Em entrevista à CBN Recife na manhã desta terça-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que deve demitir Alessandro Moretti da diretoria-adjunta da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, alvo de investigação da Polícia Federal, que teria sido usada para criar uma estrutura particular de arapongagem no governo Jair Bolsonaro (PL).
Moretti atuou como secretário-executivo da Segurança Pública do DF entre 2019 e 2021, na primeira gestão do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, e é acusado de vazar informações das investigações para Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência.
No governo Bolsonaro, ele foi diretor de Inteligência Policial e de Tecnologia da Informação e Inovação na Polícia Federal, além de diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020.
"Tem um cidadão que é o que está sendo acusado que é o que mantinha relação com o Ramagem, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade, não há clima para esse cidadão continuar na polícia", disse Lula sobre Moretti.
Já na gestão Lula, Moretti foi colocado na estrutura da Abin pelo diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, que já atuou no mesmo cargo no segundo mandato do petista.
No governo, há quem defenda a demissão de toda a cúpula da Abin, incluindo o diretor-geral. Na entrevista, Lula falou da desconfiança da estrutura da agência.
"A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin [Luiz Fernando Corrêa] foi meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso chamei, já que eu não conhecia ninguém da Abin", declarou.
Ao jornalista Paulo Cappelli, do site Metrópoles, a Abin confirmou que Luiz Fernando Corrêa teve um encontro fora da agenda oficial com o antecessor, Alexandre Ramagen (PL-RJ), investigado pela PF por montar uma "Abin paralela".
Segundo a nota enviada ao site, não houve registro do encontro na agenda oficial por falha ou descuido do servidor responsável por dar publicidade às informações.
A Abin ainda afirmou que o encontro, ocorrido no dia 16 de junho foi "protoclar", para que Ramagem cumprimentasse Corrêa pelo cargo - a nomeação, no entanto, ocorreu em 30 de maio.
“A equipe de Relações Institucionais da Abin ou o próprio diretor-geral receberam ou reuniram-se no Congresso com 58 parlamentares em 2023”, disse a assessoria de imprensa da agência, ressaltando que é normal o diretor receber parlamentares, especialmente de deputados que integram a Comissão de Controle de Atividades de Inteligência, da qual Ramagem faz parte.
Asneiras
Lula ainda rebateu a narrativa construída por Jair Bolsonaro (PL), de que ele e os filhos estão sendo "perseguidos" pelo governo atual.
"Ele falou uma grande asneira. O governo brasileiro não manda na PF, muito menos na Justiça. Ou seja, você tem um processo, investigação, decisão de um ministro da suprema corte que mandou fazer busca e apreensão sobre suspeita de utilização com má-fé da Abin, dos quais o delegado que era responsável é ligado à família Bolsonaro. E a PF foi cumprir um mandado da Justiça", explicou Lula.
Em recado a Bolsonaro, o presidente defendeu a "presunção da inocência", mas ressaltou que "quem não deve, não teme".
"O que espero é que as pessoas investigadas tenham direito à presunção da inocência, que eu não tive. E as pessoas que não devem, não temem", afirmou.
Lula ainda lembrou que Bolsonaro "tentou mandar na Polícia Federal". "Ele trocava superintendente a bel prazer, sem nenhum respeito ao que pensava o diretor da PF e o ministro da Justiça", disse Lula.
"E eu acho que a Polícia Federal tem que ser respeitada. E acho que não deve exorbitar e fazer pirotecnia. Que não deve destruir a imagem das pessoas antes de apurar", emendou.
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