) e órgãos federais resgataram 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão, na obra da fábrica da Build Your Dreams (BYD) em Camaçari e até o momento o governador Jerônimo Rodrigues (PT) não disse nem uma palavra sequer sobre os fatos.
Nesse meio tempo, entre agendas no interior e na capital, o governador fez várias publicações nos seus perfis das redes sociais, mas, até a publicação desse editorial, não dedicou sequer uma linha para tratar do assunto que, embora seja impossível de ignorar, parece ter sido ignorado.
E como bem disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lá em 2022, governo é para ser criticado. Pois bem, nesse caso, o governo do Estado merece duras críticas, porque, como diz o ditadoi, quem cala consente.
E os baianos, cadê?
Outro ponto no qual o governo do Estado merece fortes críticas é pelo fato de a obra de construção da fábrica ter pelo menos 163 trabalhadores chineses. Por que o governo do estado permitiu essa importação de mão-de-obra?
Não precisa ir muito longe para concluir que o único motivo para trazer trabalhadores da China para obras de construção da fábrica seria a redução de custos. E, se 2 + 2 = 4, a único motivo de se trazer trabalhadores de outro país por supostamente ser mais barato do que contratar mão-de-obra local é pela "cultura" de se explorar essas pessoas sem que doa a consciência.
A chegada da BYD deveria gerar emprego e renda para o município e o estado. Mas se já na construção da planta não estão agindo de acordo, como acreditar que baianos serão o maior volume de contratados quando a operação começar?
O joio e o trigo
É preciso saber separar as coisas: ao contrário do que têm sugerido parlamentares no União Brasil e outros partidos de direita, as ocorrências no canteiro de obras não são motivo para que a implantação da fábrica seja suspensa. Queremos desenvolvimento, sim. Queremos progresso, queremos o Parque Industrial em Camaçari.
Na mesma medida, a importância desse empreendimento para o futuro de Camaçari e da Bahia não podem ser desculpas para que autoridades fechem os olhos para os absurdos e as ilegalidades. Mas não se faz progresso às custas da dignidade humana. Não se faz política às custas dos valores das pessoas.
O nome do que se faz quando os valores são postos de lado em benefício de qualquer interesse é politicagem. É justamente por isso que o silêncio do governador é grave. Seria melhor ter usado a diplomacia, como fez quando saíram as primeiras denúncias, do que optar pelo silêncio.
Pode ser que, nos bastidores, atitudes estejam sendo tomadas e providências estejam sendo exigidas, mas bastidores, em um caso como esse, é pouco, muito pouco. O povo precisa saber que seu governador não tolerará situações como essa, que a Bahia tem comando.
Rui Costa e Jaques Wagner
A mesma crítica vale para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e para o senador Jaques Wagner, ambos ex-governadores da Bahia, e o outro um senador representante do estado no Congresso Nacional. Ambos com estreita relação política com Camaçari.
Quando a vinda da BYD ainda era um projeto, ambos se posicionaram e se mobilizaram para apoiar o projeto, ambos se posicionaram sobre a importância da instalação da montadora para o Estado. E agora, diante das absurdas condições de trabalho, os dois optaram pelo silêncio.
Esse silêncio todo não é aceitável. Ele dá um recado claro à população e não é uma mensagem positiva.
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