Violência armada segue como um dos principais desafios para a segurança pública na Bahia (Foto: Reprodução)
Apesar da sensação de baixa atividade policial, por parte da população - que reclama do aparente aumento da criminalidade - a violência armada segue como um dos principais desafios para a segurança pública na Bahia, com destaque para a participação de forças policiais nos confrontos.
Segundo o relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, divulgado em 19 de fevereiro, em 2024 foram registrados 1.795 tiroteios em Salvador e região metropolitana, uma média de cinco por dia. Embora o número represente uma leve redução de 0,4% em relação a 2023, quando houve 1.804 ocorrências, a proporção de confrontos iniciados em ações policiais aumentou, passando de 36,5% para 38%.
O estudo também revela um dado alarmante: mais da metade das chacinas ocorridas no estado tiveram participação da polícia. Das 27 chacinas registradas no ano passado, que resultaram na morte de 92 pessoas, 59% ocorreram durante operações policiais. Em 2023, esse percentual foi ainda maior, chegando a 69% em um total de 48 chacinas e 190 mortos. Apesar da queda no número de episódios desse tipo, a letalidade das ações de segurança pública continua sendo um fator central no debate sobre o uso da força no estado.
Panorama Nacional
Além da Bahia, o relatório do Instituto Fogo Cruzado aponta dados preocupantes em outros estados monitorados. No Rio de Janeiro, mesmo com a redução no número de tiroteios – de 9.633 em 2018 para 2.532 em 2024 –, a violência policial atingiu recordes históricos. No ano passado, 36% dos tiroteios estavam ligados a operações das forças de segurança, afetando milhares de unidades de ensino e saúde. A violência contra crianças também atingiu seu pico, com 26 crianças baleadas ao longo do ano.
Em Pernambuco, a violência armada continua em patamares elevados. A região metropolitana do Recife registrou 1.748 tiroteios em 2024, o segundo maior número da série histórica iniciada em 2019. O estado também apresentou o maior índice de vítimas em relação aos tiroteios: 97% dos disparos resultaram em mortos ou feridos. A violência contra crianças e adolescentes foi a maior já registrada, com 147 casos, resultando em 101 mortes.
No Pará, a letalidade policial se mostrou ainda mais crítica. Dos 694 tiroteios registrados na região metropolitana de Belém, 42% ocorreram durante ações policiais – a maior proporção entre os estados monitorados, superando a Bahia (38%) e o Rio de Janeiro (36%). O estado também se destacou pelo alto número de ataques armados em veículos, que vitimaram 96 pessoas.
Impacto das Políticas de Segurança
O relatório do Fogo Cruzado evidencia que, apesar de algumas reduções pontuais, a violência armada no Brasil continua afetando gravemente comunidades, especialmente as mais vulneráveis. A diretora do Instituto, Cecília Olliveira, alerta que a flexibilização do acesso a armas de fogo e a estratégia de segurança baseada no confronto contribuem para a manutenção desse cenário.
A pesquisa também discute as recentes medidas do governo federal para regular o uso da força policial e o controle do armamento civil, destacando que, apesar dos avanços, as ações ainda são tímidas. Para Terine Coelho, gerente de pesquisa do Fogo Cruzado, o foco excessivo em policiamento ostensivo, sem investimentos adequados em inteligência e investigação, dificulta o combate efetivo à violência.
Enquanto isso, os números mostram que a violência armada segue impactando a vida de milhares de brasileiros, inclusive na Bahia, onde as forças de segurança ainda desempenham um papel central nos confrontos mais letais.
Sobre o Instituto Fogo Cruzado
O Instituto Fogo Cruzado é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao monitoramento da violência armada no Brasil. Criado em 2016, o instituto desenvolve uma plataforma colaborativa que coleta e analisa dados sobre tiroteios, com o objetivo de ampliar a transparência e subsidiar políticas públicas voltadas para a redução da violência. Com atuação em diversos estados, o Fogo Cruzado fornece informações detalhadas sobre ocorrências armadas, contribuindo para o debate sobre segurança pública e direitos humanos.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|